domingo, 27 de dezembro de 2020

REPAREMOS NOSSAS MÃOS

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REPAREMOS NOSSAS MÃOS

Mostrou-lhes as suas mãos.

João (20:20).

Reaparecendo aos discípulos, depois da morte, eis que Jesus, ao se identificar, lhes deixa ver o corpo ferido, mostrando-lhes destacadamente as mãos...

As mãos que haviam restituído a visão aos cegos, levantado paralíticos, curado enfermos e abençoado velhinhos e crianças, traziam as marcas do sacrifício.

Traspassadas pelos cravos da cruz, lembravam-lhe a suprema renúncia.

As mãos do divino Trabalhador não recolheram do mundo apenas calos do esforço intensivo na charrua do bem. Receberam feridas sanguinolentas e dolorosas...

O ensinamento recorda-nos a atividade das mãos em todos os recantos do Globo.

O coração inspira.

O cérebro pensa.

As mãos realizam.

Em toda parte, agita-se a vida humana pelas mãos que comandam e obedecem.

Mãos que dirigem, que constroem, que semeiam, que afagam, que ajudam e que ensinam... E mãos que matam, que ferem, que apedrejam, que batem, que incendeiam, que amaldiçoam...

Todos possuímos nas mãos antenas vivas por onde se nos exterioriza a vida espiritual.

Reflete, pois, sobre o que fazes, cada dia.

Não olvides que, além da morte, nossas mãos exibem os sinais da nossa passagem pela Terra. As do Cristo, o Eterno Benfeitor, revelavam as chagas obtidas na divina lavoura do amor. As tuas, amanhã, igualmente falarão de ti, no mundo espiritual, onde, interrompida a experiência terrestre, cada criatura arrecada as bênçãos ou as lições da vida, de acordo com as próprias obras.

NOSSA REFLEXÃO

A passagem evangélica, inspiradora desta página de Emmanuel, ocorreu na despedida de Jesus após o Seu sacrifício último entre nós.

Entre crença e descrença, os discípulos, particularmente Tomé, precisava ver a materialização do Mestre para confirmar as escrituras e mesmo solidificar sua fé.

As mãos de Jesus foi como uma constatação de que o Messias esteve entre nós. Emmanuel, inspirada e conscientemente, simboliza a demonstração das mãos do Mestre como a prestação de contas que todo nós, ao retornar ao plano espiritual, devermos fazer.

Entendemos que nas mãos, como Emmanuel nos apresenta, está a prestação de contas de nossa vida física, após o desenlace do Espírito. Como ele, nesta mensagem, diz: “O coração inspira. O cérebro pensa. As mãos realizam”. Assim, a mão se configura como extensão do coração e do cérebro. Ela é a nossa primeira e permanente tecnologia ao longo da vida para realizarmos nossos planos elaborados pelo cérebro com grande contribuição do coração.

Do coração, nasce a ideia, a intenção, o modo como cada ação será desenvolvida. Neste processo está a nossa vitória ou a nossa queda ou mudança espiritual nula. O Cristo não deixou de nos exortar o modo como deveríamos exercer a caridade, como está grafado em Mateus (6: 1-4):

Quando derdes esmola, não saiba a vossa mão esquerda o que faz a vossa mão direita; a fim de que a esmola fique em segredo, e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará. (Mateus, 6: 3 e 4).[i]

Devemos em toda ação, não só na Assistência Social, usar nossas “mãos” da melhor maneira que possa significar requisitos para a nossa credencial no Reino de Jesus. O que fazemos com elas reverte nossa roupagem (ou “túnica nupcial”) que teremos quando quisermos adentrar a este Reino.[ii]

De outro modo, “pelas suas obras é que se reconhece o cristão”.[iii]

Que tenhamos isto em mente em toda realização nossa.

Que Deus nos ajude.

Domício.


[i] A. Kardec, sobre isso nos disserta: “Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita é uma imagem que caracteriza admiravelmente a beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a falsa modéstia, o simulacro da modéstia. Há pessoas que ocultam a mão que dá, tendo, porém, o cuidado de deixar aparecer um pedacinho, olhando em volta para verificar se alguém não o terá visto ocultá-la. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos são depreciados entre os homens, que não será perante Deus? Também esses já receberam na Terra sua recompensa. Foram vistos; estão satisfeitos por terem sido vistos. É tudo o que terão (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 13 (Não saiba a vossa mão esquerda o que dê a vossa mão direita), Item 3).
[ii] Mateus (22:11 e 12). Vide interpretação kardequiana à Parábola do Festim das Bodas, em que o Rei cobra a túnica nupcial a um dos participantes do festim, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII, Item 2: “[...] Jesus compara o Reino dos Céus, onde tudo é alegria e ventura, a um festim. Falando dos primeiros convidados, alude aos hebreus, que foram os primeiros chamados por Deus ao conhecimento da sua Lei. Os enviados do rei são os profetas que os vinham exortar a seguir a trilha da verdadeira felicidade; suas palavras, porém, quase não eram escutadas; suas advertências eram desprezadas; muitos foram mesmo massacrados, como os servos da parábola. Os convidados que se escusam, pretextando terem de ir cuidar de seus campos e de seus negócios, simbolizam as pessoas mundanas que, absorvidas pelas coisas terrenas, se conservam indiferentes às coisas celestes.”
[iii] Vide instrução do Espírito Simeão sobre este tema em O Evangelho Segundo o Espiritismo
, Cap. XVIII, Item 16.


domingo, 20 de dezembro de 2020

REVERÊNCIA E PIEDADE

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REVERÊNCIA E PIEDADE

Sirvamos a Deus, alegremente, com reverência e piedade.

Paulo (HEBREUS, 12:28).

"Sirvamos a Deus, alegremente" – solicita o Apóstolo –, mas não se esquece de acentuar a maneira pela qual nos compete servi-lo.

Não poderíamos estender a tristeza nas tarefas do bem.

Todos os elementos da Natureza obedecem às leis do Senhor, revelando alegria.

Brilha a constelação dentro da noite.

O Sol transborda calor e luz.

Cobre-se a Terra de flor e verdura.

Tem a fonte uma cantiga peculiar.

Entoa o pássaro melodias de louvor.

Não seria justo, pois, trazer, ao serviço que o Mestre nos designa, o pessimismo e a amargura.

O contentamento de ajudar é um dos sinais de nossa fé.

Entretanto, é necessário que a nossa alegria não se desmande em excessos.

Nem ruído inadequado, nem conceitos impróprios.

Nem palavras menos dignas, nem gargalhadas que poderiam apenas sugerir sarcasmo e desprezo.

Sirvamos alegremente, com reverência e piedade.

Reverência para com o Senhor e piedade para com o próximo.

Não podes pessoalizar o Todo-Misericordioso para lhe agradar, mas podemos servi-Lo diariamente na pessoa dos nossos irmãos de luta.

Conduzamos, assim, o carro de nosso trabalho sobre os trilhos do respeito e da caridade e encontraremos, em nosso favor, a alegria que nunca se extingue.

NOSSA REFLEXÃO

Fazendo uma analogia do modus operandi da Natureza com a nossa disposição de contribuir com o trabalho do Mestre, Emmanuel nos traz uma mensagem belíssima sobre o modo como devemos nos entregar ao trabalho cristão, pois nele estamos fazendo o que Pai e o Mestre, nosso intermediário ao Pai, esperam de nós.

Isto significa que devemos nos considerar uns aos outros “[...] para nos estimularmos à caridade e às boas obras”. (PAULO (HEBREUS 10 :24)). Sobre esta passagem evangélica, Emmanuel escreveu a página intitulada “Necessidade do Bem”, constante deste livro (mensagem de nº 176) e refletida por nós.

A serenidade, a alegria, indulgência e misericórdia deve estar conosco, e principalmente nos trabalhos coletivos de estudos e assistenciais espíritas. Se não for assim, estaremos atrapalhando mais que ajudando, sendo motivo destes sentimentos por parte dos demais.

Emmanuel nos explica o significado mensagem de Paulo, no prompt desta mensagem: Sirvamos alegremente, com reverência e piedade. Reverência para com o Senhor e piedade para com o próximo.[i]

Que sejamos cristãos em toda parte e toda hora.

Que Deus nos ajude.


[i] Recomendamos a leitura e reflexão dos capítulos XVIII (em especial as Instruções dos Espíritos) e XX de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

domingo, 13 de dezembro de 2020

RIQUEZA PARA O CÉU

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RIQUEZA PARA O CÉU

Ajuntai tesouros no céu.

Jesus (MATEUS: 6:20).

Quem se aflige indebitamente, ao ver o triunfo e a prosperidade de muitos homens impiedosos e egoístas, no fundo dá mostras de inveja, revolta, ambição e desesperança. É preciso que assim não seja!

Afinal, quem pode dizer que retém as vantagens da Terra, com o devido merecimento?

Se observamos homens e mulheres, despojados de qualquer escrúpulo moral, detendo valores transitórios do mundo, tenhamos, ao revés, pena deles.

A palavra do Cristo é clara e insofismável. – "Ajuntai tesouros no céu" – disse-nos o Senhor.

Isso quer dizer "acumulemos valores íntimos para comungar a glória eterna!"

Efêmera será sempre a galeria de evidência carnal.

Beleza física, poder temporário, propriedade passageira e fortuna amoedada podem ser simples atributo da máscara humana, que o tempo transforma, infatigável.

Amealhemos bondade e cultura, compreensão e simpatia.

Sem o tesouro da educação pessoal é inútil a nossa penetração nos Céus, porquanto estaríamos órfãos de sintonia para corresponder aos apelos da Vida superior.

Cresçamos na virtude e incorporemos a verdadeira sabedoria, porque amanhã serás visitado pela mão niveladora da morte e possuirás tão somente as qualidades nobres ou aviltantes que houveres instalado em ti mesmo.

NOSSA REFLEXÃO

Estamos na Terra, incorporado em um aparelho chamado corpo. Há um objetivo para isso: caminharmos em direção à perfeição espiritual que é relativa.

Isto é confirmado em O Livro dos Espíritos, na resposta dos Espíritos Superiores à A. Kardec, sobre a nossa progressão espiritual e como Deus nos possibilita isto:

(...) A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade.[i]

Neste processo, cada um vai acumulando dons, oferecidos por Deus, que são os legítimos tesouros que devemos acumular. Emmanuel, em sua mensagem, intitulada “Dons”, do livro Caminho, Verdade e Vida nos ilumina sobre isso[ii].

A despeito da realização dos outros, mesmo daqueles que demonstram ter alcançado por meios não legítimos, devemos nos resguardar de reclamar de nossa situação se não conseguimos tanto quanto gostaríamos de ter, pois nessa passagem carnal devemos objetivar, com mais ênfase, a nossa evolução espiritual que significa o acúmulo de bens espirituais e não patrimoniais.

Como nos diz nesta mensagem que refletimos:

“Amealhemos bondade e cultura, compreensão e simpatia. Sem o tesouro da educação pessoal é inútil a nossa penetração nos Céus, porquanto estaríamos órfãos de sintonia para corresponder aos apelos da Vida superior”.

Sigamos em frente, acumulando bens divinos, certos de que teremos, ao retornarmos à pátria espiritual, à vida futura, uma realização espiritual.[iii]

Que Deus nos ajude.

Domício.


[i] Vide em O Livro dos Espíritos, questão nº 115, sobre a progressão dos Espíritos: “Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus?”
[ii] Vide a mensagem na íntegra, seguida de nossa reflexão, em nosso blog espírita Caminho, Verdade e Vida.
[iii]
Recomendo o estudo do capítulo 16 de O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulado “Não se pode servir a Deus e a Mamon”.

domingo, 6 de dezembro de 2020

NECESSIDADE DO BEM

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NECESSIDADE DO BEM

E consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos à caridade e às boas obras.

Paulo (HEBREUS 10 :24).

Muitas instituições da vida cristã, respeitáveis por seus programas e fundamentos, sofrem prejuízos incalculáveis, em razão da leviandade com que muitos companheiros se observam uns aos outros.

Aqui, comenta-se o passado desairoso de quem procura hoje recuperar-se dignamente; ali, pequenos gestos infelizes são analisados, através das escuras lentes do sarcasmo e da crítica...

A censura e a reprovação indiscriminadas, todavia, derramam-se na família de ideal, como chuva de corrosivos na plantação, aniquilando germes nascentes, destruindo flores viçosas e envenenando frutos destinados aos celeiros do progresso comum.

Nunca é demais repetir a necessidade de perdão, bondade e otimismo, em nossas fileiras e atividades.

Lembremo-nos de que, com o nosso auxílio, tudo hoje pode ser melhor que ontem, e tudo amanhã será melhor que hoje.

O mal, em qualquer circunstância, é desarmonia à frente da Lei e todo desequilíbrio redunda em dificuldade e sofrimento.

Examinemo-nos mutuamente, acendendo a luz da fraternidade para que a fraternidade nos clareie os destinos.

Sem perseverança no bem, não há caminho para a felicidade.

Por isso mesmo, recomendou-nos o Apóstolo Paulo: - "e consideremo-nos uns aos outros para nos estimularmos à caridade e às boas obras", porque somente nessa diretriz estaremos servindo à construção do Reino do Amor.

NOSSA REFLEXÃO

A união em torno de um projeto é fundamental para que ele chegue a ser bem sucedido. Emmanuel, nesta mensagem, nos conclama, baseado em Paulo, a sermos unidos, fraternos, indulgentes e misericordiosos com os companheiros de um trabalho cristão, como todo espírita o é.

Sendo humanos, habitantes de um planeta de provas e expiações, é natural as desavenças. Mas toda desavença é um indicativo de aprendizagem e exercício da caridade. Não podemos perder energias convencendo um grupo cristão de que nós é que estamos certos em uma reunião de trabalho coletivo. Sejamos abertos a ideias novas, mas que estejam condizentes com a Doutrina Cristã. Com vontade de ajudar, e, assim, somos ajudados a ajudar, caminharemos para o bom senso.

Sendo nós trabalhadores da última hora, lembremos o que nos diz O Espírito de Verdade sobre esta questão:

Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!” Mas ai daqueles que, por efeito das suas dissensões, houverem retardado a hora da colheita, pois a tempestade virá e eles serão levados no turbilhão![i]

Tenhamos o entendimento que qualquer obra cristã não é de quem executa, mas, sim, do Mestre que conta com todos (as) aqueles (as) que estavam sem serviço e encontram uma oportunidade de colaborarem com uma obra que não é deles (as).[ii]

Tenhamos em mente que devemos ser humildes quando uma ideia nossa não é aceita pelos companheiros de um trabalho cristão. Ajudemos na medida do possível, sempre.

Que Deus nos ajude, hoje e sempre.

Domício.


[i] In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (Os trabalhadores de última hora), Item 5 (Os obreiros do Senhor). Sugiro ler a mensagem na íntegra.
[ii]
“2. O obreiro da última hora tem direito ao salário, mas é preciso que a sua boa vontade o haja conservado à disposição daquele que o tinha de empregar e que o seu retardamento não seja fruto da preguiça ou da má vontade. Tem ele direito ao salário, porque desde a alvorada esperava com impaciência aquele que por fim o chamaria para o trabalho. Laborioso, apenas lhe faltava o labor”(Constantino, Espírito Protetor in: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, Item 2).

domingo, 29 de novembro de 2020

MUDANÇA

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MUDANÇA

Mas não o receberam, porque o seu aspecto era como de quem ia a Jerusalém.

Lucas (9: 53).

Digna de nota a presente passagem de Lucas.

Reparando os samaritanos que Jesus e os discípulos se dirigiam a Jerusalém, negaram-se a recebê-los.

Identificaram-nos pelo aspecto.

Se fossem viajores com destino a outros lugares, talvez lhes oferecessem hospedagem, reconforto, alegria...

Não se verifica, até hoje, o mesmo fenômeno com os verdadeiros continuadores do Mestre?

Jerusalém, para nós, simboliza aqui testemunho de fé.

E basta que alguém se encaminhe resolutamente a semelhante domínio espiritual, para que os homens comuns, desorientados e discutidores, lhe cerrem as portas do coração.

Os descuidados, que rumam na direção dos prazeres fáceis, encontram imediato acolhimento entre os novos samaritanos do mundo.

Mulheres inquietas, homens enganadores e doentes espirituais bem apresentados possuem, por enquanto, na Terra, luzida assembleia de companheiros.

Todavia, quando o aprendiz de Jesus acorda na estrada humana, verificando que é indispensável fornecer testemunho da sua confiança em Deus, com a negação de velhos caprichos, na maior parte das vezes é constrangido a seguir sem ninguém.

É que, habitualmente, em tais ocasiões, o homem se revela modificado.

Não dá a impressão comum da criatura disposta a satisfazer-se.

É alguém resolvido a renunciar aos próprios defeitos e a anulá-los, a golpes de imenso esforço, para esposar a cruz redentora que o identificará com o Mestre Divino...

Por essa razão, mesmo portas adentro do lar, quase sempre não será plenamente reconhecido, porque seu aspecto sofreu metamorfose profunda... Ele mostra o sinal de quem tomou o rumo da definitiva renovação interior para Deus, disposto a consagrar-se ao eterno bem e a soerguer seu coração no grande caminho...

NOSSA REFLEXÃO

Esta mensagem alude a possibilidade de um adepto fervoroso do cristianismo ser estigmatizado por causa de sua crença.

Nosso Mestre previu isto quando nos orientou que o mundo resistiria à sua Doutrina, inclusive na intimidade do lar[i].

O preconceito religioso ainda é muito gritante em nosso planeta que está em transição para um Mundo de Regeneração[ii]. Então, o respeito ao outro e à sua crença  ainda é motivo de campanhas contra o preconceito religioso que ressalta o valor de uma Religião em relação a outra e, às vezes, com manifestações públicas de escárnio em relação a uma Religião que supostamente não segue a Doutrina Cristã.

Mesmo o nosso país sendo laico, a fé religiosa, mais que um móvel para reformas íntimas, muitas vezes servem como plataforma política em uma eleição revelando a total confusão em relação a estabelecer uma sintonia entre Jesus e Mamon[iii].

O Cristo também nos asseverou que:

Aquele que me confessar e me reconhecer diante dos homens, Eu também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai que está nos céus; e aquele que me renegar diante dos homens, também Eu o renegarei diante de meu Pai que está nos céus (MATEUS, 32 e 33). Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, o Filho do Homem também dele se envergonhará, quando vier na sua glória e na de seu Pai e dos santos anjos (LUCAS, 9:26)[iv].

Então, somos convidados nos identificar como espíritas mesmo que não sejamos aceitos como cristãos. Muito já se evoluiu em relação a isso. Como no início do Cristianismo, em que os cristãos foram perseguidos, inclusive entregues aos leões em praça de esportes para diversão da plateia e por isso tinham, em certos lugares, que se reunirem em cavernas, tanto no nascedouro do Espiritismo no Mundo, através de Allan Kardec, como no Brasil, o movimento espírita foi proibido judicialmente, de alguma forma, em algum momento histórico, de publicar seus princípios ou de se reunir para estudos ou práticas espíritas.[v][vi].

Assim, nosso compromisso maior com a Doutrina Espírita, além de estudá-la e divulgá-la, é o de nos reformamos intimamente, a despeito de qualquer rejeição preconceituosa em relação a nossa fé religiosa, seja na intimidade do lar ou em sociedade.

Que Deus nos ajude.

Domício.



[i] “Vim para lançar fogo à Terra; e que é o que desejo senão que ele se acenda? Tenho de ser batizado com um batismo e quanto me sinto desejoso de que ele se cumpra! Julgais que Eu tenha vindo trazer paz à Terra? Não, Eu vos afirmo; ao contrário, vim trazer a divisão; pois, doravante, se se acharem numa casa cinco pessoas, estarão elas divididas umas contra as outras: três contra duas e duas contra três. O pai estará em divisão com o filho e o filho com o pai, a mãe com a filha e a filha com a mãe, a sogra com a nora e a nora com a sogra” (Lucas, 12:49 a 53). Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIII, Item 11 a 18.

[ii] Vide sobre a pluralidade dos mundos habitados no Cap.III de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

[iii] Vide o Cap. XVI (Não se pode servir a Deus e a Mamon) de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

[iv] A. Kardec faz relação dessa passagem com a nossa conduta relativa a nossa identificação social como espírita em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXIV, itens 15 e 16.

[v] Vide artigo de A. Kardec na Revista Espírita (ano de 1866, mês de março), intitulado “O Espiritismo e a Magistratura – Perseguições judiciais contra o Espiritismo – Cartas de um Juiz de Instrução”.

[vi] Vide, também, artigo de Adriana Gomes, intitulado “Os impressos e a criminalização do espiritismo no Código Penal de 1890: os debates retóricos em periódicos do Rio de Janeiro”, publicado no site da Biblioteca Nacional e disponível em https://www.bn.gov.br/sites/default/files/documentos/producao/pesquisa/2015/impressos-criminalizacao-espiritismo-codigo-penal-1890.pdf. Acesso em 29/11/2020.

domingo, 22 de novembro de 2020

MÃOS ESTENDIDAS

174
MÃOS ESTENDIDAS

Estende a tua mão. E ele a estendeu e foi-lhe restituída a sua mão, sã como a outra (MARCOS, 3:5).

Em todas as casas de fé religiosa, há crentes de mãos estendidas, suplicando socorro...

Almas aflitas revelam ansiedade, fraqueza, desesperança e enfermidades do coração.

Não seremos todos nós, encarnados e desencarnados, que algo rogamos à Providência divina, semelhantes ao homem que trazia a mão seca?

Presos ao labirinto criado por nós mesmos, eís-nos a reclamar o auxílio do divino Mestre...

Entretanto, convém ponderar a nossa atitude.

É justo pedir e ninguém poderá cercear quaisquer manifestações da humildade, do arrependimento, da intercessão.

Mas é indispensável examinar o modo de receber.

Muita gente aguarda a resposta materializada de Jesus.

Esse espera o dinheiro, aquele conta com a evidência social de improviso, aquele outro exige a imediata transformação das circunstâncias no caminho terrestre...

Observemos, todavia, o socorro do Mestre ao paralítico.

Jesus determina que ele estenda a mão mirrada e, estendida essa, não lhe confere bolsas de ouro nem fichas de privilégio. Cura-a. Devolve-lhe a oportunidade de serviço.

A mão recuperada naquele instante permanece tão vazia quanto antes.

É que o Cristo restituía-lhe o ensejo bendito de trabalhar, conquistando sagradas realizações por si mesmo; recambiava-o às lides redentoras do bem, nas quais lhe cabia edificar-se e engrandecer-se.

A lição é expressiva para todos os templos da comunidade cristã.

Quando estenderes tuas mãos ao Senhor, não esperes facilidades, ouro, prerrogativas... Aprende a receber-lhe a assistência, porque o divino Amor te restaurará as energias, mas não te proporcionará qualquer fuga às realizações do teu próprio esforço.

NOSSA REFLEXÃO

Sabemos que, pelas informações contidas nas Obras Básicas do Espiritismo, somos devedores da Lei Maior. Portanto, devemos saber que precisamos daquilo que nos acontece involuntariamente, particularmente o que nos faz sofrer ou nos impede de atuar livremente onde nos situamos socialmente.

Jesus nos disse que se buscássemos, acharíamos[i]. Esta busca do dia a dia é um processo demorado. Às vezes, requer humildade, perseverança e muita fé em Deus e em si mesmo.[ii]

Não somos privilegiados por isenção do trabalho quando solicitamos a ajuda espiritual, como Emmanuel nos deixa evidente nesta mensagem que ora refletimos. Mas não devemos deixar de procurar ajuda. O Cristo ou um de seus prepostos nos dará condições físicas ou intuitivas para realizarmos o que temos que realizar. A gente sente quando isso se dá.

Que nós estejamos sempre altivos e ativos para fazer a nossa parte. Isto significará sempre a mão estendida à Jesus. Devemos, também, ser o instrumento de Jesus para dar o que os outros precisam para continuar sua caminhada, com saúde e oportunidade para fazerem sua parte. Pois, muitas vezes somos ajudados dessa forma. Estejamos prontos para tal fim.

Que Deus nos ampare sempre, seja para pedir como para ser a resposta de Jesus aos nossos irmãos e às nossas irmãs.

Domício.


[i] Isto significa que devemos nos ajudar para que o Céu nos ajude. Ou seja, devemos fazer a nossa parte. Vide explanação de A. Kardec sobre este tema em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXV, Item 2. Recomendo a leitura de todo o Capítulo.
[ii] Vide sobre “A fé humana e a divina” em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, Item 12. 


domingo, 15 de novembro de 2020

ANTE A LUZ DA VERDADE

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ANTE A LUZ DA VERDADE

Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.

Jesus (JOÃO, 8:32).

A palavra do Mestre é clara e segura.

Não seremos libertados pelos "aspectos da verdade" ou pelas "verdades provisórias" de que sejamos detentores no círculo das afirmações apaixonadas a que nos inclinemos.

Muitos, em política, filosofia, ciência e religião, se afeiçoam a certos ângulos da verdade e transformam a própria vida numa trincheira de luta desesperada, a pretexto de defendê-la, quando não passam de prisioneiros do "ponto de vista".

Muitos aceitam a verdade, estendem-lhe as lições, advogam-lhe a causa e proclamam-lhe os méritos, entretanto, a verdade libertadora é aquela que conhecemos na atividade incessante do eterno Bem.

Penetrá-la é compreender as obrigações que nos competem.

Discerni-la é renovar o próprio entendimento e converter a existência num campo de responsabilidade para com o melhor.

Só existe verdadeira liberdade na submissão ao dever fielmente cumprido.

Conhecer, portanto, a verdade é perceber o sentido da vida.

E perceber o sentido da vida é crescer em serviço e burilamento constantes.

Observa, desse modo, a tua posição diante da Luz...

Quem apenas vislumbra a glória ofuscante da realidade, fala muito e age menos. Quem, todavia, lhe penetra a grandeza indefinível, age mais e fala menos.

NOSSA REFLEXÃO

Essa passagem evangélica, faz parte de um debate de Jesus com os fariseus (que se diziam filhos de Abraão), quando eles questionaram o testemunho do Cristo de que Ele era o enviado de Deus, e que os interlocutores só veriam a Deus se o vissem como o Caminho, a Verdade e a Vida, pois Ele era o enviado do Pai (JOÃO, 8: 31-59).

Temos certo, que os detentores de muitas informações se consideram suficientemente preparados para se conduzir diante das coisas e seus semelhantes. Mas deter conhecimento não significa estar, de fato, esclarecido. É importante que o conhecimento se faça significativo e transformador de atos, pois considera-se que os pensamentos foram modificados em relação ao conhecimento.

Como Emmanuel nos esclarece, nesta mensagem, “muitos, em política, filosofia, ciência e religião, se afeiçoam a certos ângulos da verdade e transformam a própria vida numa trincheira de luta desesperada, a pretexto de defendê-la, quando não passam de prisioneiros do ‘ponto de vista’”.

Desse modo, religiosos (as) cristãos (ãs) de todos os matizes, particularmente, espíritas, acostumados a palestrarem, organizam-se em torno da “palavra” memorizada, extraída dos seus livros doutrinários/bíblicos e se dizem, por isso, que ficam com o Cristo, com a Bíblia ou com A. Kardec, por exemplo, esquecendo que a Verdade é muito maior que determinados trechos extraídos das obras referenciadas, conforme a crença. Devemos ter cuidado com o dogmatismo religioso decorrente de leituras estanques que não são, nas mais diversas vezes, contextualizadas..

Sejamos tal qual o segundo grupo dos referidos por Emmanuel no final desta mensagem: “Quem apenas vislumbra a glória ofuscante da realidade, fala muito e age menos. Quem, todavia, lhe penetra a grandeza indefinível, age mais e fala menos”[i].

Que Deus nos ajude.

Domício.



[i] Esta afirmação de Emmanuel é coerente com a máxima cristã “a quem muito é dado muito será pedido”. Encontramos uma dissertação de A. Kardec a respeito em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII, Item 12, em que ele comenta Lucas (12: 47 e 48) e João (9: 39 a 41). Apresentamos, aqui, um destaque da dissertação: “Aquele, portanto, que não aproveita essas máximas para melhorar-se, que as admira como coisas interessantes e curiosas, sem que lhe toquem o coração, que não se torna nem menos vão, nem menos orgulhoso, nem menos egoísta, nem menos apegado aos bens materiais, nem melhor para seu próximo, mais culpado é, porque mais meios tem de conhecer a verdade”.