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NÃO TE CANSES
Não nos cansemos de fazer o bem, pois, a seu
tempo ceifaremos, se não desfalecermos.
Paulo (Gálatas, 6:9).
Quando o buril começou a ferir o bloco de mármore
embrutecido, a pedra, em desespero, clamou contra o próprio destino, mas
depois, ao se perceber admirada, encarnando uma das mais belas concepções
artísticas do mundo, louvou o cinzel que a dilacerara.
A lagarta arrastava-se com extrema dificuldade, e, vendo as
flores tocadas de beleza e perfume, revoltava-se contra o corpo disforme; contudo,
um dia, a massa viscosa em que se amargurava converteu-se nas asas de graciosa
e ágil borboleta e, então, enalteceu o feio corpo com que a Natureza lhe
preparara o voo feliz.
O ferro, colocado na bigorna rubra, espantou-se e sofreu, inconformado;
todavia, quando se viu desempenhando importantes funções nas máquinas do
progresso, sorriu reconhecidamente para o fogo que o purificara e engrandecera.
A semente lançada à cova escura chorou, atormentada, e
indagou por que motivo era confiada, assim, ao extremo abandono; entretanto, vendo-se
transformada em arbusto, avançou para o Sol e fez-se árvore respeitada e
generosa, abençoando a terra que a isolara no seu seio.
Não te canses de fazer o bem.
Quem hoje te não compreende a boa vontade, amanhã te louvará
o devotamento e o esforço.
Jamais te desesperes, e auxilia sempre.
A perseverança é a base da vitória.
Não
olvides que ceifarás, mais tarde, em tua lavoura de amor e luz, mas só
alcançarás a divina colheita se caminhares para diante, entre o suor e a confiança,
sem nunca desfaleceres.
NOSSA REFLEXÃO
A primeira analogia feita por Emmanuel, entre o desenvolvimento
das coisas e seres da natureza e o nosso aperfeiçoamento espiritual, para nos ajudar
a não desfalecermos diante das dificuldades da vida, lembra o estado de
espírito do escultor italiano do séc. XV, Michelangelo, que o levou a pedir para
a sua estátua falar, quando terminou a sua obra “Moisés”,
de tão perfeita que ela ficou. Foi um trabalho incansável que valeu, por
demais, a pena.
A segunda analogia, relativa ao embelezamento da lagarta
após sair do casulo/crisálida, lembra a analogia que Allan Kardec fez com o
fenômeno da nossa existência corpórea sucedida pela nossa volta à vida espírita[1].
Assim, as outras analogias feitas por Emmanuel nos lembra
como é difícil o aperfeiçoamento das coisas, pois tudo começa de modo dolorido
ou passa por momentos difíceis para que a essência ou o vir a ser venha a se
realizar.
Do mesmo modo, as nossas conquistas têm muito dos nossos
méritos, apesar de sempre termos um empurrãozinho daqueles que veem em nós o
espírito de empreendimento e a fé humana em um mesmo ser. Como nos diz Um
Espírito Protetor:
Repito:
a fé é humana e divina. Se todos os encarnados se achassem bem persuadidos da
força que em si trazem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força,
seriam capazes de realizar o a que, até hoje, eles chamaram prodígios e que, no
entanto, não passa de um desenvolvimento das faculdades humanas. – Um Espírito
protetor. (Paris, 1863.)[2]
Sobre a questão da justiça do mérito, Emmanuel nos assevera
que “é necessário compreenda o homem que Deus concede os auxílios; entretanto,
cada Espírito é obrigado a talhar a própria glória.”[3]
Então, não deixemos de fazer a nossa parte, tanto quando se
tratar de um empreendimento nosso, mesmo as duras penas, quanto se tratar de
nossa relação com os seres que Deus nos chamou a conviver, não importando as incompreensões
em relação a nossa boa vontade.
Que Deus nos ajude.
Domício.