domingo, 28 de abril de 2019

VÊ E SEGUE


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VÊ E SEGUE
Uma coisa sei: eu era cego e agora vejo.
João (9:25).
Apesar de o trabalho renovador do Evangelho, nos círculos da consolação e da pregação, desdobrar-se, diante das massas, semeando milagres de reconforto na alma do povo, o serviço sutil e quase desconhecido do aproveitamento da Boa Nova é sempre individual e intransferível.
Os aprendizes da vida cristã, na atividade vulgar do caminho, desfrutam do conceito de normalidade, mas se não gozam de vantagens observáveis no imediatismo da experiência humana, quais sejam as da consolação, do estímulo ou da prosperidade material, de maneira a gravarem o ensinamento vivo de Jesus, nas próprias vidas, passam à categoria de pessoas estranhas, muita vez ante os próprios companheiros de ministério.
Chegado a semelhante posição, e se sabe aproveitar a sublime oportunidade pela submissão e diligência, o discípulo experimenta completa transposição de plano.
Modifica a tabela de valores que o rodeiam.
Sabe onde se ocultam os fundamentos eternos.
Descortina esferas novas de luta, através da visão interior que outros não compreendem.
Descobre diferentes motivos de elevação, por intermédio do sacrifício pessoal, e identifica fontes mais altas de incentivo ao esforço próprio.
Em vista disso, frequentemente provoca discussões acesas, com respeito à atitude que adota à frente de Jesus.
Por ver, com mais clareza, as instruções reveladas pelo Mestre, é tido à conta de fanático ou retrógrado, idiota ou louco.
Se, porém, procuras efetivamente a redenção com o Senhor, prossegue seguro de ti mesmo; repara, sem aflição e sem desânimo, as contendas que a ação genuína de Jesus em ti recebe de corações incompreensivos e estacionários, repete as palavras do cego que alcançou a visão e segue para diante.
NOSSA REFLEXÃO
O nosso egoísmo, acomodação às vantagens fáceis, defendidas a unhas e dentes, têm sido nossa marca espiritual ao longo dos milênios. Apesar de, muitos de nós, termos vivido na época de Jesus, e até mesmo, convivendo contemporaneamente na mesma região dele, essas limitações têm dificultado nossa ascensão espiritual. Se fomos orientadores do mundo, ou somos, a vaidade nos embotou, e ainda nos embota, mais ainda, a nossa visão espiritual[1]. Em verdade, Jesus não veio para os que diziam que viam, mas para àqueles que achavam que não viam e desejavam ver (João, 9: 24 – 41)[2].
Conforme Emmanuel, nessa mensagem, ora refletida por nós, não precisamos nos sentir contemplados/respeitados, em nossas crenças, se elas nos modificarem, pois muito entenderão que não temos condições de os ensinar, como ocorreu no episódio com o cego de Jericó. Acreditamos que, de fato, descobrimos as verdades eternas no tempo certo. Vide o que aconteceu com Paulo, o Apóstolo. Precisou ficar cego, materialmente falando, para conseguir, a partir de então, ver as claridades trazidas pelo Mestre[3].
Que nós consigamos enxergar mais e seguir a Luz a nossa frente.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Vide a mensagem, intitulada “Orientadores do mundo”, de Emmanuel, no livro “Caminho, Verdade e Vida”, com a nossa reflexão.
[2] Vide interpretação de A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII, item 12.
[3] Vide, também, a mensagem de Emmanuel, intitulada “O cego de Jericó”, do livro Caminho, Verdade e Vida, com a nossa reflexão.

domingo, 21 de abril de 2019

CAPACETE DA ESPERANÇA


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CAPACETE DA ESPERANÇA
Tendo por capacete a esperança na salvação.
Paulo (I Tessalonicenses, 5:8).
O capacete é a defesa da cabeça em que a vida situa a sede de manifestação ao pensamento e Paulo não podia lembrar outro símbolo mais adequado à vestidura do cérebro cristão, além do capacete da esperança na salvação.
Se o sentimento, muitas vezes, está sujeito aos ataques da cólera violenta, o raciocínio, em muitas ocasiões, sofre o assédio do desânimo, à frente da luta pela vitória do bem, que não pode esmorecer em tempo algum.
Raios anestesiantes são desfechados sobre o ânimo dos aprendizes por todas as forças contrárias ao Evangelho salvador.
A exigência de todos e a indiferença de muitos procuram cristalizar a energia do discípulo, dispersando-lhe os impulsos nobres ou neutralizando-lhe os ideais de renovação.
Contudo, é imprescindível esperar sempre o desenvolvimento dos princípios latentes do bem ainda mesmo quando o mal transitório estenda raízes em todas as direções.
É necessário esperar o fortalecimento do fraco, à maneira do lavrador que não perde a confiança nos grelos tenros; aguardar a alegria e a coragem dos tristes, com a mesma expectativa do floricultor que conta com revelações de perfume e beleza no jardim cheio de ramos nus.
É imperioso reconhecer, todavia, que a serenidade do cristão nunca representa atitude inoperante, por agir e melhorar continuadamente pessoas, coisas e situações, em todas as particularidades do caminho.
Por isso mesmo, talvez, o Apóstolo não se refere à touca protetora.
Chapéu, quase sempre, indica passeio, descanso, lazer, quando não defina convenção no traje exterior, de acordo com a moda estabelecida.
Capacete, porém, é indumentária de luta, esforço, defensiva.
E o discípulo de Jesus é um combatente efetivo contra o mal, que não dispõe de multo tempo para cogitar de si mesmo, nem pode exigir demasiado repouso, quando sabe que o próprio Mestre permanece em trabalho ativo e edificante.
Resguardemos, pois, o nosso pensamento com o capacete da esperança fiel e prossigamos para a vitória suprema do bem.
NOSSA REFLEXÃO
Todo aquele que, inspirado pelo Cristo, conforme suas lições grafadas pelos seus Discípulos, almeja paz íntima, alegria, união entre os homens e sofre por desânimo ao ver tanta injustiça, dor, desesperança e descrédito das pessoas em um mundo melhor.
Mas aquele (a) que se candidata a noviço (a) às hostes evangélicas, sintonizado (a) que se vê com as suas claridades, certamente se deterá para pensar sobre o estágio evolutivo da humanidade. A maldade, a injustiça, o preconceito, a fome, doenças, etc., imperando, o faz esmorecer diante de tudo isso.
Quando da vinda de Jesus, entretanto, já existia essas situações, em grau maior, mas o Cristo, esperançoso que se mostrou, apresentou um programa de evolução para a Terra. Um programa com mais de dois mil anos para se concretizar. Naquela oportunidade, Ele, sabedor de nossa ignorância, falou-nos por parábolas, prometendo um Consolador que explicaria tudo. Isso só se deu, 1824 anos depois de sua partida, com a 3ª Revelação, a Doutrina dos Espíritos, codificada por Allan Kardec.[1]
De 1857 para os dias de hoje, pensamos que a humanidade evoluiu muito, em termos morais, apesar que evoluiu muito mais em termos intelectuais. Todavia, há, ainda, muita maldade imperando e sendo divulgada com a velocidade da internet. Todo dia, somos assaltados com notícias de assaltos, suicídios, todo tipo de assassinato, com relevo aos feminicídios, apesar dos movimentos em favor das mulheres. É para esmorecer qualquer cristão...
Mas Emmanuel nos dá uma injeção de ânimo com essa mensagem. O trabalho do Mestre continua, de modo a refletir na continuidade do trabalho, de renovação própria e da humanidade, daquele que o vê como o Caminho, a Verdade e a Vida.
Que tenhamos uma fé operante, pois a esperança e a caridade brotará mais pujantemente de nós, dado que
A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?[2]

Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] A 1ª edição de O Livro dos Espíritos foi publicada por Allan Kardec no dia 18 de abril de 1857, sendo ampliada em 1860.
[2] Extraído da mensagem de José, Espírito protetor em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 11.

terça-feira, 16 de abril de 2019

Uma pausa para uma viagem

Avisamos aos amigos e amigos desse blog que no domingo passado não pudemos realizar o post por estarmos em processo de viagem.
No próximo domingo (21/04/19) retomaremos nosso trabalho de reflexão neste espaço virtual.
Atenciosamente grato.
Domício

domingo, 7 de abril de 2019

ALTAR ÍNTIMO


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ALTAR ÍNTIMO
Temos um altar.
Paulo (Hebreus, 13:10).
Até agora, construímos altares em toda parte, reverenciando o Mestre e Senhor.
De ouro, de mármore, de madeira, de barro, recamados de perfumes, preciosidades e flores, erguemos santuários e convocamos o concurso da arte para os retoques de iluminação artificial e beleza exterior.
Materializado o monumento da fé, ajoelhamo-nos em atitude de prece e procuramos a inspiração divina.
Realmente, toda movimentação nesse sentido é respeitável, ainda mesmo quando cometemos o erro comum de esquecer os famintos da estrada, em favor das suntuosidades do culto, porque o amor e a gratidão ao Poder Celeste, mesmo quando malconduzidos, merecem veneração.
Todavia, é imprescindível crescer para a vida maior.
O próprio Mestre nos advertiu, junto à Samaritana, que tempos viriam em que o Pai seria adorado em espírito e verdade.
E Paulo acrescenta que temos um altar.
A finalidade máxima dos templos de pedra é a de despertar-nos a consciência.
O cristão acordado, porém, caminha oficiando como sacerdote de si mesmo, glorificando o amor perante o ódio, a paz diante da discórdia, serenidade à frente da perturbação, o bem à vista do mal.
Não olvidemos, pois, o altar íntimo que nos cabe consagrar ao Divino Poder e à Celeste Bondade.
Comparecer, ante os altares de pedra, de alma cerrada à luz e à inspiração do Mestre, é o mesmo que lançar um cofre impermeável de trevas à plena claridade solar. Se as ondas luminosas continuam sendo ondas luminosas, as sombras não se alteram igualmente.
Apresentemos, portanto, ao Senhor as nossas oferendas e sacrifícios em quotas abençoadas de amor ao próximo, adorando-o, através do altar do coração, e prossigamos no trabalho que nos cabe realizar.
NOSSA REFLEXÃO
Como Emmanuel nos fala, nesta mensagem, já foi o tempo de erigirmos altares para fazer oferendas e prestar culto ao Senhor. Apesar de entendermos que muitos companheiros ainda sentem necessidade de assim proceder, devemos, num processo evolutivo de adoração ao Senhor, mudar nossa prática, erigindo um altar íntimo, como Emmanuel nos propõe.
O Cristo já nos dissera, quando esteve conosco, que entre os que se ajoelham, depois de colocar diversas oferendas num altar, poucos se comparam com aquele ou aquela que, tendo pouco, dá o que, em tese, não poderiam, como a passagem evangélica do Óbolo da Viúva[1] nos faz refletir. A pobre viúva, como nos parece, não via, naquele gesto, uma possibilidade de impressionar nem a Deus e nem aos homens (no sentido conotativo da palavra). Apesar de fazê-lo num templo, pois fazia parte do culto de adoração, o altar dela era íntimo.
Do mesmo modo, lembramos outra passagem evangélica em que um publicano (considerado pelos judeus uma pessoa de má vida[2]), num momento de oração, também num templo, o faz em silêncio, pois se considera um pecador (Lucas, 18:9 a 14.)[3].
Que saibamos conversar intimamente com Deus e aproveitar o máximo possível dessa conversa para a nossa reforma íntima.
Que Ele nos ajude.
Domício.


[1] “Estando Jesus sentado defronte do gazofilácio a observar de que modo o povo lançava ali o dinheiro, viu que muitas pessoas ricas o deitavam em abundância. Nisso, veio também uma pobre viúva que apenas deitou duas pequenas moedas do valor de dez centavos cada uma. Chamando então seus discípulos, disse-lhes: “Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu muito mais do que todos os que antes puseram suas dádivas no gazofilácio, pois que todos os outros deram do que lhes abunda, ao passo que ela deu do que lhe faz falta, deu mesmo tudo o que tinha para seu sustento” (Marcos, 12:41 a 44; Lucas, 21:1 a 4). Vide interpretação de A. Kardec a esta passagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 6.
[2] Vide Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
[3] Vide interpretação de A. Kardec a esta passagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XXVII, Item 4.