domingo, 30 de dezembro de 2018

CORAÇÕES CEVADOS


80
CORAÇÕES CEVADOS
Cevastes os vossos corações, como num dia de matança.
Tiago (5:5).
Pela prosperidade e aperfeiçoamento do mundo, trabalha o Sol, que é a suprema expressão da Divindade vital no firmamento terrestre.
Colabora o verme na intimidade do solo, preparando ninho adequado às sementes.
Contribui a aragem, permutando o pólen das flores.
Esforça-se a água, incessantemente, entretendo a vida física e purificando-a.
Serve a árvore, florindo, frutificando e regenerando a atmosfera.
Coopera o animal, ajudando as realizações humanas, suando e morrendo para que haja vida normal no domínio da inteligência superior.
Indefectível lei de trabalho rege o universo.
O movimento e a ordem, na constância dos benefícios, constituem-lhe as características essenciais.
Há, porém, milhões de pessoas que se sentem exoneradas da glória de servir.
Para semelhantes criaturas, em cujo cérebro a razão dorme embotada e vazia, trabalho significa degredo e humilhação, inferno e sofrimento. Perseguem as facilidades delituosas, com o mesmo instinto de novidade da mosca em busca de detritos.
Conseguida a solução de ordem inferior que buscavam, circunscrevem as horas e as possibilidades ao desenfreado apego de si mesmas, imitando o poço de águas estagnadas que se envenena facilmente.
No fundo, são "corações cevados", de acordo com a feliz expressão do Apóstolo. Criam teias densas de ódio e egoísmo, indiferença e vaidade, orgulho e indolência sobre si próprios, e gravitam para baixo. Descendo, descendo, pelas pesadas vibrações a que se acolhem, rolam vagarosamente para o seio das vidas inferiores, onde é natural que encontrem a exigência de muitos, que se aproveitam deles, à maneira do homem comum que se vale dos animais gordos para a matança.
NOSSA REFLEXÃO
Nós, Espíritos criados por Deus, somos fadados a perfeição, ao estado de Espíritos Puros[1]. No entanto, para chegarmos neste estado, muita luta deve ser realizada ao longo de nossa vida espiritual[2].
No caminho, muitos vão ficando por se identificarem com a vida fácil, e, se preciso, ilícita.
Como Emmanuel nos fala, nesta mensagem, no nosso mundo existem “[...] milhões de pessoas que se sentem exoneradas da glória de servir.
No entanto, segundo os Espíritos Superiores da codificação da Doutrina Espírita: “O trabalho é lei da Natureza, por isso mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos". [3]
Assim, como a natureza, que trabalha sem cessar, a exemplo do Pai e o Cristo[4], devemos, por nossa vez, fazer o mesmo.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] In: O Livro dos Espíritos, questão nº 170. O que fica sendo o Espírito depois da sua última encarnação? “Espírito bem-aventurado; puro Espírito”.
[2]É um castigo a encarnação e somente os Espíritos culpados estão sujeitos a sofrê-la? A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma preferência, e toda preferência, uma injustiça; mas a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do livre-arbítrio. Os que desempenham com zelo essa tarefa transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus da iniciação e mais cedo gozam do fruto de seus labores. Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação e é quando se torna um castigo”. – São Luís. (Paris, 1859.).In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 4, Item 25.
[3] Vide questão de nº 674 e seguintes de O Livro dos Espíritos, Livro Terceiro, Das Leis Morais, Cap. III – Lei do Trabalho.
[4] “E por causa disso, os judeus perseguiam Jesus, que fazia essas [coisas] no sábado. Ele, porém, lhes respondeu: O meu Pai trabalha até agora, eu também trabalho. (João, 5: 16-17). In: O Novo Testamento (FEB – Tradução de Haroldo Dutra Dias).

domingo, 23 de dezembro de 2018

SIGAMOS A PAZ



79
SIGAMOS A PAZ
Busque a paz e siga-a.
I Pedro (3:11).
Há muita gente que busca a paz; raras pessoas, porém, tentam segui-Ia.
Companheiros existem que desejam a tranquilidade por todos os meios e suspiram por ela, situando-a em diversas posições da vida; contudo, expulsam-na de si mesmos, tão logo lhes confere o Senhor as dádivas solicitadas.
Esse pede a fortuna material, acreditando seja a portadora da paz ambicionada, todavia, com o aparecimento do dinheiro farto, tortura-se em mil problemas, por não saber distribuir, ajudar, administrar e gastar com simplicidade.
Outro roga a bênção do casamento, mas, quando o Céu lha concede, não sabe ser irmão da companheira que o Pai lhe confiou, perdendo-se através das exasperações de toda sorte.
Outro, ainda, reclama títulos especiais de confiança em expressivas tarefas de utilidade pública, mas, em se vendo honrado com a popularidade e com a expectativa de muitos, repele as bênçãos do trabalho e recua espavorido.
Paz não é indolência do corpo. É saúde e alegria do espírito.
Se é verdade que toda criatura a busca, a seu modo, é imperioso reconhecer, no entanto, que a paz legítima resulta do equilíbrio entre os nossos desejos e os propósitos do Senhor, na posição em que nos encontramos.
Recebido o trabalho que a Confiança celeste nos permite efetuar, é imprescindível saibamos usar a oportunidade em favor de nossa elevação e aprimoramento.
Disse Pedro: “Busque a paz e siga-a”.
Todavia, não existe tranquilidade real sem Cristo em nós, dentro de qualquer situação em que estejamos situados, e a fórmula de integração da nossa alma com Jesus é invariável: "Negue cada um a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Sem essa adaptação do nosso esforço de aprendizes humanos ao impulso renovador do Mestre divino, ao invés de paz, teremos sempre renovada guerra, dentro do coração.
NOSSA REFLEXÃO
No livro “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, temos três capítulos sucessivos que abrangem essa mensagem de Emmanuel: O Cap. 25, intitulado “Buscai e achareis”; o Cap. 26, intitulado “Dai gratuitamente o que recebestes gratuitamente”; e o Cap. 27, intitulado “Pedi e obtereis”. Apesar de A. Kardec direcionar a temas específicos, temos em mente que podemos, também, relacionar a busca da paz em nós.
Senão, vejamos. O que todos, em sua vida, deseja e busca? A paz. Contudo, se a conseguimos, e, muitas vezes isso se dá, quando conquistamos o sucesso em um projeto que chega ao final, devemos compartilhar os louros e os bons resultados do mesmo. Ou seja, não devemos fazer dessa realização, desse sucesso, uma apropriação indébita, pois apesar de nosso esforço, a oportunidade de realizar o projeto, veio de Deus. Portanto, foi de graça que recebemos, mesmo com algum merecimento. Então, a parte que recebemos de graça e o resultado de nossa conquista devemos, também, dar gratuitamente, pela dedicação às pessoas que nos procuram para usufruir dos bens de nosso sucesso. E, por fim, se pedimos uma realização, a saúde, o sucesso, etc., em prece, também, obtemos. Isto foi que o Cristo nos ensinou: “Seja o que for que peçais na prece, crede que o obtereis, e vos será concedido” (Marcos, 11: 24).
Contudo, necessário se faz compreender que estas palavras de Jesus não devem ser interpretadas ao pé da letra[1].
Então, tudo que conseguimos na vida é uma oportunidade de paz a desenvolver em nós. Pois, assim, nos conectamos com o Pai no sentido de sermos seus Filhos, evangelicamente falando, como o Cristo demonstrou ser. Devemos, então, anotar o que Emmanuel nos conclama: sigamos a paz.
Que Deus nos ajude em nossa fragilidade espiritual.
Domício.


[1] Vide as interpretações kardequianas, a estes pensamentos do Mestre, nos capítulos, aqui citados, do O Evangelho Segundo o Espiritismo.

domingo, 16 de dezembro de 2018

ENXERTIA DIVINA


78
ENXERTIA DIVINA
Se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar.
Paulo (Romanos, 11:23.)
Toda criatura, em verdade, é uma planta espiritual, objeto de minucioso cuidado por parte do Divino Semeador.
Cada homem, qual ocorre ao vegetal, apresenta diferenciados períodos na existência.
Sementeira, germinação, adubação, desenvolvimento, utilidade, florescência, frutificação, colheita...
Nas vésperas do fruto, desvela-se o pomicultor, com mais carinho, pelo aprimoramento da árvore.
É imprescindível haja fartura e proveito.
Na luta espiritual, em identidade de circunstâncias, o Senhor adota iguais normas para conosco.
Atingindo o conhecimento, a razão e a experiência, o Pomicultor celeste nos confere precioso recurso de enxertia espiritual, com vistas à nossa sublimação para a vida eterna.
A cada novo dia de tua experiência humana, recebes valioso concurso para que os resultados da presente encarnação te enriqueçam de luz divina pela felicidade que transmites aos outros. És, contudo, uma "árvore consciente", com independência para aceitar ou não os elementos renovadores, com liberdade para registrar a bênção ou desprezá-la.
Repara, atentamente, quantas vezes te convoca o Sublime Semeador ao engrandecimento de ti mesmo.
A enxertia do Alto procura-nos através de mil modos.
Hoje, é na palestra edificante de um companheiro.
Amanhã, será num livro amigo.
Depois, virá por intermédio de uma dádiva aparentemente insignificante da senda.
Se guardas, pois, o propósito de elevação, aproveita a contribuição do Céu, iluminando e santificando o templo íntimo. Mas, se a incredulidade por enquanto te isola a mente, enovelando-te as forças no carretel do egoísmo, o enxerto de sublimação te buscará debalde, porque ainda não produzes, nos recessos do espírito, a seiva que favorece a Vida abundante.
NOSSA REFLEXÃO
Existe em nós, a essência das Leis de Deus, que Ele, ao nos criar, já deixou impresso em nossa consciência[1]. A analogia, que Emmanuel faz em relação ao vegetal e nós, correspondendo-nos a uma “’árvore consciente’”, não poderia ser mais oportuna.
Temos um co-pomicultor que nos acompanha o crescimento durante a nossa vida corpórea, que é o Anjo da Guarda[2]. Ele, à medida que vamos nos deixando iluminar pelo que trazemos em nós (a Lei), que foi nos lembrada, periodicamente, através de Revelações[3], vai nos enxertando, em nome de Deus, ideias engrandecedoras, nos fortalecendo para que as cumpramos com vista a nossa evolução espiritual. Nem sempre dizemos Sim a elas..., pois trazemos ainda, em nós, um forte conteúdo de incredulidade, aliado ao nosso apego às motivações materiais.
Apesar de nosso esforço, um tanto diminuto, Deus, em sua infinita bondade e misericórdia, não desiste de nós, seres imperfeitos, pois Ele nos criou para sermos Espíritos Puros[4], independentes da matéria.
Que sejamos dóceis à enxertia divina, contribuindo, assim, pelo nosso melhoramento, como também ao de nossos semelhantes.
Que Deus nos ajude.
Domício.

[1] Vide questão de nº 621 de O Livro dos Espíritos: Onde está escrita a lei de Deus? Resp.: “Na consciência.”
[2] Vide questões de nº 489, 490 e 491 de O Livro dos Espíritos.
[4] “[...] “Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem: são os anjos ou puros Espíritos. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, etc. Comprazem-se no mal. Há também, entre os inferiores, os que não são nem muito bons nem muito maus, antes perturbadores e enredadores, do que perversos. A malícia e as inconsequências parecem ser o que neles predomina. São os Espíritos estúrdios ou levianos”. In: Introdução, p. 32, de O Livro dos Espíritos. Vide também a questão de nº 115, da mesma obra.

domingo, 9 de dezembro de 2018

PAI – NOSSO


77
PAI – NOSSO
Pai – Nosso...Jesus. (MATEUS, 6:9).
A grandeza da prece dominical nunca será devidamente compreendida por nós que lhe recebemos as lições divinas.
Cada palavra, dentro dela, tem a fulguração de sublime luz.
De início, o Mestre divino lança-lhe os fundamentos em Deus, ensinando que o supremo Doador da Vida deve constituir, para nós todos, o princípio e a finalidade de nossas tarefas.
É necessário começar e continuar em Deus, associando nossos impulsos ao plano divino, a fim de que nosso trabalho não se perca no movimento ruinoso ou inútil.
O Espírito universal do Pai há de presidir-nos o mais humilde esforço, na ação de pensar e falar, ensinar e fazer.
Em seguida, com um simples pronome possessivo, o Mestre exalta a comunidade.
Depois de Deus, a Humanidade será o tema fundamental de nossas vidas.
Compreenderemos as necessidades e as aflições, os males e as lutas de todos os que nos cercam ou estaremos segregados no egoísmo primitivista.
Todos os triunfos e fracassos que iluminam e obscurecem a Terra pertencem-nos, de algum modo.
Os soluços de um hemisfério repercutem no outro.
A dor do vizinho é uma advertência para a nossa casa.
O erro de um irmão, examinado nos fundamentos, é igualmente nosso, porque somos componentes imperfeitos de uma sociedade menos perfeita, gerando causas perigosas e, por isso, tragédias e falhas dos outros afetam-nos por dentro.
Quando entendemos semelhante realidade o "império do eu" passa a incorporar-se por célula bendita à vida santificante.
Sem amor a Deus e à humanidade, não estamos suficientemente seguros na oração.
Pai nosso... - disse Jesus para começar.
Pai do universo... Nosso mundo...
Sem nos associarmos aos propósitos do Pai, na pequenina tarefa que nos foi permitido executar, nossa prece será, muitas vezes, simples repetição do "eu quero", invariavelmente cheio de desejos, mas quase sempre vazio de sensatez e de amor.
NOSSA REFLEXÃO
O Cristo se preocupou em nos habilitar a uma prece voltada ao Pai de todos nós, com a seguinte característica:
[...] sob a mais singela forma, ela resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão; o pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade. Quem a diga, em intenção de alguém, pede para este o que pediria para si mesmo (ALLAN KARDEC)[1].
Corroborando Allan Kardec, o Espírito Emmanuel, colaborador da Codificação da Doutrina Espírita, traz essas características, para nós, de outro modo. Nos lembra que o Criador está acima de todos nós e de nossas vontades. Antes de tudo, nossa vida deve ser dedicada a Ele. Desse modo, ao nos dedicar a ele, estaremos nos dedicando a nós mesmos e aos nossos semelhantes.
Deus não nos criou para vivermos no isolacionismo. As nossas atividades devem ser executadas com espírito de coletividade. Nós não somos mais importantes que ninguém. Depois de Deus, o semelhante deve ser pensado, quando estivermos pensando em nós, para que não usurpemos seus direitos que queremos para nós. Particularmente, o direito a uma vida digna.
As nossas dificuldades podem ser a do vizinho e vice-versa. Seus erros, podemos já tê-los cometido. Aquele que falha conosco precisa tanto do perdão de Deus como nós; ou seja, devemos perdoá-lo quando falhar conosco.
Ao orarmos a Deus, devemos lembrar que Ele é Pai de todos nós. Além disso, Sua soberana vontade está descrita em Sua Lei. Daí a humildade ao Lhe pedir algo, pois antes de tudo, devemos pedir compreensão de Sua Lei, pois nela está todos os caminhos para a felicidade. Desta forma, sempre teremos bons Espíritos a nos fortalecer na luta do dia a dia.
Quando pedirmos algo a Deus, lembremos do ensinamento do Espírito V. Monod:
A vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais, mas de que necessitais em realidade. Inútil, portanto, pedir ao Senhor que vos abrevie as provas, que vos dê alegrias e riquezas. Rogai-lhe que vos conceda os bens mais preciosos da paciência, da resignação e da fé.[2]
Assim, sejamos, na medida de nossa evolução, um filho, antes de tudo, cumpridor de seus deveres para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVIII, Item 2.
[2] In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, Item 22.

domingo, 2 de dezembro de 2018

FERMENTO ESPIRITUAL


76
FERMENTO ESPIRITUAL
Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?
Paulo (I CORÍNTIOS, 5:6).
O fermento é uma substância que excita outras substâncias, e nossa vida é sempre um fermento espiritual com que influenciamos as existências alheias.
Ninguém vive só.
Temos conosco milhares de expressões do pensamento dos outros e milhares de outras pessoas nos guardam a atuação mental, inevitavelmente.
Os raios de nossa influência entrosam-se com as emissões de quantos nos conhecem direta ou indiretamente, e pesam na balança do mundo para o bem ou para o mal.
Nossas palavras determinam palavras em quem nos ouve, e, toda vez que não formos sinceros, é provável que o interlocutor seja igualmente desleal.
Nossos modos e costumes geram modos e costumes da mesma natureza, em torno de nossos passos, mormente naqueles que se situam em posição inferior à nossa, nos círculos da experiência e do conhecimento.
Nossas atitudes e atos criam atitudes e atos do mesmo teor, em quantos nos rodeiam, porquanto aquilo que fazemos atinge o domínio da observação alheia, interferindo no centro de elaboração das forças mentais de nossos semelhantes.
O único processo, portanto, de reformar edificando é aceitar as sugestões do bem e praticá-las intensivamente, por intermédio de nossas ações.
Nas origens de nossas determinações, porém, reside a ideia.
A mente, em razão disso, é a sede de nossa atuação pessoal, onde estivermos.
Pensamento é fermentação espiritual. Em primeiro lugar estabelece atitudes, em segundo gera hábitos e, depois, governa expressões e palavras, através das quais a individualidade influencia na vida e no mundo. Regenerado, pois, o pensamento de um homem, o caminho que o conduz ao Senhor se lhe revela reto e limpo.
NOSSA REFLEXÃO
Por onde passamos, deixamos rastros e reunimos, atrás de nós, os seguidores que precisam se apoiar em alguém para continuar a fazer o bem ou o mal. Assim, também, seguimos aqueles com os quais nos sintonizamos para lhes seguir.
Somos influenciados e influenciadores. Nossa mente nos produz e somos o que pensamos. Como diz Emmanuel, nesta mensagem, ora refletida por nós, “A mente, em razão disso, é a sede de nossa atuação pessoal, onde estivermos”.
Desse modo, devemos ter cuidado com o que pensamos, pois pode estar aí um motivo de queda ou manutenção do mal em nós, como também de elevação espiritual[1]. Pensando reto, desenvolveremos nossa propensão a perfeição espiritual, pois todos nós estamos fadados a sermos Espíritos Puros[2].
Como somos Espíritos, mesmos encarnados, podemos tanto nos melhorar, como melhorar os outros que estão à nossa volta, sejam encarnados ou desencarnados.
Que possamos ser um bom fermento na vida das pessoas, nos deixando fermentar pelos bons fermentos que Deus, nosso Pai, designa para nos ajudar a evoluir.
Que os bons Espíritos nos ajudem, particularmente nossos Anjos Guardiões, sob a tutela de Jesus, O exemplo de Filho de Deus.
Domício.


[1] Sobre a influência oculta dos Espíritos em nossos pensamentos e atos, vejamos a questão de nº 459 de O Livro dos Espíritos: “Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos? – Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”.
[2] Sobre a evolução dos Espíritos, vejamos a questão de nº 115 de O Livro dos Espíritos: “Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus? – Deus criou todos os Espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinada. Outros, só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade.

domingo, 25 de novembro de 2018

ADMINISTRAÇÃO


75
ADMINISTRAÇÃO
Dá conta de tua administração.
Jesus. (LUCAS, 16:2).
Na essência, cada homem é servidor pelo trabalho que realiza na obra do Supremo Pai, e, simultaneamente, é administrador, porquanto cada criatura humana detém possibilidades enormes no plano em que moureja.
Mordomo do mundo não é somente aquele que encanece os cabelos, à frente dos interesses coletivos, nas empresas públicas ou particulares, combatendo intrigas mil, a fim de cumprir a missão a que se dedica.
Cada inteligência da Terra dará conta dos recursos que lhe foram confiados.
A fortuna e a autoridade não são valores únicos de que devemos dar conta hoje e amanhã.
O corpo é um templo sagrado.
A saúde física é um tesouro.
A oportunidade de trabalhar é uma bênção.
A possibilidade de servir é um obséquio divino.
O ensejo de aprender é uma porta libertadora.
O tempo é um patrimônio inestimável.
O lar é uma dádiva do Céu.
O amigo é um benfeitor.
A experiência benéfica é uma grande conquista.
A ocasião de viver em harmonia com o Senhor, com os semelhantes e com a Natureza é uma glória comum a todos.
A hora de ajudar os menos favorecidos de recursos ou entendimento é valiosa.
O chão para semear, a ignorância para ser instruída e a dor para ser consolada são apelos que o Céu envia sem palavras ao mundo inteiro.
Que fazes, portanto, dos talentos preciosos que repousam em teu coração, em tuas mãos e no teu caminho? Vela por tua própria tarefa no bem, diante do Eterno, porque chegará o momento em que o Poder Divino te pedirá: "Dá conta de tua administração".
NOSSA REFLEXÃO
Como somos potenciais trabalhadores, pois, conforme Emmanuel, nesta mensagem, “o chão para semear, a ignorância para ser instruída e a dor para ser consolada são apelos que o Céu envia sem palavras ao mundo inteiro”, somos, a todo momento, chamados para o trabalho, de forma silenciosa, como trabalhadores da última hora[1].
Muito nos é dado, na forma de riquezas, ou na forma de oportunidades profissionais, ou mesmo na forma religiosa. Então, teremos, sim, que dar conta das oportunidades que nos foram dadas para o engrandecimento de nossa humanidade e de nós mesmos.
Sejamos fiéis aos talentos que nos foram e continuam sendo dados, e os multipliquemos, para que, quando voltarmos ao plano espiritual, devolvamos, de forma justa e multiplicada, o que recebemos[2]. Esta prestação de contas, de tudo que recebemos, será um item avaliativo com relação ao nosso progresso espiritual. A partir dela, seremos escolhidos, ou não, a continuar com novas e mais desafiantes obras, como verdadeiros filhos de Deus[3].
Que Deus nos ajude.
Domício.

domingo, 18 de novembro de 2018

QUANDO HÁ LUZ


74
QUANDO HÁ LUZ
         O amor do Cristo nos constrange.
Paulo (II CORÍNTIOS, 5:14.)
Quando Jesus encontra santuário no coração de um homem, modifica-se-lhe a marcha inteiramente.
Não há mais lugar dentro dele para a adoração improdutiva, para a crença sem obras, para a fé inoperante.
Algo de indefinível na terrestre linguagem transtorna-lhe o espírito.
Categoriza-o a massa comum por desajustado, entretanto, o aprendiz do Evangelho, chegando a essa condição, sabe que o Trabalhador Divino como que lhe ocupa as profundidades do ser.
Renova-se-lhe toda a conceituação da existência.
O que ontem era prazer, hoje é ídolo quebrado.
O que representava meta a atingir, é roteiro errado que ele deixa ao abandono.
Torna-se criatura fácil de contentar, mas muito difícil de agradar.
A voz do Mestre, persuasiva e doce, exorta-o a servir sem descanso.
Converte-se-lhe a alma num estuário maravilhoso, onde os padecimentos vão ter, buscando arrimo, e por isso sofre a constante pressão das dores alheias.
A própria vida física afigura-se-lhe um madeiro, em que o Mestre se aflige. É-lhe o corpo a cruz viva em que o Senhor se agita crucificado.
O único refúgio em que repousa é o trabalho perseverante no bem geral.
Insatisfeito, embora resignado; firme na fé, não obstante angustiado; servindo a todos, mas sozinho em si mesmo, segue, estrada afora, impelido por ocultos e indescritíveis aguilhões...
Esse é o tipo de aprendiz que o amor do Cristo constrange, na feliz expressão de Paulo. Vergasta-o a luz celeste por dentro até que abandone as zonas inferiores em definitivo.
Para o mundo, será inadaptado e louco.
Para Jesus, é o vaso das bênçãos.
A flor é uma linda promessa, onde se encontre.
O fruto maduro, porém, é alimento para Hoje.
Felizes daqueles que espalham a esperança, mas bem-aventurados sejam os seguidores do Cristo que suam e padecem, dia a dia, para que seus irmãos se reconfortem e se alimentem no Senhor!
NOSSA REFLEXÃO
Eis o nosso futuro. Deixar-se iluminar pela Luz do Cristo. Mudança assim, podemos citar a de Paulo e de Maria de Magdala[1]. A nossa transformação ainda é lenta, mas acredito que constante. A instrução e o amor aos semelhantes, e, em particular, aos que nos são afins, no que diz respeito a Doutrina Espírita, é a força que nos fará, cada vez mais, aberto a Luz do Senhor. Há sempre luz no estudo e na comunhão com o próximo, pensando em transformação coletiva.
Devo depor minha experiência com o primeiro contato com o Espiritismo. Para mim, foi uma luz que me abriu as possibilidades de fé e trabalho. Foi uma adesão sem vacilação. Contudo, o processo de transformar a Luz do Conhecimento em Luz da Moral, devo confessar, não foi automático. Ainda está como a passos de tartaruga (ela não tem pressa...), mas sei que vou chegar lá.
Devemo-nos sentir gratificados por termos nos deixado iluminar pela Doutrina Espírita, pois tal qual o trabalhador da última hora, nos dispomos, agora, a servir numa seara de engrandecimento espiritual. Acreditemos, a hora chegou e tenhamos a certeza que seremos aproveitados naquilo que temos de aptidão, respeitado o nosso estágio evolutivo, para ajudar no trabalho do Mestre. Como disse Constantino, Espírito protetor:

Bons espíritas[2], meus bem-amados, sois todos obreiros da última hora. Bem orgulhoso seria aquele que dissesse: Comecei o trabalho ao alvorecer do dia e só o terminarei ao anoitecer. Todos viestes quando fostes chamados, um pouco mais cedo, um pouco mais tarde, para a encarnação cujos grilhões arrastais; mas há quantos séculos e séculos o Senhor vos chamava para a sua vinha, sem que quisésseis penetrar nela! Eis-vos no momento de embolsar o salário; empregai bem a hora que vos resta e não esqueçais nunca que a vossa existência, por longa que vos pareça, mais não é do que um instante fugitivo na imensidade dos tempos que formam para vós a eternidade.[3]
Que tenhamos vontade, estudos e muito desejo de nos melhorar, nos deixando iluminar pelo Cristo. Deixemo-nos constranger...
Que Deus nos ajude.
Domício.

[1] Vide mensagem de Emmanuel e nossa reflexão, sobre a Madalena, no nosso blog “Caminho, Verdade e Vida”.
[2] Segundo Allan Kardec, “Bem compreendido, mas sobretudo bem sentido, o Espiritismo leva aos resultados acima expostos, que caracterizam o verdadeiro espírita, como o cristão verdadeiro, pois que um o mesmo é que outro. O Espiritismo não institui nenhuma nova moral; apenas facilita aos homens a inteligência e a prática da do Cristo, facultando fé inabalável e esclarecida aos que duvidam ou vacilam” (In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, Item 4.
Para Paulo, o Apóstolo: “Esforçai-vos, pois, para que os vossos irmãos, observando-vos, sejam induzidos a reconhecer que verdadeiro espírita e verdadeiro cristão são uma só e a mesma coisa, dado que todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, sem embargo da seita a que pertençam” (In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV, Item 10.
[3] In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, Item 2.