domingo, 26 de maio de 2019

PERSISTE E SEGUE


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PERSISTE E SEGUE
Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados.
Paulo (Hebreus,12 :12).
O lavrador desatento quase sempre escuta as sugestões do cansaço. Interrompe o serviço, em razão da tempestade, e a inundação lhe rouba a obra começada e lhe aniquila a coragem incipiente. Descansa, em virtude dos calos que a enxada lhe ofereceu, e os vermes se incumbem de anular-lhe o serviço.
Levanta as mãos, no princípio, mas não sabe “tornar a levantá-las”, na continuidade da tarefa, e perde a colheita.
O viajor, por sua vez, quando invigilante, não sabe chegar convenientemente ao termo da jornada. Queixa-se da canícula e adormece na penumbra de ilusórios abrigos, onde inesperados perigos o surpreendem. De outras vezes, salienta a importância dos pés ensanguentados e deita-se às margens da senda, transformando-se em mendigo comum.
Usa os joelhos sadios, não se dispondo, todavia, a mobilizá-los quando desconjuntados e feridos, e perde a alegria de alcançar a meta na ocasião prevista.
Assim acontece conosco na jornada espiritual.
A luta é o meio.
O aprimoramento é o fim.
A desilusão amarga.
A dificuldade complica.
A ingratidão dói.
A maldade fere.
Todavia, se abandonarmos o campo do coração por não sabermos levantar as mãos, de novo, no esforço persistente, os vermes do desânimo proliferarão, precípites, no centro de nossas mais caras esperanças, e se não quisermos marchar, de joelhos desconjuntados, é possível sejamos retidos pela sombra de falsos refúgios, durante séculos consecutivos.
NOSSA REFLEXÃO
A nossa maior missão, como reencarnado, é evoluir. Para tanto, temos as missões secundárias, provas e expiações que nos colocam frente a nossa capacidade de superação ou de queda[1].
Então, em qualquer tarefa, seja a mais simples, nos deparamos com a oportunidade de aprender, pois nos encontramos num mundo em que dependemos não só de nossa vontade. Vivemos num ambiente, às vezes adverso, convivendo com pessoas cooperadoras ou não. Nesse contexto, nem tudo sai como planejamos. Somos convidados a persistir, mas repensando nosso planejamento, considerando que temos que contar com uma ou mais pessoas para darmos cabo de nossa tarefa, às vezes projetada inicialmente por nós, às vezes planejada por quem está nos liderando, se for um trabalho acadêmico ou profissional.
Os fracassos, a falta de material para darmos conta da tarefa, nossa ou de um grupo, pode motivar, em nós, um desânimo. Porém, diz Emmanuel, nessa mensagem, ora refletida, “[...] se abandonarmos o campo do coração por não sabermos levantar as mãos, de novo, no esforço persistente, os vermes do desânimo proliferarão”.
Devemos ter em mente que nunca estamos a sós com os nossos problemas. Se estamos com a incumbência de executar um projeto, o mais simples que seja, busquemos as soluções quando os problemas surgirem e tenhamos em mente que quem busca, sempre acha, pois como o Cristo nos ensinou: “Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; porquanto, quem pede recebe e quem procura acha e, àquele que bata à porta, abrir-se-á” (Mateus, 7: 7-8)[2].
Sejamos persistentes e sigamos esperançosos em dias melhores.
Que Deus nos ajude.
Domício.

[1] Questão nº 132 de O Livro dos Espíritos: Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.
[2] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 25 (Buscai e Achareis)

domingo, 19 de maio de 2019

COURAÇA DA CARIDADE


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COURAÇA DA CARIDADE
Sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e da caridade.
Paulo (I TESSALONICENSES, 5:8).
Paulo foi infinitamente sábio quando aconselhou a couraça da caridade aos trabalhadores da luz.
Em favor do êxito desejável na missão de amor a que nos propomos, em companhia do Cristo, antes de tudo é indispensável preservar o coração.
E se não agasalharmos a fonte do sentimento nas vibrações do ardente amor, servidos por uma compreensão elevada nos círculos da experiência santificante em que nos debatemos na arena terrestre, é muito difícil vencer na tarefa que o Senhor nos confia.
A irritação permanente, diante da ignorância, adia as vantagens do ensino benéfico.
A indignação excessiva, perante a fraqueza, extermina os germes frágeis da virtude.
A ira frequente, no campo da luta, pode multiplicar-nos os inimigos sem qualquer proveito para a obra a que nos devotamos.
A severidade demasiada, à frente de pessoas ainda estranhas aos benefícios da disciplina, faz-se acompanhar de efeitos contraproducentes por escassez de educação do meio em que se manifesta.
Compreendendo, assim, que o cristão se acha num verdadeiro estado de luta, em que, por vezes, somos defrontados por sugestões da irritação intemperante, da indignação inoportuna, da ira injustificada ou da severidade destrutiva, o apóstolo dos gentios receitou-nos a couraça da caridade, por sentinela defensiva dos órgãos centrais de expressão da vida.
É indispensável armar o coração de infinito entendimento fraterno para atender ao ministério em que nos empenhamos.
A convicção e o entusiasmo da fé bastam para começar honrosamente, mas para continuar o serviço, e terminá-lo com êxito, ninguém poderá prescindir da caridade paciente, benigna e invencível.
NOSSA REFLEXÃO
Quando nos candidatamos ao serviço iluminativo do estudo, explanação da doutrina que abraçamos e aos implicativos da caridade individual e social, nos confrontamos com a barreira da má vontade, da crítica pela crítica, das incompreensões e daquela outra representada por nós mesmos, qual seja a nossa imperfeição.
Parafraseando um jargão novelístico e ampliando o pensamento oriundo dele, dizemos que devemos ter muita calma em qualquer hora. Pois todo trabalho edificante é edificante por ele mesmo, considerando todas as suas implicações para a nossa evolução espiritual. Auxiliamos os irmãos, mas num trabalho de permanente auxilio e autossuperação espiritual. Diríamos que é um aprendizado em serviço. Afinal, o Cristo não conta, na Terra, apenas com Espíritos de alta envergadura espiritual. Em sua maioria, os seus colaboradores são Espíritos que querem assimilar sua Doutrina e praticá-la. Desse modo, no trabalho da caridade, as críticas, positivas ou negativas, proferidas pelos beneficiários, como pelos que auxiliam ou observam o que fazemos, devem ser esperadas. Mas, conforme o Espírito Emmanuel,
Se te encontras em serviço edificante, se tua consciência te aprova, que te importam as opiniões levianas ou insinceras? Cumpre o teu dever e caminha. Examina o material dos ignorantes e caluniadores como proveitosa advertência e recorda-te de que não é possível conciliar o dever com a leviandade, nem a verdade com a mentira.[1]
Assim, se quisermos ser perfeitos no que fazemos, na seara do Mestre, como espíritas, qual deve ser a nossa postura, senão aquela de um bom espírita para o qual as instruções da Doutrina Espírita “[...] são como a semente que cai em terra boa e dá frutos?[2]
Devemos então, ao nos candidatar ao trabalho cristão, considerar o que Emmanuel nos ensina nessa mensagem, ora refletida: “A convicção e o entusiasmo da fé bastam para começar honrosamente, mas para continuar o serviço, e terminá-lo com êxito, ninguém poderá prescindir da caridade paciente, benigna e invencível”.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Extraído do livro Caminho, Verdade e Vida (FEB) de Emmanuel, mensagem de nº 80. Vide a mensagem e nossa reflexão em Opiniões.
[2] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, itens 5 e 6.

domingo, 12 de maio de 2019

A PALAVRA DA CRUZ


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A PALAVRA DA CRUZ
Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós que somos salvos é o poder de Deus.
Paulo (I Coríntios, 1:18).
A mensagem da cruz é dolorosa em todos os tempos.
Do Calvário desceu para o mundo uma voz, a princípio desagradável e incompreensível.
No martirológio do Mestre situavam-se todos os argumentos de negação superficialmente absoluta.
O abandono completo dos mais amados.
A sede angustiosa.
Capitulação irremediável.
Perdão espontâneo que expressava humilhação plena.
Sarcasmo e ridículo entre ladrões.
Derrota sem defensiva.
Morte infamante.
Mas o Cristo usa o fracasso aparente para ensinar o caminho da Ressurreição eterna, demonstrando que o "eu" nunca se dirigirá para Deus, sem o aprimoramento e sem a sublimação de si próprio.
Ainda hoje, a linguagem da cruz é loucura para os que permanecem interminavelmente no círculo de reencarnações de baixo teor espiritual; semelhantes criaturas não pretendem senão mancomunar-se com a morte, exterminando as mais belas florações do sentimento. Dominam a muitos, incapazes do próprio domínio, ajuntam tesouros que a imprudência desfaz e tecem fios escuros de paixões obcecantes em que sucumbem, vezes sem conto, à maneira da aranha encarcerada nas próprias teias.
Repitamos a mensagem da cruz ao irmão que se afoga na carne e ele nos classificará à conta de loucos, mas todos nós, que temos sido salvos de maiores quedas pelos avisos da fé renovadora, estamos informados de que, nos supremos testemunhos, segue o discípulo para o Mestre, e o Mestre subiu para o Pai, na glória oculta da crucificação.
NOSSA REFLEXÃO
O Mestre, como a anunciar seu martirológio, anteriormente ao Calvário, já afirmava que a redenção não se faz sem sacrifício, como disse em várias passagens de sua vida messiânica:
“E quem quer que não carregue a sua cruz e me siga, não pode ser meu discípulo. Assim, aquele dentre vós que não renunciar a tudo o que tem não pode ser meu discípulo” (Lucas, 14:27 e 33)[1];
“Se alguém quiser vir nas minhas pegadas, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me; porquanto, aquele que se quiser salvar a si mesmo, perder-se-á; e aquele que se perder por amor de mim e do Evangelho se salvará. — Com efeito, de que serviria a um homem ganhar o mundo todo e perder-se a si mesmo? (Marcos, 8:34 a 36)[2].
Desfazer-se do que é material e espiritual, daquilo que chega a pesar quando a consciência é ouvida, não é nada fácil. É uma cruz pesada. Dói...[3]
Tudo é transitório nessa vida. O objetivo da encarnação é o progresso espiritual[4], e não tão somente o progresso intelectual, que ajuda aquele, ou o acúmulo de propriedades e bens de consumo, que trazem alegrias, segurança e descanso, mas muitas vezes, a tristeza, a decepção e a injustiça da ingratidão.
Como disse Emmanuel, por Chico Xavier:
Valiosa é a escassez, porque traz a disciplina. Preciosa é a abundância, porque multiplica as formas do bem. Uma e outra, contudo, perecerão algum dia. Na esfera carnal, a glória e a miséria constituem molduras de temporária apresentação. Ambas passam. Somente Jesus e a Lei Divina perseveram para nós outros, como portas de vida e redenção[5].
Ou seja, seguir o Mestre Jesus é mais auspicioso, pois ele é o “Caminho, e a Verdade, e a Vida” (João, 14: 6), como Ele mesmo nos falou.
Sigamos, então, tornando a nossa cruz mais leve.
Que Deus nos ajude.
Domício.

[1] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, Item 3.
[2] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, Item 19.
[3] Uma boa reflexão pode-se fazer a esse respeito na passagem evangélica que o Mestre é perguntado por um jovem rico sobre “o que é preciso fazer para alcançar a vida eterna” (Mateus, 19: 16-22). Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVI, Item 7.
[4] Vide O Livro dos Espíritos, questão 132.
[5] Extraído da mensagem intitulada “Transitoriedade” que compõe o livro Caminho, Verdade e Vida. Vide-a em sua íntegra, seguida de nossa reflexão.

domingo, 5 de maio de 2019

ALÉM DOS OUTROS


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ALÉM DOS OUTROS
Não fazem os publicanos também o mesmo? Jesus.
Mateus (5:46).
Trabalhar no horário comum irrepreensivelmente, cuidar dos deveres domésticos, satisfazer exigências legais e exercitar a correção de proceder, fazendo o bastante na esfera das obrigações inadiáveis, são tarefas peculiares a crentes e descrentes na senda diária.
Jesus, contudo, espera algo mais do discípulo.
Correspondes aos impositivos do trabalho diuturno, criando coragem, alegria e estímulo, em derredor de ti?
Sabes improvisar o bem, onde outras pessoas se mostraram infrutíferas?
Aproveitas, com êxito, o material que outrem desprezou por imprestável?
Aguardas, com paciência, onde outros desesperaram?
Na posição de crente, conservas o espírito de serviço, onde o descrente congelou o espírito de ação?
Partilhas a alegria de teus amigos, sem inveja e sem ciúme, e participas do sofrimento de teus adversários, sem falsa superioridade e sem alarde?
Que dás de ti mesmo no ministério da caridade?
Garantir o continuísmo da espécie, revelar utilidade geral e adaptar-se aos movimentos da vida são característicos dos próprios irracionais.
O homem vulgar, de muitos milênios para cá, vem comendo e bebendo, dormindo e agindo sem diferenças fundamentais, na ordem coletiva. De vinte séculos a esta parte, todavia, abençoada luz resplandece na Terra com os ensinamentos do Cristo, convidando-nos a escalar os cimos da espiritualidade superior. Nem todos a percebem, ainda, não obstante envolver a todos. Mas para quantos se felicitam em suas bênçãos extraordinárias, surge o desafio do Mestre, indagando sobre o que de extraordinário estamos fazendo.
NOSSA REFLEXÃO
Essa exortação do Cristo, que serviu de base para Emmanuel escrever essa mensagem, através da psicografia de Chico Xavier, está grafada e interpretada por A. Kardec no Cap. XII (Amai os inimigos) de O Evangelho Segundo o Espiritismo. No entanto, Emmanuel amplia o pensamento do Cristo, daquele momento, para as atividades comuns de nossas vidas.
A pergunta é: o que nos diferencia, nós, cristãos, dos descrentes, ou de outros pensamentos religiosos? O que nos diferencia dos demais? Se somos espíritas, o que nos diferencia dos demais cristãos, no que diz respeito ao pensamento e à prática cristã?
Somos convidados a rever nossas mudanças espirituais, nesta existência, tendo se filiado ao cristianismo. E eu destaco, particularmente, os espíritas.
É verdade que as mudanças interiores são mínimas e a gente quase não as identifica. Pensando no tempo que somos espíritas, o que mudamos na relação com os outros? E os nossos pensamentos, como estão? Como se encontra nossa vigilância? Temos consciência que não é fácil mudar. Mas, com certeza, analisando o que já vivemos e o que imaginamos viver, temos consciência daquilo que fizemos de mal com o nosso pensar e proceder, mesmo já sendo espíritas convictos. Temos um longo caminho a percorrer, mas caminhável, se tivermos consciência de qual é o Verdadeiro Caminho. Isto já temos: o Cristo. Como diz Emmanuel, em outra publicação, através de Chico Xavier:

O tempo, implacável dominador de civilizações e homens, marcha apenas com 60 minutos por hora, mas nunca se detém. Guardemos a lição e caminhemos para diante, com a melhoria de nós mesmos. Devagar, mas sempre. Emmanuel (In: Palavras de Emmanuel).
Cada mensagem lida, de cunho cristão, é um estímulo ao progresso, é um recomeçar, é sentir a necessidade de se esforçar mais[1]. O estudo e a reflexão são a porta da libertação espiritual. Que sejamos filósofos a perguntar sobre nossa vida, sobre nosso futuro, sobre nossos pensamentos e atitudes em relação aos nossos irmãos, independentemente de raça, credo, sexo e orientação sexual. Que sejamos espíritas! Que sejamos cristãos!
Que Deus nos ajude.
Domício.

Ps. Ofereço aos amigos leitores e reflexivos desta página uma poesia de L. Angel sobre a reforma íntima.

A DIFICULDADE DE MUDAR
L. Angel     27/09/2018
Por que é difícil mudar,
Se isso é o que queremos?
É que o nosso homem velho está a nos cobrar
Fidelidade aos comportamentos que outrora tivemos.
Assim, o bem que eu quero fazer,
Esse, eu não faço.
Mas o mal que não quero cometer,
Eu o realizo, não o rechaço*.
O esforço da reforma íntima
É o que nos torna verdadeiros cristãos,
Neste planeta de prova e expiação.
Mas desejar ser uma alma boníssima
É um passo para a perfeição espiritual,
Nossa meta, nosso ideal.
* Paulo (Romanos 7:19).



[1] Como Allan Kardec nos esclareceu: “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII – Sede perfeitos, Item 4).