domingo, 26 de novembro de 2017

PELAS OBRAS

24
PELAS OBRAS
E que os tenhais em grande estima e amor por causa da sua obra.
Paulo. (I Tessalonicenses, 5:13).
Esta passagem de Paulo, na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, é singularmente expressiva para a nossa luta cotidiana.
Todos experimentamos a tendência de consagrar a maior estima apenas àqueles que leiam a vida pela cartilha dos nossos pontos de vista. Nosso devotamento é sempre caloroso para quantos nos esposem os modos de ver, os hábitos enraizados e os princípios sociais; todavia, nem sempre nossas interpretações são as melhores, nossos costumes os mais nobres e nossas diretrizes as mais elogiáveis.
Daí procede o impositivo de desintegração da concha do nosso egoísmo para dedicarmos nossa amizade e respeito aos companheiros, não pela servidão afetiva com que se liguem ao nosso roteiro pessoal, mas pela fidelidade com que se norteiam em favor do bem comum.
Se amamos alguém tão-só pela beleza física, é provável encontremos amanhã o objeto de nossa afeição a caminho do monturo.
Se estimamos em algum amigo apenas a oratória brilhante, é possível esteja ele em aflitiva mudez, dentro em breve.
Se nos consagramos a determinada criatura só porque nos obedeça cegamente, é provável estejamos provocando a queda de outros nos mesmos erros em que temos incidido tantas vezes.
É imprescindível aperfeiçoar nosso modo de ver e de sentir, a fim de avançarmos no rumo da vida Superior.
Busquemos as criaturas, acima de tudo, pelas obras com que beneficiam o tempo e o espaço em que nos movimentamos, porque, um dia, compreenderemos que o melhor raramente é aquele que concorda conosco, mas é sempre aquele que concorda com o Senhor, colaborando com ele, na melhoria da vida, dentro e fora de nós.
NOSSA REFLEXÃO
É certo que estamos no mundo para aprender uns com os outros. Daí, não podemos nos arvorar que só os outros têm que aprender conosco. Devemos ouvir de modo sempre desarmado quanto ao que os outros têm a nos dizer. Tudo tem seu valor e nosso modo de ver, como o de terceiros, pode sim ter significado para o outro, considerando que pode ser um outro olhar sobre o mesmo objeto de análise.
Entretanto, nem tudo é assimilado instantaneamente, nem por nós e nem pelos outros. Então, ao ouvir, sejamos pacientes e analistas sobre o que ouvimos e demos o tempo para que os outros também analisem, no seu tempo, o que falamos para eles.
Emmanuel nos considera que é importante o contrário. E, educacionalmente, é na dialética dos contrários que aprendemos. Refletindo sobre o que nos apresentam, de modo sereno, é que crescemos, seja por que nossa argumentação pode ser feita de modo mais sustentado, seja por que passamos a ver algo analisado de um outro ângulo que antes não víamos. Dessa forma valorizamos a vida em sociedade. Somos sociais para crescermos em comunhão, aprendendo com o outro. De modo amável, seja no serviço, na rua ou em casa, devemos receber o que nos apresenta no sentido de ser colaboradores de uma vida fraterna. Como disse o Espirito Lázaro[1]: Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas nunca se desmente: é o mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade.
Em se tratando de buscar sempre aqueles que concordam conosco, nos lembremos que mesmo que tenhamos uma formação acadêmica relevante, não devemos enaltecê-la como se não tivéssemos mais nada a aprender. Ferdinando, Espírito Protetor, nos adverte: Não vos ensoberbeis do que sabeis, porquanto esse saber tem limites muito estreitos no mundo em que habitais. Suponhamos sejais sumidades em inteligência neste planeta: nenhum direito tendes de envaidecer-vos[2]. Além disso, respeitemos a experiência e o trabalho, em prol da obra do Senhor, daquele nos fala.
Que Deus nos ajude.
Domício.




[1] Vide em o Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 9, Item 6.
[2] Idem, Cap. 7, Item 13.

domingo, 19 de novembro de 2017

ANTE O SUBLIME

23
ANTE O SUBLIME
Não faças tu comum o que Deus purificou.
ATOS, 10:15.
Existem expressões no Evangelho que, à maneira de flores a se salientarem num ramo divino, devem ser retiradas do conjunto para que nos deslumbremos ante o seu brilho e perfume peculiares.
A voz celeste, que se dirige a Simão Pedro, nos Atos, abrange horizontes muito mais vastos que o problema individual do apóstolo.
O homem comum está rodeado de glórias na Terra, entretanto, considera-se num campo de vulgaridades, incapaz de valorizar as riquezas que o cercam.
Cego diante do espetáculo soberbo da vida que lhe emoldura o desenvolvimento, tripudia sobre as preciosidades do mundo, sem meditar no paciente esforço dos séculos que a Sabedoria Infinita utilizou no aperfeiçoamento e na seleção dos valores que o rodeiam.
Quantos milênios terá exigido a formação da rocha?
Quantos ingredientes se harmonizam na elaboração de um simples raio de sol?
Quantos óbices foram vencidos para que a flor se materializasse?
Quanto esforço custou a domesticação das árvores e dos animais?
Quantos séculos terá empregado a Paciência do Céu na estruturação complexa da máquina orgânica em que o Espírito encarnado se manifesta?
A razão é luz gradativa, diante do sublime.
Não te esqueças, meu irmão, de que o Senhor te situou a experiência terrestre num verdadeiro paraíso, onde a semente minúscula retribui na média do infinito por um e onde águas e flores, solo e atmosfera te convidam a produzir, em favor da multiplicação dos Tesouros eternos.
Cada dia, louva o Senhor que te agraciou com as oportunidades valiosas e com os dons divinos.
Pensa, estuda, trabalha e serve.
Não suponhas comum o que Deus purificou e engrandeceu.
NOSSA REFLEXÃO
Tudo na Terra tem um fim útil, pois é criatura de Deus. Os mais insignificantes vermes têm seu lugar na harmonia da natureza. Inclusive nós. Quantos séculos para atingir a perfeição que hoje nos apresenta na forma de frutos, vegetações as mais diversas possíveis. Nada foi feito de um dia para a noite. A Gênese se deu em eras que passaram uma após a outra, conforme consta em A Gênese (Allan Kardec)
Devemos agradecer toda a criação e sermos cuidadosos com ela, para que possamos usufruir de toda a sua peculiaridade.
Hoje em dia há movimentos ativistas e científicos apontando para o fim dos recursos naturais que mantém a própria natureza, incluindo nossos corpos, instrumentos de nossa evolução espiritual.
A natureza nos dá as mais diversas respostas ao desprezo do que nos é sagrado, que conforme Emmanuel assinala, foi “[...] o que Deus purificou e engrandeceu”.
Que sejamos conscientes e ambientalistas, na medida de nosso conhecimento.
Que Deus nos ajude.

Domício.

domingo, 12 de novembro de 2017

A RETRIBUIÇÃO

22
A RETRIBUIÇÃO
"Pedro disse-lhe: e nós que deixamos tudo e te seguimos, que receberemos?"
Mateus (19:27).
A pergunta do apóstolo exprime a atitude de muitos corações nos templos religiosos.
Consagra-se o homem a determinado círculo de fé e clama, de imediato: – Que receberei?
A resposta, porém, se derrama silenciosa, através da própria vida.
Que recebe o grão maduro, após a colheita?
O triturador que o ajuda a purificar-se.
Que prêmio se reserva à farinha alva e nobre?
O fermento que a transforma para a utilidade geral.
Que privilégio caracteriza o pão, depois do forno?
A graça de servir.
Não se formam cristãos para adornos vivos do mundo e sim para a ação regeneradora e santificante da existência.
Outrora, os servidores da realeza humana recebiam o espólio dos vencidos e, com eles, se rodeavam de gratificações de natureza física, com as quais abreviavam a própria morte.
Em Cristo, contudo, o quadro é diverso.
Vencemos, em’ companhia dele, para nos fazermos irmãos de quantos nos partilham a experiência, guardando a obrigação de ampará-los e ser-lhes úteis.
Simão Pedro, que desejou saber qual lhe seria a recompensa pela adesão à Boa Nova, viu, de perto, a necessidade da renúncia. Quanto mais se lhe acendrou a fé, maiores testemunhos de amor à Humanidade lhe foram requeridos. Quanto mais conhecimento adquiriu, a mais ampla caridade foi constrangido, até o sacrifício extremo.
Se deixaste, pois, por devoção a Jesus, os laços que te prendiam às zonas inferiores da vida, recorda que, por felicidade tua, recebeste do Céu a honra de ajudar, a prerrogativa de entender e a glória de servir.
NOSSA REFLEXÃO
Não existe outra benção maior pelo crescimento espiritual que distribuir esse crescimento a tantos que nos rodeiam. Eis um exemplo, como o é, o de uma profissão adquirida. Um profissional ao receber seu diploma se sente ávido de por em prática o que aprendeu, não só a serviço da comunidade em geral, como aos colegas de profissão.
A natureza, como aponta Emmanuel, apresenta a mesma característica: um fruto ao ficar maduro, anseia que seja logo consumido, senão apodrece.
Então, da mesma forma, devemos ser gratos por ter sido encaminhado ao conhecimento espírita e nos desdobrarmos em sua militância. Isso será tão somente um treinamento para missões mais elevadas. Lembrando que quando o trabalhador está pronto, o trabalho aparece. Devemos estar sempre na expectativa do convite ao trabalho[1].
Que Deus nos ajude a não vacilar quando o trabalho aparecer.
Domício.



[1]Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 20 (Os Trabalhadores da última hora).

domingo, 5 de novembro de 2017

MAIORIDADE

21
MAIORIDADE
           O menor é abençoado pelo maior.
Paulo. (HEBREUS, 7:7).
Em todas as atividades da vida, há quem alcance a maioridade natural entre os seus parentes, companheiros ou contemporâneos.
Há quem se faz maior na experiência física, no conhecimento, na virtude ou na competência.
De modo geral, contudo, aquele que se vê guindado a qualquer nível de superioridade costuma valer-se da situação para esquecer seu débito para com o espírito comum.
Muitas vezes quem atinge a maioridade financeira torna-se avarento, quem encontra o destaque científico faz-se vaidoso e quem se vê na galeria do poder abraça o orgulho vão.
A Lei da Vida, porém, não recomenda o exclusivismo e a separatividade.
Segundo os princípios divinos, todo progresso legítimo se converte em bênçãos para a coletividade inteira.
A própria Natureza oferece lições sublimes nesse sentido.
Cresce a árvore para a frutificação.
Cresce a fonte para benefício do solo.
Se cresceste em experiência ou em elevação de qualquer espécie, lembra-te da comunhão fraternal com todos.
O Sol, com seus raios de luz, não desampara a furna barrenta e não desdenha o verme.
Desenvolvimento é poder.
Repara como empregas as vantagens de que a tua existência foi acrescentada. O Espírito Mais Alto de quantos já se manifestaram na Terra aceitou o sacrifício supremo, a fim de auxiliar a todos, sem condições.
Não te esqueças de que, segundo o Estatuto Divino, o "menor é abençoado pelo maior".
NOSSA REFLEXÃO
Essa mensagem está bem relacionada com duas mensagens de Emmanuel: uma do livro Caminho, Verdade e Vida, intitulada “Prática do Bem”, e outra deste livro, intitulada “Apascenta”, que podem ser buscadas a partir do link, clicando em seus títulos.
Somos devedores da amorosidade do Cristo, que em sua Maioridade, foi indulgente com nossas fraquezas e vacilações. Desceu até nós e nos ensinou a sermos melhores filhos de Deus, apontando-nos o caminho da felicidade.
Em nossa caminhada terráquea, somos convidados, por nossos conhecimentos adquiridos, a se colocar, com humildade, entre aqueles que Deus colocou entre nós para sermos seus orientadores e líderes. Não cabe, a nós, humilhá-los pela nossa condição de superioridade intelectual ou mesmo social (conseguida, às vezes, por herança). Hoje somos superiores, amanhã poderemos ser inferiores, na escala social (mesmo sendo intelectualmente superior – lembrando dos sábios antigos que se tornavam escravos de um povo conquistador do seu).
Sobre isso, nos fala o Espírito François-Nicolas-Madeleine em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, “Sedes Perfeito”:
9. A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade. Deus, aliás, lhes prova constantemente que não é nem uma nem outra coisa, pois que deles a retira quando lhe apraz. Se fosse um privilégio inerente às suas personalidades, seria inalienável. A ninguém cabe dizer que uma coisa lhe pertence, quando lhe pode ser tirada sem seu consentimento. Deus confere a autoridade a título de missão, ou de prova, quando o entende, e a retira quando julga conveniente. [...] O superior, que se ache compenetrado das palavras do Cristo, a nenhum despreza dos que lhe estejam submetidos, porque sabe que as distinções sociais não prevalecem às vistas de Deus. Ensina-lhe o Espiritismo que, se eles hoje lhe obedecem, talvez já lhe tenham dado ordens, ou poderão dar-lhas mais tarde, e que ele então será tratado conforme os haja tratado, quando sobre eles exercia autoridade.
Então, ao tratar qualquer pessoa, tratemos com o espírito de que, se já sabemos mais, temos algo a oferecer no sentido de trazê-lo para junto de nós e não o contrário. Façamos igual a natureza: doemos o que temos, sem condicionar o recebedor a gratidão ou mesmo compreensão sobre aquilo que estamos a oferecer. Jesus, assim o fez, assim como tantos outros que aqui veio até nós, como lembra Emmanuel, nesta mensagem: “O Espírito Mais Alto de quantos já se manifestaram na Terra aceitou o sacrifício supremo, a fim de auxiliar a todos, sem condições”.
Que Deus nos ajude.

Domício.