domingo, 26 de janeiro de 2020

NO CAMPO SOCIAL


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NO CAMPO SOCIAL
Ele respondeu e disse-lhes: - Dai-lhes vós de comer...
Marcos (6:37).
Diante da multidão fatigada e faminta, Jesus recomenda aos apóstolos: Dai-lhes vós de comer.
A observação do Mestre é importante, quando realmente poderia Ele induzi-los a recriminar a multidão pela imprudência de uma jornada exaustiva até o monte, sem a garantia do farnel.
O Mestre desejou, porém, gravar no espírito dos aprendizes a consagração deles ao serviço popular.
Ensinou que aos cooperadores do Evangelho, perante a turba necessitada, compete tão-somente um dever - o da prestação de auxílio desinteressado e fraternal.
Naquela hora do ensinamento inesquecível, a fome era naturalmente do corpo, vencido de cansaço, mas, ainda e sempre, vemos a multidão carente de amparo, dominada pela fome de luz e de harmonia, vergastada pelos invisíveis azorragues da discórdia e da incompreensão.
Os colaboradores de Jesus são chamados, não a obscurecê-la com o pessimismo, não a perturbá-la com a indisciplina ou a imobilizá-la com o desânimo, mas sim a nutri-la de esclarecimento e paz, fortaleza moral e sublime esperança.
Se te encontras diante do povo, com o anseio de ajudá-lo, se te propões contribuir na regeneração do campo social, não te percas em pregações de rebelião e desespero. Conserva a serenidade e alimenta o próximo com o teu bom exemplo e com a tua boa palavra.
Não olvides a recomendação do Senhor: “Dai-lhes vós de comer.”
NOSSA REFLEXÃO
O ser humano tem muitas necessidades e uma delas, que dói muito, é a fome. Neste mundo, o que mais temos são pessoas passando fome. No entanto, agregada à fome do pão material, existe a fome do pão espiritual. O ser, saciado do pão espiritual, encontra forças para seguir em busca do pão material.
Uma prática muito comum nos trabalhos sociais cristãos, notadamente os espíritas que conhecemos e já vivenciamos, é dar o pão material para depois oferecer o pão espiritual na forma de uma leitura e explanação de uma mensagem, seguidas de uma conversa com os beneficiários da ação social.
Assim, copiamos o modelo sugerido por Jesus Cristo quando da ocasião do Sermão da Montanha.
Emmanuel corrobora essa ideia quando nos assinala, nesta mensagem que ora refletimos:
Se te encontras diante do povo, com o anseio de ajudá-lo, se te propões contribuir na regeneração do campo social, não te percas em pregações de rebelião e desespero. Conserva a serenidade e alimenta o próximo com o teu bom exemplo e com a tua boa palavra.
Sejamos coerentes com o Mestre nas ações sociais espíritas. Sugiro a leitura e reflexão das Instruções dos Espíritos reunidas no Cap. XIII, itens 11-16, do O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Que Deus nos ajude.
Domício.

domingo, 19 de janeiro de 2020

NA ESFERA ÍNTIMA


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NA ESFERA ÍNTIMA
Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons dispensadores da multiforme graça de Deus.
I Pedro (4:10).
A vida é máquina divina da qual todos os seres são peças importantes, e a cooperação é o fator essencial na produção da harmonia e do bem para todos.
Nada existe sem significação.
Ninguém é inútil.
Cada criatura recebeu determinado talento da Providência divina para servir no mundo e para receber do mundo o salário da elevação.
Velho ou moço, com saúde do corpo ou sem ela, recorda que é necessário movimentar o dom que recebeste do Senhor, para avançares na direção da Grande Luz.
Ninguém é tão pobre que nada possa dar de si mesmo.
O próprio paralítico, atado ao catre da enfermidade, pode fornecer aos outros a paciência e a calma, em forma de paz e resignação.
Não olvides, pois, o trabalho que o Céu te conferiu e foge à preocupação de interferir na tarefa do próximo, a pretexto de ajudar.
Quem cumpre o dever que lhe é próprio, age naturalmente a benefício do equilíbrio geral.
Muitas vezes, acreditando fazer mais corretamente que os outros o serviço que lhes compete, não somos senão agentes de desarmonia e perturbação.
Onde estivermos, atendamos com diligência e nobreza à missão que a vida nos oferece.
Lembra-te de que as horas são as mesmas para todos e de que o tempo é o nosso silencioso e inflexível julgador.
Ontem, hoje e amanhã são três fases do caminho único.
Todo dia é ocasião de semear e colher.
Observemos, assim, a tarefa que nos cabe e recordemos a palavra do Evangelho: - “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons dispensadores da multiforme graça de Deus", para que a graça de Deus nos enriqueça de novas graças.
NOSSA REFLEXÃO
Cada um de nós tem um dom, um bem ou um trabalho estruturado em bases de cooperação, dado que ninguém faz algo sozinho. Mesmo quando não temos a companhia de encarnados, somos agraciados pela companhia de almas bondosas que nos ajudam a chegar ao fim de um trabalho de reflexão sobre algo pensado ou pesquisado para o bem de todos que sofrem a influência de nosso trabalho.
Então, estamos sempre a fazer parte de uma equipe de Espíritos que se entreajudam para chegar a um resultado para o bem de uma coletividade, seja empresarial, social ou comunitária. Cada um faz a sua parte, como seus dons lhe propiciam, sua experiência espiritual dá suporte, a Coordenação do trabalho disponibiliza os meios concretos e necessários para a realização da obra ou serviço. Desta forma, uma colaboração deve ser útil, educativa e não interventora e castradora. Emmanuel faz a seguinte exortação, nesta mensagem que ora refletimos:

Não olvides, pois, o trabalho que o Céu te conferiu e foge à preocupação de interferir na tarefa do próximo, a pretexto de ajudar. Quem cumpre o dever que lhe é próprio, age naturalmente a benefício do equilíbrio geral. Muitas vezes, acreditando fazer mais corretamente que os outros o serviço que lhes compete, não somos senão agentes de desarmonia e perturbação.

Assim, cada um, com o seu dom ou talento, adquirido graças a Deus ou com a ajuda de Deus, contribui a para a obra de todos.
Nesse tocante, devemos refletir sobre a relação entre os superiores e inferiores em uma equipe de trabalho, pois todo momento deve ser momento de servir e de crescer individual ou coletivamente. Sobre isso, o Espírito François-Nicolas-Madeleine, Cardeal Morlot, nos disserta:
A autoridade, tanto quanto a riqueza, é uma delegação de que terá de prestar contas aquele que se ache dela investido. Não julgueis que lhe seja ela conferida para lhe proporcionar o vão prazer de mandar; nem, conforme o supõe a maioria dos potentados da Terra, como um direito, uma propriedade.[1]

Emmanuel, por sua vez, também colaborador da Codificação Espírita, faz uma reflexão, grafada no livro Caminho, Verdade e Vida, sobre o aproveitamento das oportunidades no dia a dia de nossas vidas[2].
Então, todo dia é dia de servir e ser servido. Quem serve bem, também é bem servido e, assim, todos crescem e os beneficiários do serviço agradecem.
Que Deus nos ajude a sempre nos manter com o espírito de colaboração para que, cada vez, mais, sejamos agraciados com outros dons.
Domício.

Ps.: compartilho uma poesia de L. Angel sobre os talentos ou dons.

TALENTOS DOADOS, TALENTOS DOBRADOS
L. ANGEL    22/07/10
Talentos que se construiu,
Nas oportunidades de ir e vir,
Nesta Terra que o Senhor esculpiu,
Servem para ajudar os outros a evoluir.
As experiências exitosas,
Realizadas em vida passada
Possibilita outras ditosas
Nesta vida privilegiada.
Ninguém é perfeito absolutamente.
Eis uma condição do Deus de Amor.
Então, relativamente,
O Espírito é inferior e superior.
Nas diversas relações pessoais,
Doar talentos é uma atitude certa,
Pois o Espírito aprende mais,
Por haurir novas descobertas.

[2] Vide a mensagem e nossa reflexão em Oportunidade.

domingo, 12 de janeiro de 2020

GUARDA A PACIÊNCIA


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GUARDA A PACIÊNCIA
Porque necessitais de paciência, para que, depois de haverdes feito a Vontade de Deus, possais alcançar a promessa.
Paulo (Hebreus, 10: 36)
Provavelmente estarás retendo, há muito tempo, a esperança torturada.
Desejarias que a resposta do mundo aos teus anseios surgisse, imediata, agasalhando-te o coração; entretanto, que paz desfrutarias no triunfo aparente dos próprios sonhos, sem resgatares os débitos que te encadeiam ao problema e à dificuldade?
Como repousar, ante a exigência do credor que nos requisita?
Descansará o delinquente, antes da justa reparação à falta cometida?
Sabes que o destino materializar-te-á os planos de ventura, que a vitória te coroará, enfim, a senda de luta, mas reconheces-te preso ao círculo de certas obrigações.
O lar convertido em forja de angústia...
A instituição a que serves, onde sofres a intromissão da calúnia ou o golpe da crueldade...
O parente a que deves respeito e carinho, do qual recolhes menosprezo e ingratidão...
A rede dos obstáculos...
A conspiração das sombras...
A perseguição gratuita, a enfermidade do corpo, a imposição do ambiente...
Se as provas te encarceram nas grades constringentes do dever a cumprir, tem paciência e satisfaze as obrigações a que te enlaçaste!...
Não renuncies ao trabalho renovador!
Recorda que a Vontade de Deus se expressa, cada hora, nas circunstâncias que nos cercam! Paguemos nossas contas com a sombra, para que a Luz nos favoreça!
Em verdade, alcançaremos a concretização dos nossos projetos de felicidade, mas, antes disso, é necessário liquidar com paciência as dívidas que contraímos perante a Lei.
NOSSA REFLEXÃO
No caminho da vida, é muito comum nós nos impacientarmos com a demora na concretização de um sonho e oramos a Deus, sem muito resultados. Comportamo-nos como um negociante que pede contas ao devedor. Acontece que a nossa conta com Deus está negativa em nosso desfavor.
Tudo tem seu tempo para acontecer. Enquanto esperamos, muito temos a quitarmos com as Leis de Deus. Isto nos lembra o ditado popular do cristão que ora todo dia e todo dia só acontece dificuldades. É quando ele diz: “quanto mais eu rezo, mais assombração aparece”. Neste contexto, devemos, primeiramente, ter em mente o que devemos fazer para que a nossa prece seja eficaz. A. Kardec nos explica, em relação à eficácia da prece, que:

Em geral, o homem apenas vê o presente; ora, se o sofrimento é de utilidade para a sua felicidade futura, Deus o deixará sofrer, como o cirurgião deixa que o doente sofra as dores de uma operação que lhe trará a cura. O que Deus lhe concederá sempre, se ele o pedir com confiança, é a coragem, a paciência, a resignação. Também lhe concederá os meios de se tirar por si mesmo das dificuldades, mediante ideias que fará lhe sugiram os bons Espíritos, deixando-lhe dessa forma o mérito da ação. Ele assiste os que ajudam a si mesmos, de conformidade com esta máxima: “Ajuda-te, que o Céu te ajudará”; não assiste, porém, os que tudo esperam de um socorro estranho, sem fazer uso das faculdades que possui. Entretanto, as mais das vezes, o que o homem quer é ser socorrido por milagre, sem despender o mínimo esforço[1].

Isso nos faz entender que toda prece é ouvida, mas é respondida de acordo com a história espiritual, as necessidades evolutivas e a humildade de quem ora. Ou seja, conforme o merecimento do necessitado. Uma coisa é certa: todos somos assistidos quando oramos. No entanto, a maneira de orar deve ser pensada. Conforme A. Kardec, “repelida só o é a prece do orgulhoso que deposita fé no seu poder e nos seus merecimentos e acredita ser-lhe possível sobrepor-se à vontade do Eterno”[2].
Emmanuel reflete sobre nossa atitude na oração. Refletimos sua mensagem sobre esse tema, a qual está grafada no livro Caminho, Verdade e Vida[3].
Assim, que tenhamos humildade quando orarmos e sejamos conscientes que não podemos ser caprichosos, pois nossa vida objetiva muito mais atender à vontade de Deus que aos nossos caprichos. Só isso é suficiente para que tenhamos todas as nossas vontades úteis realizadas, como Paulo transmitiu aos hebreus.
Luta, humildade e paciência, então, deve ser nosso lema.
Que Deus nos ajude.
Domício.

[2] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, Item 14 (grifos do autor). Vide também, neste capítulo, a instrução do Espírito V. Monod sobre a maneira de orar.
[3] Vide nossa reflexão em Na oração.

domingo, 5 de janeiro de 2020

NÃO REJEITES A CONFIANÇA


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NÃO REJEITES A CONFIANÇA
Não rejeiteis; pois, a vossa confiança, que tem grande e avultado galardão.
Paulo (HEBREUS, 10:35).
Não lances fora a confiança que te alimenta o coração.
Muitas vezes, o progresso aparente dos ímpios desencoraja o fervor das almas tíbias.
A virtude vacilante recua ante o vício que parece vitorioso.
Confrange-se o crente frágil, perante o malfeitor que se destaca, aureolado de louros.
Todavia, se aceitamos Jesus por nosso Divino Mestre, é preciso receber o mundo por nosso educandário.
E a escola nos revela que a romagem carnal é simples estágio do espírito no campo imenso da vida.
Todos os séculos tiveram soberanos dominadores.
Muitos se erigiram em pedestais de ouro e poder, ao preço do sangue e das lágrimas dos seus contemporâneos.
Muitos ganharam batalhas de ódio.
Outros monopolizaram o pão.
Alguns comandaram a vida política.
Outros adquiriram o temor popular.
Entretanto, passaram todos... Por prêmio terrestre às laboriosas empresas a que se consagraram, receberam apenas o sepulcro faustoso em que sobressaem na casa fria da morte.
Não rejeites a fé porque a passagem educativa pela Terra te imponha à visão aflitivos quadros no jogo das convenções humanas.
Lembra-te da imortalidade – nossa divina herança!
Por onde fores, conduze tua alma como fonte preciosa de compreensão e serviço! Onde estiveres, sê generoso, otimista e diligente no bem!
A carne é apenas tua veste.
Luta e aprimora-te, trabalha e realiza com o Cristo, e aguarda, confiante, o futuro, na certeza de que a vida de hoje te espera, sempre justiceira, amanhã.
NOSSA REFLEXÃO
O que podemos ser sem confiança no futuro? Sem fé na Justiça de Deus?
Tudo que nos faz sofrer ou esperar (pois quem não tem paciência, sofre) constitui, fazendo uma analogia com a academia de musculação, pesos, bateria de exercícios, para nos tornarmos moralmente fortes. O sucesso do exercício é a satisfação de ter alcançado o objetivo almejado, que no caso do progresso moral é a felicidade de ter se tornado melhor, mas leve, mais resoluto em todos os projetos seguintes, visando uma distância cada vez menor do Mestre Jesus e de Deus.
Como Emmanuel nos faz refletir, o sucesso dos outros, particularmente dos maus, não deve servir de comparação com os nossos sucessos diminutos ou mesmo fracassos. Devemos ter em mente que o mal é temporário e o bem é eterno. Como somos eternos...
O Espiritismo nos ensina, conforme os ensinos dos Espíritos Superiores, coordenados pelo Espírito de Verdade (Jesus)[1], que temos a fé humana e a fé divina. A primeira impulsiona o homem a resolver seus problemas presentes, tornando a vida mais saudável, confortável e segura. Um Espírito Protetor[2], nos faz pensar, se reportando aos milagres do Cristo, “[...] o que pode o homem, quando tem fé, isto é, a vontade de querer e a certeza de que essa vontade pode obter satisfação”. E a segunda traduz a confiança nas Leis de Deus e o impulsiona à sua semelhança com Ele, que lhe tornará repleto de felicidade celestial. Ainda conforme Um Espírito Protetor, nessa instrução,

O homem de bem que, crente em seu futuro celeste, deseja encher de belas e nobres ações a sua existência, haure na sua fé, na certeza da felicidade que o espera, a força necessária, e ainda aí se operam milagres de caridade, de devotamento e de abnegação.

Desse modo, tenhamos confiança na nossa evolução, por mais que a nossa humanidade ainda apresenta quadros tenebrosos de injustiças, crueldades e opressão do superior sobre inferior, sendo firmes na luta contra tudo isso, sem violência, esclarecendo e colaborando, quando possível, contra a miséria, contra as doenças mal tratadas e muitas vezes provocadas pela omissão do poder público, entre tantas frentes de luta pela igualdade social.
Acreditemos em nós, cada vez melhor, e num futuro mundo feliz.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Vide Cap.VI (O Cristo Consolador) de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
[2] Um Espírito Protetor em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap.XIX, Instruções dos Espíritos, Item 12 (grifos do autor espiritual).