domingo, 27 de janeiro de 2019

NA INSTRUMENTALIDADE


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NA INSTRUMENTALIDADE
Como se conhecerá o que se toca com a flauta ou com a cítara?
Paulo (I Coríntios, 14:7).
Cada companheiro de serviço cristão deveria considerar-se instrumento nas mãos do Divino Mestre, a fim de que a sublime harmonia do Evangelho se faça irrepreensível para a vitória completa do bem.
Todavia, se a ilimitada sabedoria do celeste Emissor se mantém soberana e perfeita, os receptores terrenos pecam por deficiências lamentáveis.
Esse tem fé, mas não sabe tolerar as lacunas do próximo.
Aquele suporta cristãmente as fraquezas do vizinho, contudo, não possui energia nem mesmo para governar os próprios impulsos.
Aquele outro é bondoso e confiante, mas foge ao estudo e à meditação, favorecendo a ignorância.
Outro, ainda, é imaginoso e entusiasta, entretanto, escapa sutilmente ao esforço dos braços.
Um é conselheiro excelente, no entanto, não santifica os próprios atos.
Outro retém brilhante verbo na pregação doutrinária, todavia, é apaixonado cultor de anedotas menos dignas com que desfigura o respeito à revelação de que é portador.
Esse estima a castidade do corpo, mas desvaira-se pela aquisição de dinheiro fácil.
Outro, mais além, conseguiu desprender-se das posses de ouro e terra, casa e moinho, mas cultiva verdadeiro incêndio na carne.
É indiscutível a nossa imperfeição de seguidores da Boa Nova.
Por isso mesmo, guardamos o título de aprendizes.
O Planeta não é o paraíso terminado e achamo-nos, por nossa vez, muito distantes da angelitude.
Todavia, obedecendo ou administrando, ensinando ou combatendo, é indispensável afinar o nosso instrumento de serviço pelo diapasão do Mestre, se não desejamos prejudicar-lhe as obras.
Evitemos a execução insegura, indistinta ou perturbadora, oferecendo-lhe plena boa-vontade na tarefa que nos cabe, e o Reino Divino se manifestará mais rapidamente onde estivermos.
NOSSA REFLEXÃO
Muito profunda a analogia, que Paulo faz, interpretados por Emmanuel, dos instrumentos musicais com a nossa disposição, como instrumentos, para compor aqueles necessários para a grande orquestra cristã regida pelo Divino Mestre Jesus.
Necessário se faz que nos afinemos, ou nos deixemos afinar, pelos ensinos de Jesus, para que não desvirtuemos a Sua celeste sinfonia. Não basta disposição, mas afinação, também. Esta mensagem pode ser relacionada, a nosso ver, com a mensagem de nº 74, intitulada “Mãos limpas”, de o livro Caminho Verdade e Vida, também de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier. Podemos comparar as “mãos limpas” com o “espírito afinado”.
Precisamos estarmos constantemente preparados para sermos utilizados, como instrumentos do Cristo, no Seu esforço de redenção de nossa humanidade. Fazendo assim, estaremos evoluindo na direção da perfeição[1]. A hora, é qualquer hora, e será sempre a última para aqueles que se descobriram como tarefeiro do Mestre[2].
Que consigamos manter sempre limpas as mãos ou permanecer afinados com os ensinos do Cristo.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Todos nós chegaremos lá, pois conforme a questão de nº 115 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos Puros: “Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros, só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”. Vide, também, a questão de nº 112.
[2] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 20 (Os trabalhadores da última hora).

domingo, 20 de janeiro de 2019

AVANCEMOS ALÉM


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AVANCEMOS ALÉM
Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina do Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas.
Paulo (HEBREUS, 6:1).
Aceitar o poder de Jesus, guardar certeza da própria ressurreição além da morte, reconfortar-se ante os benefícios da crença, constituem fase rudimentar no aprendizado do Evangelho.
Praticar as lições recebidas, afeiçoando a elas nossas experiências pessoais de cada dia, representa o curso vivo e santificante.
O aluno que não se retira dos exercícios no alfabeto nunca penetra o luminoso domínio mental dos grandes mestres.
Não basta situar nossa alma no pórtico do templo e aí dobrar os joelhos reverentemente; é imprescindível regressar aos caminhos vulgares e concretizar, em nós mesmos, os princípios da fé redentora, sublimando a vida comum.
Que dizer do operário que somente visitasse a porta de sua oficina, louvando-lhe a grandeza, sem, contudo, dedicar-se ao trabalho que ela reclama?
Que dizer do navio admiravelmente equipado, que vivesse indefinidamente na praia sem navegar?
Existem milhares de crentes da Boa-Nova nessa lastimável posição de estacionamento. São quase sempre pessoas corretas em todos os rudimentos da doutrina do Cristo. Creem, adoram e consolam-se, irrepreensivelmente; todavia, não marcham para diante, no sentido de se tornarem mais sábias e mais nobres. Não sabem agir, nem lutar e nem sofrer, em se vendo sozinhas, sob o ponto de vista humano.
Precavendo-se contra semelhantes males, afirmou Paulo, com profundo acerto: "Deixando os rudimentos da doutrina de Jesus, prossigamos até à perfeição, abstendo-nos de repetir muitos arrependimentos, porque então não passaremos de autores de obras mortas".
Evitemos, assim, a posição do aluno que estuda... e jamais se harmoniza com a lição, recordando também que se o arrependimento é útil, de quando em quando, o arrepender-se a toda hora é sinal de teimosia e viciação.
NOSSA REFLEXÃO
De mais longe, já viemos. Então, deixemos o descanso e continuemos a caminhada em direção ao Pai, pois dele nos afastamos, mergulhando em um mundo de provas e expiações. Já nos arrependemos demais, como Emmanuel nos lembra, como a um teimoso e viciado nas obras mortas.
Temos uma vida pela frente. Recomendam-nos as boas mentes que não nos detenhamos olhando o passado. Não é fácil, pois ele vem à mente, de quando em quando. Todavia, devemos considerar que estamos mais à frente que o que nos faz arrepender. E o arrependimento é o primeiro passo para eliminar uma falta. Não devemos parar nesse ponto[1]. Depois dele deve ter a reparação. Não basta somente pedir perdão, se mostrar arrependido.
Temos um grande terreno para cuidar, que somos nós mesmos. O trabalho é o da reforma íntima. Devemos aprender com os erros e acertos. E seguir em frente como Paulo apontou para os hebreus. A perfeição nos espera. Olhar a Deus deve ser a nossa meta. Uma existência é insuficiente para isso. Então, que sejamos disciplinados no nosso trabalho de melhoria espiritual, avançando além da nossa disposição de chegar ao nosso destino fatal: a perfeição[2].
Que Deus nos ajude nessa caminhada.
Domício.

[1] Vide as questões de nº 990 a 1002 de O Livro dos Espíritos.
[2] Vide a Escala Espírita em O Livro dos Espíritos, questões/itens de nº 100 a 113.

domingo, 13 de janeiro de 2019

QUEM SERVE, PROSSEGUE


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QUEM SERVE, PROSSEGUE
O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir.
Jesus (Marcos, 10:45).
A Natureza, em toda parte, é um laboratório divino que elege o espírito de serviço por processo normal de evolução.
Os olhos atilados observam a cooperação e o auxílio nas mais comezinhas manifestações dos reinos inferiores.
A cova serve à semente. A semente enriquecerá o homem.
O vento ajuda as flores, permutando-lhes os princípios de vida. As flores produzirão frutos abençoados.
Os rios confiam-se ao mar. O mar faz a nuvem fecundante.
Por manter a vida humana, no estágio em que se encontra, milhares de animais morrem na Terra, de hora a hora, dando carne e sangue a benefício dos homens.
Infere-se de semelhante luta que o serviço é o preço da caminhada libertadora ou santificante.
A pessoa que se habitua a ser invariavelmente servida em todas as situações, não sabe agir sozinha em situação alguma.
A criatura que serve pelo prazer de ser útil progride sempre e encontra mil recursos dentro de si mesma, na solução de todos os problemas.
A primeira cristaliza-se.
A segunda desenvolve-se.
Quem reclama excessivamente dos outros, por não estimar a movimentação própria na satisfação de necessidades comuns, acaba por escravizar-se aos servidores, estragando o dia quando não encontra alguém que lhe ponha a mesa. Quem aprende a servir, contudo, sabe reduzir todos os embaraços da senda, descobrindo trilhos novos.
Aprendiz do Evangelho que não improvisa a alegria de auxiliar os semelhantes permanece muito longe do verdadeiro discipulado, porquanto companheiro fiel da Boa Nova está informado de que Jesus veio para servir, e desvela-se, a benefício de todos, até ao fim da luta.
Se há mais alegria em dar que em receber, há mais felicidade em servir que em ser servido.
Quem serve, prossegue...
NOSSA REFLEXÃO
Jesus, o nosso estimado Mestre, sempre exemplificou a servidão construtiva que nos faz melhor a cada benefício distribuído, seja à natureza, seja aos animais, seja aos nossos semelhantes. De fato, servir nos faz mais leve, e, como Emmanuel nos ensina: “Possuímos aquilo que damos”[1]. E por esta mensagem, que ora refletimos, a cada nossa doação adquirimos mais, pois essa virtude é cada vez mais edificada em nós.
Fazer por si, também é muito importante, pois, além de dar o exemplo aos que nos rodeiam e acompanham, não nos tornamos estorvos para os outros. Temos, ainda, a vantagem de aprendermos mais e evoluirmos, trabalhando, pois o trabalho, como disseram os Espíritos da Codificação Espírita, é  “toda ocupação útil [...]”[2] Haja vista que o Cristo exaltou a necessidade de trabalharmos em Sua Seara, bem como por nós, também[3], e nos lembrou, ainda, que o Pai trabalha sem cessar, e Ele também[4].
Então, que possamos prosseguir, sempre, servindo.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Vide mensagem intitulada “Possuímos o que damos”, de número 117, do livro Fonte Viva (FEB), p. 353, de Emmanuel, psicografada por Chico Xavier.
[2] Vide questão nº 675 de O Livro dos Espíritos (FEB).
[3] Vide Capítulos XX e XXV de O Evangelho Segundo o Espiritismo (FEB).
[4] João (5:17).

domingo, 6 de janeiro de 2019

A CANDEIA VIVA


81
A CANDEIA VIVA
Ninguém acende a candeia e a coloca debaixo da mesa, mas no velador, e assim alumia a todos os que estão na casa. – Jesus.
MATEUS (5:15).
Muitos aprendizes interpretaram semelhantes palavras do Mestre como apelo à pregação sistemática, e desvairaram-se através de veementes discursos em toda parte. Outros admitiram que o Senhor lhes impunha a obrigação de violentar os vizinhos, através de propaganda compulsória da crença, segundo o ponto de vista que lhes é particular.
Em verdade o sermão edificante e o auxílio fraterno são indispensáveis na extensão dos benefícios divinos da fé.
Sem a palavra, é quase impossível a distribuição do conhecimento. Sem o amparo irmão, a fraternidade não se concretizará no mundo.
A assertiva de Jesus, todavia, atinge mais além.
Atentemos para o símbolo da candeia. A claridade na lâmpada consome força ou combustível.
Sem o sacrifício da energia ou do óleo não há luz.
Para nós, aqui, o material de manutenção é a possibilidade, o recurso, a vida.
Nossa existência é a candeia viva.
É um erro lamentável despender nossas forças, sem proveito para ninguém, sob a medida de nosso egoísmo, de nossa vaidade ou de nossa limitação pessoal.
Coloquemos nossas possibilidades ao dispor dos semelhantes.
Ninguém deve amealhar as vantagens da experiência terrestre somente para si. Cada espírito provisoriamente encarnado, no círculo humano, goza de imensas prerrogativas, quanto à difusão do bem, se persevera na observância do Amor universal.
Prega, pois, as revelações do Alto, fazendo-as mais formosas e brilhantes em teus lábios; insta com parentes e amigos para que aceitem as verdades imperecíveis; mas, não olvides que a candeia viva da iluminação espiritual é a perfeita imagem de ti mesmo.
Transforma as tuas energias em bondade e compreensão redentoras para toda gente, gastando, para isso, o óleo de tua boa-vontade, na renúncia e no sacrifício, e a tua vida, em Cristo, passará realmente a brilhar.
NOSSA REFLEXÃO
Somos todos uma extensão de Deus, suas criaturas que, pelo pensamento, podem espargir luz, conforme a sintonia que têm com o Criador, como Jesus foi. O Pai se serviu dos Profetas, de Moisés, do Cristo e dos Espíritos Superiores, desencarnados, e de Allan Kardec para espalhar a luz de Sua Lei. Tudo isso, conforme nossa condição evolutiva, pois se assim não fora, seriamos ofuscado por tanta luz[1].
Emmanuel nos convida a pensar sobre a nossa condição de candeia, como os seres citados acima foram. Cada um, segundo suas possibilidades, pode contribuir para a divulgação da Doutrina dos Espíritos sem, essencialmente, ir para a tribuna.
Se fizermos de nossa boa vontade, nossas virtudes em desenvolvimento, o combustível de nós mesmos, enquanto candeia viva, atrairemos espontaneamente as pessoas em tornos de nós, para aprenderem conosco. Pois, se nosso combustível não for dessa qualidade, não haverá luz em torno de nós e nossas palavras serão só barulho nas vidas delas.
O Cristo foi exemplo vivo de suas palavras, pois, falando, instigava as pessoas a pensarem, a tornarem-se esperançosas e fervorosas. De fato, as transformava, se já tinham predisposição para tanto.
As virtudes contaminam, pois iluminam e dão segurança. Que possamos fazer mais do que falar. E ao falarmos, que sejamos os primeiros a refletir sobre o que falamos, pois somos aproveitados pelos Bons Espíritos para esclarecer as massas. Mas, com certeza, devemos ser os primeiros a se servir daquilo que falamos. Um exercício que leva uma vida toda.
Que sejamos mais vitoriosos nesta vida que nas vidas passadas e, a partir de hoje, mais que nos anos passados, desta vida.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Vide interpretação à passagem evangélica inspiradora de Emmanuel, para ditar essa mensagem ao Chico Xavier, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 24. Trata-se de um capítulo para tratar, exclusivamente, desse assunto.