domingo, 24 de setembro de 2017

FRATERNIDADE

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FRATERNIDADE
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.
Jesus. (João, 13:35.)
Desde a vitória de Constantino, que descerrou ao mundo cristão as portas da hegemonia política, temos ensaiado diversas experiências para demonstrar na Terra a nossa condição de discípulos de Jesus.
Organizamos concílios célebres, formulando atrevidas conclusões acerca da natureza de Deus e da Alma, do Universo e da Vida.
Incentivamos guerras arrasadoras que implantaram a miséria e o terror naqueles que não podiam crer pelo diapasão da nossa fé.
Disputamos o sepulcro do Divino Mestre, brandindo a espada mortífera e ateando o fogo devorador.
Criamos comendas e cargos religiosos, distribuindo o veneno e manejando o punhal.
Acendemos fogueiras e erigimos cadafalsos, inventamos suplícios e construímos prisões para quantos discordassem dos nossos pontos de vista.
Estimulamos insurreições que operaram o embate de irmãos contra irmãos, em nome do Senhor que testemunhou na cruz o devotamento à Humanidade inteira.
Edificamos palácios e basílicas, famosos pela suntuosidade e beleza, pretendendo reverenciar-lhe a memória, esquecidos de que Ele, em verdade, não possuía uma pedra onde repousar a cabeça.
E, ainda hoje, alimentamos a separação e a discórdia, erguendo trincheiras de incompreensão e animosidade, uns contra os outros, nos variados setores da interpretação.
Entretanto, a palavra do Cristo é insofismável.
Não nos faremos titulares da Boa-Nova simplesmente através das atitudes exteriores...
Precisamos, sim, da cultura que aprimora a inteligência, da justiça que sustenta a ordem, do progresso material que enriquece o trabalho e de assembleias que favoreçam o estudo; no entanto, toda a movimentação humana, sem a luz do amor, pode perder-se nas sombras...
Seremos admitidos ao aprendizado do Evangelho, cultivando o Reino de Deus que começa na vida íntima.
Estendamos, assim, a fraternidade pura e simples, amparando-nos mutuamente... Fraternidade que trabalha e ajuda, compreende e perdoa, entre a humildade e o serviço que asseguram a vitória do bem. Atendamo-la, onde estivermos, recordando a palavra do Senhor que afirmou com clareza e segurança: - "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros."
NOSSA REFLEXÃO
Jesus, nos últimos momentos conosco, ainda em confraternização, se despedindo de seus Discípulos, após dizer ao Judas que ele deveria ir fazer o que tinha programado para aquela noite (João, 13:27), que era entregar o Mestre, se volta aos demais para dizer como deveriam se comportar, enquanto irmãos na fé, propagadores da Boa Nova: em tudo e sempre, deveriam se amar como Ele mostrou amar a todos.
A mensagem do Cristo é o Amor entre os semelhantes. Toda a Sua Palavra tem como fundamento o mor entre os filhos de Deus. Então, a propagação dessa ideia deve ser consolidada pelos exemplos de amor, entre si, que os seus propagadores demonstram.
Ele, na pessoa de O Espírito de Verdade, reforçou essa condição, como elemento fundamental para a propagação de uma Boa Nova, como foi a Codificação Espírita, codificada por Allan Kardec. No cap. 6 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Item 5, Ele nos ratifica, com outras palavras, a mesma mensagem quando da sua despedida, na época de sua estada conosco: Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo”.
Temos em mente que essa ideia foi seguida pelos cristãos primitivos. Na atualidade, temos várias facetas da religião cristã. Do catolicismo, pelos excessos e exploração da fé humana e ambição de alguns, houve a divisão dos que criam no cristianismo, surgindo o protestantismo. Temos que ter o cuidado para que dentro do movimento espírita, não haja cisão em torno da compreensão da Doutrina. E isso a Federação Espírita Brasileira (FEB) tem feito no sentido de nos manter unidos em torno da 3ª Revelação do Cristo[1].
Que sigamos, assim, nós espíritas, unidos em torno da ideia e prática cristã vividas por Jesus.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Vide o trabalho de unificação espírita promovido pela FEB (O Pacto Áureo).

domingo, 17 de setembro de 2017

INDAGAÇÃO OPORTUNA

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INDAGAÇÃO OPORTUNA
Disse-lhes: - Recebestes vós o Espírito Santo quando crestes?
ATOS (19:2).
A pergunta apostólica vibra ainda em todas as direções, com a maior oportunidade, nos círculos do Cristianismo.
Em toda parte, há pessoas que começam a crer e que já creem, nas mais variadas situações.
Aqui, alguém aceita aparentemente o Evangelho para ser agradável às relações sociais.
Ali, um indagador procura o campo da fé, tentando acertar problemas intelectuais que considera importantes.
Além, um enfermo recebe o socorro da caridade e se declara seguidor da Boa Nova, guiando-se pelas impressões de alívio físico.
Amanhã, todavia, ressurgem tão insatisfeitos e tão desesperados quanto antes.
Nos arraiais do Espiritismo, tais fenômenos são frequentes.
Encontramos grande número de companheiros que se afirmam pessoas de fé, por haverem identificado a sobrevivência de algum parente desencarnado, porque se livraram de alguma dor de cabeça ou porque obtiveram solução para certos problemas da luta material; contudo, amanhã prosseguem duvidando de amigos espirituais e de médiuns respeitáveis, acolhem novas enfermidades ou se perdem através de novos labirintos do aprendizado humano.
A interrogação de Paulo continua cheia de atualidade.
Que espécie de espírito recebemos no ato de crer na orientação de Jesus? O da fascinação? O da indolência? O da pesquisa inútil? O da reprovação sistemática às experiências dos outros?
Se não abrigamos o espírito de santificação que nos melhore e nos renove para o Cristo, a nossa fé representa frágil candeia, suscetível de apagar-se ao primeiro golpe de vento.
NOSSA REFLEXÃO
Essa mensagem de Emmanuel nos chama a atenção para as questões de nossa fé, de nossa conversão ao Cristianismo. Vale para qualquer cristão, seja dessa ou daquela opção religiosa.
Somos todos endividados de nossa orientação religiosa. Somos provados e cobrados, a todo instante, no nosso cotidiano, seja pela nossa consciência, seja por outros cristãos de agremiações religiosas diferentes, quanto à nossa reforma íntima.
Nosso automatismo espiritual, ou seja, nossos hábitos seculares, ainda está incrustado em nós, seres espirituais. Então, quando chega a prova de nossa religiosidade, nem sempre estamos vigilantes quanto aos novos princípios adotados para nossa vida.
A fé divina[1] que devemos, então, exercer, fica em segundo plano e caímos.
Muitos são os simpatizantes do Espiritismo, outros se converteram pela dor, outros pela razão, e tem os que se converteram pelo amor. Paulo nos indaga qual o Espírito de nossa conversão, e Emmanuel nos esclarece que devemos abrigar o espírito da santificação, senão, qualquer situação que nos chame a atenção para outras verdades, que nos chame mais atenção espiritual, nos afastará, seja do Espiritismo, seja do Cristianismo. Senão isso, mesmo vinculados ao Espiritismo, teremos a nossa fé tão somente para analisar as faltas alheias.
Que cuidemos de nossa reforma íntima para voltarmos ao plano espiritual muito melhor do que aqui chegamos.
Que Deus nos ajude.
Domício.



[1] Vide sobre a fé em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 19, especialmente o Item 12.

domingo, 10 de setembro de 2017

ERGAMO-NOS

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ERGAMO-NOS
Levantar-me-ei e irei ter com meu pai...
LUCAS (15:18).
Quando o filho pródigo deliberou tornar aos braços paternos, resolveu intimamente levantar-se.
Sair da cova escura da ociosidade para o campo da ação regeneradora.
Erguer-se do chão frio da inércia para o calor do movimento reconstrutivo.
Elevar-se do vale da indecisão para a montanha do serviço edificante.
Fugir à treva e penetrar a luz.
Ausentar-se da posição negativa e absorver-se na reestruturação dos próprios ideais.
Levantou-se e partiu no rumo do lar paterno.
Quantos de nós, porém, filhos pródigos da Vida, depois de estragarmos as mais valiosas oportunidades, clamamos pela assistência do Senhor, de acordo com os nossos desejos menos dignos, para que sejamos satisfeitos? Quantos de nós descemos, voluntariamente, ao abismo, e, lá dentro, atolados na sombria corrente de nossas paixões, exigimos que o Todo-Misericordioso se faça presente, ao nosso lado, através de seus divinos mensageiros, a fim de que os nossos caprichos sejam atendidos?
Se é verdade, no entanto, que nos achamos empenhados em nosso soerguimento, coloquemo-nos de pé e retiremo-nos da retaguarda que desejamos abandonar.
Aperfeiçoamento pede esforço.
Panorama dos cimos pede ascensão.
Se aspiramos ao clima da Vida Superior, adiantemo-nos para a frente, caminhando com os padrões de Jesus.
“Levantar-me-ei” – disse o moço da parábola.
“Levantemo-nos” – repitamos nós.
NOSSA REFLEXÃO
O retorno à casa do Pai não pode ser coisa melhor, depois de o ter abandonado para viver uma vida desregrada. A parábola do Filho Pródigo é uma prova do Amor de Deus às suas criaturas. O Pai respeita as escolhas do filho, sabendo que adquirirá maturidade depois de viver o resultado delas.
Isso nos remete a bem-aventurança dos aflitos que compreendem que se sofrem na atual existência, as causas do sofrimento podem se encontrar nas ações tomadas contra si mesmo, ainda nessa existência[1]. Num momento de reflexão, retoma a consciência e se volta para o Pai, desejando tomar outro rumo. Entretanto, o retorno é considerado com alegria pelo Pai, mas o filho tem que recuperar o tempo perdido, trabalhando com muito esforço e às vezes sofrendo com alguma dor que as ações, contra si mesmo, causaram ao seu corpo e às relações com os semelhantes. Como diz Emmanuel, nesta mensagem, “(...) Aperfeiçoamento pede esforço. Panorama dos cimos pede ascensão. Se aspiramos ao clima da Vida Superior, adiantemo-nos para a frente, caminhando com os padrões de Jesus”.
Do mesmo modo, como Pais, devemos ter em mente que os filhos, que não são nossos filhos, devem sempre ser perdoados pelas suas ações que implicaram em um resultado negativo, mesmo que tenham sido advertidos/aconselhados a não fazê-las.
Que tenhamos a coragem, sempre, de levantar a cabeça e lembrar que temos um Pai que perdoa e nos dá oportunidades de retomar nossa evolução de onde paramos.
Que Deus nos ajude.
Domício.




[1] Veja o Cap. V do O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 4 (Causas Atuais das Aflições) de Allan Kardec.

domingo, 3 de setembro de 2017

IMPEDIMENTOS

12
IMPEDIMENTOS
Pondo de lado todo o impedimento... corramos com perseverança a carreira que nos está proposta.
Paulo. (HEBREUS, 12:1.)
Por onde transites, na Terra, transportando o vaso de tua fé a derramar-se em boas obras, encontrarás sempre impedimentos a granel, dificultando-te a ação.
Hoje, é o fracasso nas tentativas iniciais de progresso.
Amanhã, é o companheiro que falha.
Depois, é a perseguição descaridosa ao teu ideal. Afligir-te-ás com o fel de muitos lábios que te merecem apreço.
Sofrerás, de quando em quando, a incompreensão dos outros.
Periodicamente encontrarás na vanguarda obstáculos mil, induzindo-te à inércia ou à negação.
A carreira que nos está proposta, no entanto, deve desdobrar-se no roteiro do bem incessante...
Que fazer com as pessoas e circunstâncias que nos compelem ao retardamento e à imobilidade?
O apóstolo dos gentios responde, categórico:
"Pondo de lado todo o impedimento".
Colocar a dificuldade à margem, porém, não é desprezar as opiniões alheias quando respeitáveis ou fugir à luta vulgar. É respeitar cada individualidade, na posição que lhe é própria, é partilhar o ângulo mais nobre do bom combate, com a nossa melhor colaboração pelo aperfeiçoamento geral. E, por dentro, na intimidade do coração, prosseguir com Jesus, hoje, amanhã e sempre, agindo e servindo, aprendendo e amando, até que a luz divina brilhe em nossa consciência, tanto quanto inconscientemente já nos achamos dentro dela.
NOSSA REFLEXÃO
Ao ler o final dessa mensagem, veio imediatamente, à mente, o Chico Xavier. Quanto ele teve impedimentos na sua labuta cristã! Como ele soube honrar sua missão, que lhe foi dada, e ser um exemplo de cristão, a despeito de toda injustiça, perseguições, injúrias, ingratidões e traições dos mais próximos.
Nós temos que aprender que não estamos na Terra para viver só alegrias, momentos de glórias. Temos um carma negativo a se desvencilhar. Portanto, apesar de alguns sucessos pelo bem que venhamos a fazer pelo próximo, teremos sim, e muitos, momentos que serão testes daquilo que estamos a refletir, se convencendo e pregando.
Devemos lembrar sempre do Cristo, que foi até crucificado, apesar do imenso amor, sabedoria em prática, que revelou para nós. Lembremos dos Apóstolos, Paulo, Madalena, Estêvão e tantos outros exemplos que nos vêm à mente, que se converteram ao cristianismo, sem se tornarem perfeitos instantaneamente.
Certamente que haverá momentos que nós mesmos trairemos nossa fé, nossas convicções espíritas, ao cair moralmente, de algum modo. Devemos também nos perdoar, pois também ainda estamos aprendendo a ser cristãos. Sejamos espíritas, particularmente ao nos lembrar do feliz pensamento Allan Kardec: Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más[1].
Então, sejamos fortes, benevolentes, indulgentes e misericordiosos, para com todos que nos cobram perfeição, inclusive nós mesmos, e sigamos em frente, sabedores que, antes e acima de tudo, devemos ser caridosos[2], conforme Jesus Cristo foi e é conosco.
Que Deus nos ajude.
Domício.



[1] Vide em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4 (Os bons espíritas).
[2] Vide em O Livro dos Espíritos, questão 886 e nota de Allan Kardec, sobre o verdadeiro sentido da Caridade, segundo Jesus.