domingo, 25 de fevereiro de 2018

NA OBRA REGENERATIVA


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NA OBRA REGENERATIVA
Irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido nalguma ofensa, vós, que sois espirituais, orientai-o com espírito de mansidão, velando por vós mesmos para que não sejais igualmente tentados. Paulo. (GÁLATAS, 6:1.)
Se tentamos orientar o irmão perdido nos cipoais do erro, com aguilhões de cólera, nada mais fazemos que lhe despertar a ira contra nós mesmos.
Se lhe impusermos golpes, revidará com outros tantos.
Se lhe destacamos as falhas, poderá salientar os nossos gestos menos felizes.
Se opinamos para que sofra o mesmo mal com que feriu a outrem, apenas aumentamos a percentagem do mal, em derredor de nós.
Se lhe aplaudimos a conduta errônea, aprovamos o crime.
Se permanecemos indiferentes, sustentamos a perturbação.
Mas se tratarmos o erro do semelhante, como quem cogita de afastar a enfermidade de um amigo doente, estamos, na realidade, concretizando a obra regenerativa.
Nas horas difíceis, em que vemos um companheiro despenhar-se nas sombras interiores, não olvidemos que, para auxiliá-lo, é tão desaconselhável a condenação, quanto o elogio.
Se não é justo atirar petróleo às chamas, com o propósito de apagar a fogueira, ninguém cura chagas com a projeção de perfume.
Sejamos humanos, antes de tudo.
Abeiremo-nos do companheiro infeliz, com os valores da compreensão e da fraternidade.
Ninguém perderá, exercendo o respeito que devemos a todas as criaturas e a todas as coisas.
Situemo-nos na posição do acusado e reflitamos se, nas condições dele, teríamos resistido às sugestões do mal. Relacionemos as nossas vantagens e os prejuízos do próximo, com imparcialidade e boa intenção.
Toda vez que assim procedermos, o quadro se modifica nos mínimos aspectos.
De outro modo será sempre fácil zurzir e condenar, para cairmos, com certeza, nos mesmos delitos, quando formos, por nossa vez, visitados pela tentação.

NOSSA REFLEXÃO
Num planeta de provas e expiações, mas que em fase de seu início de regeneração, é muito comum ocorrerem as tentações. Nem sempre estamos fortemente preparados para enfrentar uma tentação que não é nada mais que uma prova visando nossa evolução. Prova que decerto pedimos. Quantas vezes caímos em nossas provas, nessa existência? Devemos parar para refletir o quanto estagnamos nossa evolução e seremos novamente convidados para passarmos pelas mesmas provas em que fomos malsucedidos.
A exortação de Paulo e esmiuçamento da mesma, por Emmanuel, como a desenhar para nós, são muito pertinentes e nos convidam a pensar na indulgência que devemos ter para com o nosso semelhante.
Sobre a indulgência, temos também bela e claríssima mensagem de José, Espírito Protetor[1]:
A indulgência jamais se ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um serviço; mas, mesmo neste caso, tem o cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras; apenas conselhos e, as mais das vezes, velados. Quando criticais, que consequência se há de tirar das vossas palavras? A de que não tereis feito o que reprovais, visto que estais a censurar; que valeis mais do que o culpado. Ó homens! quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos próprios pensamentos, os vossos próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos? Quando só tereis olhares severos sobre vós mesmos? [...] Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita. – José, Espírito protetor. (Bordeaux, 1863.)
Então, pensemos bem ao ver uma pessoa, particularmente um ente querido, cair em tentação. Que sejamos acolhedores, sem compactuar, mas com espírito de quem não quer cair na mesma queda, ou mesmo consciente que já caímos em tentações mais graves, e façamos como Jesus, quanto à mulher adúltera (João, 8:3 a 11).
Então, sejamos indulgentes, misericordiosos e benevolentes para com nossos semelhantes: sejamos caridosos[2].
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Vide o cap. X (Bem-aventurados os misericordiosos) de O Evangelho Segundo o Espiritismo, e, em particular, a mensagem na íntegra de José, Espírito Protetor (item 16, mensagem voltada para nós espíritas).
[2] Vide O Livro dos Espíritos, questão 886.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

AFIRMAÇÃO ESCLARECEDORA

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AFIRMAÇÃO ESCLARECEDORA
E não quereis vir a mim para terdes vida. - Jesus
JOÃO (5:40.)
Quantos procuram a sublimação da individualidade precisam entender o valor supremo da vontade no aprimoramento próprio.
Os templos e as escolas do Cristianismo permanecem repletos de aprendizes que vislumbram os poderes divinos de Jesus e lhe reconhecem a magnanimidade, caminhando, porém, ao sabor de vacilações cruéis.
Creem e descreem, ajudam e desajudam, organizam e perturbam, iluminam-se na fé e ensombram-se na desconfiança...
É que esperam a proteção do Senhor para desfrutarem o contentamento imediato no corpo, mas não querem ir até ele para se apossarem da vida eterna.
Pedem o milagre das mãos do Cristo, mas não lhe aceitam as diretrizes. Solicitam-lhe a presença consoladora, entretanto, não lhe acompanham os passos. Pretendem ouvi-lo, à beira do lago sereno, em preleções de esperança e conforto, todavia, negam-se a partilhar com ele o serviço da estrada, através do sacrifício pela vitória do bem. Cortejam-no em Jerusalém, adornada de flores, mas fogem aos testemunhos de entendimento e bondade, à frente da multidão desvairada e enferma. Suplicam-lhe as bênçãos da ressurreição, no entanto, odeiam a cruz de espinhos que regenera e santifica.
Podem ir na vanguarda edificante, mas não querem.
Clamam por luz divina, entretanto, receiam abandonar as sombras.
Suspiram pela melhoria das condições em que se agitam, todavia, detestam a própria renovação.
Vemos, pois, que é fácil comer o pão multiplicado pelo infinito amor do Mestre Divino ou; regozijar-se alguém com a sua influência curativa, mas, para alcançar a Vida Abundante de que ele se fez o embaixador sublime, não basta a faculdade de poder e o ato de crer, mas também a vontade perseverante de quem aprendeu a trabalhar e servir, aperfeiçoar e querer.
NOSSA REFLEXÃO
Nós temos procrastinado em mudar interiormente. Já nos sensibilizamos com a necessidade de nos modificar, já nos enchemos de piedade com a dor alheia. No entanto, quando somos chamados aos testemunhos modificadores de nossa intimidade espiritual, vacilamos. Nestas horas de velar com o Cristo, nós “dormimos”, exatamente quando somos chamados por Ele, visando a construção de um mundo melhor (Ele precisa da ajuda de todos), conforme a mudança de nosso mundo interior (E é quando o deixamos “sozinho”). E o Cristo já previu isso, quando precisou da companhia (guarda) de seus mais queridos companheiros no momento de sua hora extrema (no Jardim de Getsêmani); e mesmo tendo Ele exortado que o esperassem enquanto orava, eles dormiram por diversas vezes (Mateus, 26:41). Ele lembrou na oportunidade que devemos nos fortalecer na oração para não cairmos em tentações.
Queremos nos melhorar, mas quantas vezes caímos até mesmo quando acabamos de orar. Ou seja, não estávamos vigilantes, mesmo orando. Sempre tenho esse pensamento (orai e vigiai), que está na ordem inversa a que Jesus proferiu. Ou seja, penso que a oração é um fortalecedor diante das dificuldades, mas nós, em nossas imperfeições, esquecemos muito rápido do momento elevado que a prece propiciou e então, por invigilância, caímos.
Devemos lembrar que somos fortemente influenciados pelos Espíritos que persistem no mal e desejam que outros continuem, também. Então, somos provados pelas suas influências, mas também pelas circunstâncias que nós criamos em nosso passado, desta vida ou de outras anteriores, em virtude de nossos pensamentos e atitudes. Então, oremos, sabendo de nossas fraquezas e sintonias com aqueles que pensam como nós[1].
Que Deus nos ajude.
Domício.




[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 28 (Coletânea de preces espíritas), Itens 21 e 22 (Para resistir a uma tentação).

domingo, 11 de fevereiro de 2018

ESTENDAMOS O BEM

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ESTENDAMOS O BEM
Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.
Paulo. (ROMANOS, 12 :21.)
Repara que, em plena casa da Natureza, todos os elementos, em face do mal, oferecem o melhor que possuem para o reajustamento da harmonia e para a vitória do bem.
Quando o temporal parece haver destruído toda a paisagem, congregam-se as forças divinas da vida para a obra do refazimento.
O Sol envia luz sobre o lamaçal, curando as chagas do chão.
O vento acaricia o arvoredo e enxuga-lhe os ramos.
O cântico das aves substitui a voz do trovão.
A planície recebe a enxurrada, sem revoltar-se, e converte-a em adubo precioso.
O ar que suporta o peso das nuvens e o choque da faísca destruidora, torna à leveza e à suavidade.
A árvore de frondes quebradas ou feridas regenera-se, em silêncio, a fim de produzir novas flores e novos frutos.
A terra, nossa mãe comum, sofre a chuva de granizos e o banho de Iodo, periodicamente, mas nem por isso deixa de engrandecer o bem cada vez mais.
Por que conservaremos, por nossa vez, o fel e o azedume do mal, na intimidade do coração?
Aprendamos a receber a visita da adversidade, educando-lhe as energias para proveito da vida.
A ignorância é apenas uma grande noite que cederá lugar ao sol da sabedoria.
Usa o tesouro de teu amor, em todas as direções, e estendamos o bem por toda parte.
A fonte, quando tocada de lama, jamais se dá por vencida. Acolhe os detritos no próprio seio e, continuando a fluir, transforma-os em bênçãos, no curso de suas águas que prosseguem correndo, com brandura e humildade, para benefício de todos.
NOSSA REFLEXÃO
O bem é superior ao mal nos mais diversos ângulos de vista. Nunca se atemoriza frente às resistências contumazes dos que o enfrentam, mesmo ignorantemente, ou mesmo inocentemente, ou não intencionalmente, como é o caso que Emmanuel dá da natureza.
Á medida que evoluímos, damos sequência aos nossos propósitos voltados ao bem. Todavia, poderemos sempre enfrentar, se estamos num planeta, como o nosso, que passa, na atualidade, de um plano de provas e expiações para outro de regeneração[1], as resistências às nossas atitudes voltadas para o progresso interior, bem como dos nossos semelhantes.
Não devemos, de modo nenhum, nos revoltarmos com o que nos apresenta aos olhos, em termos de imperfeições morais dos companheiros de jornada, nessa existência, pois o Cristo disse que veio para os doentes e não para os sãos (Mateus, 9:10-12)[2]. Allan Kardec se pronuncia a respeito desta passagem de Mateus ao tratar das comunicações mediúnicas. Adverte-nos que se o Cristo tivesse que contar só com Espíritos perfeitos para dar continuidade a sua obra, não teria êxito[3]. Ele estava sempre entre os que, de boa vontade, apesar de sua imperfeição, paravam para lhe escutar e receber uma graça, uma cura, uma consolação. Vide o caso de Zaqueu (o publicano) (Lucas, 19: 1-10)[4]
Que consigamos, mesmo na adversidade, nos manter tranquilos, benevolentes, indulgentes e misericordiosos. Ou seja, sejamos caridosos[5].
Que Deus nos ajude.
Domício.




[1] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. III (Há muitas moradas na casa de meu Pai).
[2] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap, XXIV, itens 11 e 12.
[3] Então, não podemos cobrar perfeição de nenhum médium, pois ele é o primeiro necessitado das comunicações que são ditadas através dele.
[4][4] Temos em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap XVI, esclarecimento sobre o uso providencial da riqueza, em se apresenta o episódio de Zaqueu para nos mostrar que O Mestre estava atento aos homens de boa vontade, que se descobriam e se modificavam ao contato com Ele. Ele sabia o que vinha nos corações dos homens e viu a sinceridade de Zaqueu, um homem que até então era um doente da alma, explorador economicamente dos cidadãos da região.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

GUARDEMOS O CUIDADO

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GUARDEMOS O CUIDADO
Mas nada é puro para os contaminados e infiéis.
Paulo. (TITO, 1: 15.)
O homem enxerga sempre, através da visão interior.
Com as cores que usa por dentro, julga os aspectos de fora.
Pelo que sente, examina os sentimentos alheios.
Na conduta dos outros, supõe encontrar os meios e fins das ações que lhe são peculiares.
Daí, o imperativo de grande vigilância para que a nossa consciência não se contamine pelo mal.
Quando a sombra vagueia em nossa mente, não vislumbramos senão sombras em toda parte.
Junto das manifestações do amor mais puro, imaginamos alucinações carnais.
Se encontramos um companheiro trajado com louvável apuro, pensamos em vaidade.
Ante o amigo chamado à carreira pública, mentalizamos a tirania política.
Se o vizinho sabe economizar com perfeito aproveitamento da oportunidade, fixamo-lo com desconfiança e costumamos tecer longas reflexões em torno de apropriações indébitas.
Quando ouvimos um amigo na defesa justa, usando a energia que lhe compete, relegamo-lo, de imediato, à categoria dos intratáveis.
Quando a treva se estende, na intimidade de nossa vida, deploráveis alterações nos atingem os pensamentos.
Virtudes, nessas circunstâncias, jamais são vistas.
Os males, contudo, sobram sempre.
Os mais largos gestos de bênção recebem lastimáveis interpretações.
Guardemos cuidado toda vez que formos visitados pela inveja, pelo ciúme, pela suspeita ou pela maledicência.
Casos intrincados existem nos quais o silêncio é o remédio bendito e eficaz, porque, sem dúvida, cada espírito observa o caminho ou o caminheiro, segundo a visão clara ou escura de que dispõe.

NOSSA REFLEXÃO
Esta reflexão de Emmanuel caiu forte, e de modo muito claro, em minha consciência. Vi-me na situação de intolerante com os atos das pessoas. Por que sou intolerante? Eis a pergunta. Entendo que é porque ainda vibra em mim o que fui, ou o que fiz no passado e que ainda cala fundo em minha consciência. A gente não perdoa o outro porque ainda não nos perdoamos pelo que fizemos. Eis o caminho para a libertação. Há um pensamento de Emmanuel (por Chico Xavier) que nos ajuda nesse caminho: “Tens paciência contigo e usarás verdadeira tolerância para com os outros”[1].
A luz que venha existir no nosso interior é que nos fará ver uma boa coisa existente em qualquer ser humano, mesmo o mais perverso: ser uma criatura de Deus com destino a ser um Espírito Puro[2]. Portanto, pensando que um dia seremos, lembramos que o mais perverso também o será, e considerando que se hoje não somos perversos, com certeza um dia fomos, seremos bastante tolerantes com qualquer coisa que nos tira de um tônus vibratório de equilíbrio. Lembremos, então, que, se melhoramos, qualquer pessoa também melhorará.
Então, guardemos o cuidado de simplesmente repudiar o mal feito e lembremos que precisamos do perdão de Deus e de os Espíritos, encarnados ou desencarnados, que convivem ou conviveram conosco em eras passadas e que porventura estão conosco, agora, esperando e cobrando a reparação de um mal que tenhamos feito a eles.
De modo especial, na convivência com aqueles(as) que temos afeto pessoal, procuremos sempre ver o bem que são capazes de fazer, e já fizeram por nós, antes de ser intolerantes com eles(as), pois precisamos dessa conduta por parte delas, também.
Deixemos a Luz do Cristo, e de Deus e primeiro lugar, nos alcançar nos momentos de decepção, ofensas, incompreensões, ingratidões sentidas, etc., pois é nessas horas que as pessoas, em especial as mais queridas, mais precisam de nossas aquisições cristãs que estão sendo trabalhadas em nós, no momento. Este pensamento serve primeiro para este que pensa e escreve.
Que Deus e o nosso Anjo Guardião nos ajudem.
Domício.




[1] Vide também, com mais atenção e estudo, o Cap. IX (Bem-aventurados os que são brandos e pacíficos) de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
[2] Vide O Livro dos Espíritos, questões 115 a 127, 634 e 1006.