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PERSISTE E SEGUE
Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e
os joelhos desconjuntados.
Paulo
(Hebreus,12 :12).
O lavrador desatento quase sempre escuta as sugestões do
cansaço. Interrompe o serviço, em razão da tempestade, e a inundação lhe rouba
a obra começada e lhe aniquila a coragem incipiente. Descansa, em virtude dos
calos que a enxada lhe ofereceu, e os vermes se incumbem de anular-lhe o
serviço.
Levanta as mãos, no princípio, mas não sabe “tornar a
levantá-las”, na continuidade da tarefa, e perde a colheita.
O viajor, por sua vez, quando invigilante, não sabe chegar convenientemente
ao termo da jornada. Queixa-se da canícula e adormece na penumbra de ilusórios
abrigos, onde inesperados perigos o surpreendem. De outras vezes, salienta a importância
dos pés ensanguentados e deita-se às margens da senda, transformando-se em
mendigo comum.
Usa os joelhos sadios, não se dispondo, todavia, a
mobilizá-los quando desconjuntados e feridos, e perde a alegria de alcançar a meta
na ocasião prevista.
Assim acontece conosco na jornada espiritual.
A luta é o meio.
O aprimoramento é o fim.
A desilusão amarga.
A dificuldade complica.
A ingratidão dói.
A maldade fere.
Todavia,
se abandonarmos o campo do coração por não sabermos levantar as mãos, de novo,
no esforço persistente, os vermes do desânimo proliferarão, precípites, no
centro de nossas mais caras esperanças, e se não quisermos marchar, de joelhos
desconjuntados, é possível sejamos retidos pela sombra de falsos refúgios,
durante séculos consecutivos.
NOSSA REFLEXÃO
A nossa maior missão, como reencarnado, é evoluir. Para
tanto, temos as missões secundárias, provas e expiações que nos colocam frente
a nossa capacidade de superação ou de queda[1].
Então, em qualquer tarefa, seja a mais simples, nos
deparamos com a oportunidade de aprender, pois nos encontramos num mundo em que
dependemos não só de nossa vontade. Vivemos num ambiente, às vezes adverso,
convivendo com pessoas cooperadoras ou não. Nesse contexto, nem tudo sai como
planejamos. Somos convidados a persistir, mas repensando nosso planejamento,
considerando que temos que contar com uma ou mais pessoas para darmos cabo de
nossa tarefa, às vezes projetada inicialmente por nós, às vezes planejada por
quem está nos liderando, se for um trabalho acadêmico ou profissional.
Os fracassos, a falta de material para darmos conta da
tarefa, nossa ou de um grupo, pode motivar, em nós, um desânimo. Porém, diz
Emmanuel, nessa mensagem, ora refletida, “[...] se abandonarmos o campo do
coração por não sabermos levantar as mãos, de novo, no esforço persistente, os
vermes do desânimo proliferarão”.
Devemos ter em mente que nunca estamos a sós com os nossos
problemas. Se estamos com a incumbência de executar um projeto, o mais simples
que seja, busquemos as soluções quando os problemas surgirem e tenhamos em
mente que quem busca, sempre acha, pois como o Cristo nos ensinou: “Pedi e se
vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; porquanto, quem
pede recebe e quem procura acha e, àquele que bata à porta, abrir-se-á”
(Mateus, 7: 7-8)[2].
Sejamos persistentes e sigamos esperançosos em dias
melhores.
Que Deus nos ajude.
Domício.
[1] Questão nº 132 de O Livro dos Espíritos: Qual o objetivo da
encarnação dos Espíritos? “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de
fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas,
para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da
existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a
encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca
na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento,
de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele
ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.
[2] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 25 (Buscai e Achareis)