175
MUDANÇA
Mas
não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.
Lucas (9: 53).
Digna
de nota a presente passagem de Lucas.
Reparando
os samaritanos que Jesus e os discípulos se dirigiam a Jerusalém, negaram-se a
recebê-los.
Identificaram-nos
pelo aspecto.
Se
fossem viajores com destino a outros lugares, talvez lhes oferecessem
hospedagem, reconforto, alegria...
Não se
verifica, até hoje, o mesmo fenômeno com os verdadeiros continuadores do
Mestre?
Jerusalém,
para nós, simboliza aqui testemunho de fé.
E
basta que alguém se encaminhe resolutamente a semelhante domínio espiritual,
para que os homens comuns, desorientados e discutidores, lhe cerrem as portas
do coração.
Os
descuidados, que rumam na direção dos prazeres fáceis, encontram imediato
acolhimento entre os novos samaritanos do mundo.
Mulheres
inquietas, homens enganadores e doentes espirituais bem apresentados possuem,
por enquanto, na Terra, luzida assembleia de companheiros.
Todavia,
quando o aprendiz de Jesus acorda na estrada humana, verificando que é
indispensável fornecer testemunho da sua confiança em Deus, com a negação de
velhos caprichos, na maior parte das vezes é constrangido a seguir sem ninguém.
É que,
habitualmente, em tais ocasiões, o homem se revela modificado.
Não dá
a impressão comum da criatura disposta a satisfazer-se.
É
alguém resolvido a renunciar aos próprios defeitos e a anulá-los, a golpes de
imenso esforço, para esposar a cruz redentora que o identificará com o Mestre
Divino...
Por essa razão, mesmo portas adentro do lar, quase sempre não será plenamente reconhecido, porque seu aspecto sofreu metamorfose profunda... Ele mostra o sinal de quem tomou o rumo da definitiva renovação interior para Deus, disposto a consagrar-se ao eterno bem e a soerguer seu coração no grande caminho...
Esta
mensagem alude a possibilidade de um adepto fervoroso do cristianismo ser estigmatizado
por causa de sua crença.
Nosso Mestre
previu isto quando nos orientou que o mundo resistiria à sua Doutrina,
inclusive na intimidade do lar[i].
O
preconceito religioso ainda é muito gritante em nosso planeta que está em
transição para um Mundo de Regeneração[ii]. Então, o respeito ao
outro e à sua crença ainda é motivo de
campanhas contra o preconceito religioso que ressalta o valor de uma Religião
em relação a outra e, às vezes, com manifestações públicas de escárnio em
relação a uma Religião que supostamente não segue a Doutrina Cristã.
Mesmo
o nosso país sendo laico, a fé religiosa, mais que um móvel para reformas íntimas,
muitas vezes servem como plataforma política em uma eleição revelando a total
confusão em relação a estabelecer uma sintonia entre Jesus e Mamon[iii].
O
Cristo também nos asseverou que:
Aquele
que me confessar e me reconhecer diante dos homens, Eu também o reconhecerei e
confessarei diante de meu Pai que está nos céus; e aquele que me renegar diante
dos homens, também Eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus (MATEUS, 32
e 33). Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem
também dele se envergonhará, quando vier na sua glória e na de seu Pai e dos
santos anjos (LUCAS, 9:26)[iv].
Então,
somos convidados nos identificar como espíritas mesmo que não sejamos aceitos como
cristãos. Muito já se evoluiu em relação a isso. Como no início do Cristianismo,
em que os cristãos foram perseguidos, inclusive entregues aos leões em praça de
esportes para diversão da plateia e por isso tinham, em certos lugares, que se reunirem
em cavernas, tanto no nascedouro do Espiritismo no Mundo, através de Allan
Kardec, como no Brasil, o movimento espírita foi proibido judicialmente, de
alguma forma, em algum momento histórico, de publicar seus princípios ou de se
reunir para estudos ou práticas espíritas.[v][vi].
Assim,
nosso compromisso maior com a Doutrina Espírita, além de estudá-la e divulgá-la,
é o de nos reformamos intimamente, a despeito de qualquer rejeição
preconceituosa em relação a nossa fé religiosa, seja na intimidade do lar ou em
sociedade.
Que
Deus nos ajude.
Domício.
[i] “Vim para lançar fogo à Terra; e que é
o que desejo senão que ele se acenda? Tenho de ser batizado com um batismo e
quanto me sinto desejoso de que ele se cumpra! Julgais que Eu tenha vindo
trazer paz à Terra? Não, Eu vos afirmo; ao contrário, vim trazer a divisão;
pois, doravante, se se acharem numa casa cinco pessoas, estarão elas divididas
umas contra as outras: três contra duas e duas contra três. O pai estará em
divisão com o filho e o filho com o pai, a mãe com a filha e a filha com a mãe,
a sogra com a nora e a nora com a sogra” (Lucas, 12:49 a 53). Vide interpretação
de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, Item 11 a 18.
[ii] Vide sobre a pluralidade dos mundos habitados
no Cap.III de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
[iii] Vide o Cap. XVI (Não se pode servir a
Deus e a Mamon) de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
[iv] A. Kardec faz relação dessa passagem
com a nossa conduta relativa a nossa identificação social como espírita em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, itens 15 e 16.
[v] Vide artigo de A.
Kardec na Revista Espírita (ano de 1866, mês de março), intitulado “O Espiritismo e a
Magistratura – Perseguições judiciais contra o Espiritismo – Cartas de
um Juiz de Instrução”.
[vi] Vide, também, artigo de Adriana Gomes,
intitulado “Os impressos e a criminalização do espiritismo no Código Penal de
1890: os debates retóricos em periódicos do Rio de Janeiro”, publicado no site da Biblioteca Nacional e disponível em https://www.bn.gov.br/sites/default/files/documentos/producao/pesquisa/2015/impressos-criminalizacao-espiritismo-codigo-penal-1890.pdf.
Acesso em 29/11/2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário