domingo, 29 de novembro de 2020

MUDANÇA

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MUDANÇA

Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.

Lucas (9: 53).

Digna de nota a presente passagem de Lucas.

Reparando os samaritanos que Jesus e os discípulos se dirigiam a Jerusalém, negaram-se a recebê-los.

Identificaram-nos pelo aspecto.

Se fossem viajores com destino a outros lugares, talvez lhes oferecessem hospedagem, reconforto, alegria...

Não se verifica, até hoje, o mesmo fenômeno com os verdadeiros continuadores do Mestre?

Jerusalém, para nós, simboliza aqui testemunho de fé.

E basta que alguém se encaminhe resolutamente a semelhante domínio espiritual, para que os homens comuns, desorientados e discutidores, lhe cerrem as portas do coração.

Os descuidados, que rumam na direção dos prazeres fáceis, encontram imediato acolhimento entre os novos samaritanos do mundo.

Mulheres inquietas, homens enganadores e doentes espirituais bem apresentados possuem, por enquanto, na Terra, luzida assembleia de companheiros.

Todavia, quando o aprendiz de Jesus acorda na estrada humana, verificando que é indispensável fornecer testemunho da sua confiança em Deus, com a negação de velhos caprichos, na maior parte das vezes é constrangido a seguir sem ninguém.

É que, habitualmente, em tais ocasiões, o homem se revela modificado.

Não dá a impressão comum da criatura disposta a satisfazer-se.

É alguém resolvido a renunciar aos próprios defeitos e a anulá-los, a golpes de imenso esforço, para esposar a cruz redentora que o identificará com o Mestre Divino...

Por essa razão, mesmo portas adentro do lar, quase sempre não será plenamente reconhecido, porque seu aspecto sofreu metamorfose profunda... Ele mostra o sinal de quem tomou o rumo da definitiva renovação interior para Deus, disposto a consagrar-se ao eterno bem e a soerguer seu coração no grande caminho...

NOSSA REFLEXÃO

Esta mensagem alude a possibilidade de um adepto fervoroso do cristianismo ser estigmatizado por causa de sua crença.

Nosso Mestre previu isto quando nos orientou que o mundo resistiria à sua Doutrina, inclusive na intimidade do lar[i].

O preconceito religioso ainda é muito gritante em nosso planeta que está em transição para um Mundo de Regeneração[ii]. Então, o respeito ao outro e à sua crença  ainda é motivo de campanhas contra o preconceito religioso que ressalta o valor de uma Religião em relação a outra e, às vezes, com manifestações públicas de escárnio em relação a uma Religião que supostamente não segue a Doutrina Cristã.

Mesmo o nosso país sendo laico, a fé religiosa, mais que um móvel para reformas íntimas, muitas vezes servem como plataforma política em uma eleição revelando a total confusão em relação a estabelecer uma sintonia entre Jesus e Mamon[iii].

O Cristo também nos asseverou que:

Aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, Eu também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai que está nos céus; e aquele que me renegar diante dos homens, também Eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus (MATEUS, 32 e 33). Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também dele se envergonhará, quando vier na sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos (LUCAS, 9:26)[iv].

Então, somos convidados nos identificar como espíritas mesmo que não sejamos aceitos como cristãos. Muito já se evoluiu em relação a isso. Como no início do Cristianismo, em que os cristãos foram perseguidos, inclusive entregues aos leões em praça de esportes para diversão da plateia e por isso tinham, em certos lugares, que se reunirem em cavernas, tanto no nascedouro do Espiritismo no Mundo, através de Allan Kardec, como no Brasil, o movimento espírita foi proibido judicialmente, de alguma forma, em algum momento histórico, de publicar seus princípios ou de se reunir para estudos ou práticas espíritas.[v][vi].

Assim, nosso compromisso maior com a Doutrina Espírita, além de estudá-la e divulgá-la, é o de nos reformamos intimamente, a despeito de qualquer rejeição preconceituosa em relação a nossa fé religiosa, seja na intimidade do lar ou em sociedade.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[i] “Vim para lançar fogo à Terra; e que é o que desejo senão que ele se acenda? Tenho de ser batizado com um batismo e quanto me sinto desejoso de que ele se cumpra! Julgais que Eu tenha vindo trazer paz à Terra? Não, Eu vos afirmo; ao contrário, vim trazer a divisão; pois, doravante, se se acharem numa casa cinco pessoas, estarão elas divididas umas contra as outras: três contra duas e duas contra três. O pai estará em divisão com o filho e o filho com o pai, a mãe com a filha e a filha com a mãe, a sogra com a nora e a nora com a sogra” (Lucas, 12:49 a 53). Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, Item 11 a 18.

[ii] Vide sobre a pluralidade dos mundos habitados no Cap.III de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

[iii] Vide o Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon) de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

[iv] A. Kardec faz relação dessa passagem com a nossa conduta relativa a nossa identificação social como espírita em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, itens 15 e 16.

[v] Vide artigo de A. Kardec na Revista Espírita (ano de 1866, mês de março), intitulado “O Espiritismo e a Magistratura – Perseguições judiciais contra o Espiritismo – Cartas de um Juiz de Instrução”.

[vi] Vide, também, artigo de Adriana Gomes, intitulado “Os impressos e a criminalização do espiritismo no Código Penal de 1890: os debates retóricos em periódicos do Rio de Janeiro”, publicado no site da Biblioteca Nacional e disponível em https://www.bn.gov.br/sites/default/files/documentos/producao/pesquisa/2015/impressos-criminalizacao-espiritismo-codigo-penal-1890.pdf. Acesso em 29/11/2020.

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