domingo, 25 de março de 2018

NA SENDA ESCABROSA


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NA SENDA ESCABROSA
Nunca te deixarei, nem te desampararei.
Paulo (HEBREUS, 13: 5).
A palavra do Senhor não se reporta somente à sustentação da vida física, na subida pedregosa da ascensão.
Muito mais que de pão do corpo, necessitamos de pão do espírito.
Se as células do campo fisiológico sofrem fome e reclamam a sopa comum, as necessidades e desejos, impulsos e emoções da alma provocam, por vezes, aflições desmedidas, exigindo mais ampla alimentação espiritual.
Há momentos de profunda exaustão, em nossas reservas mais íntimas.
As energias parecem esgotadas e as esperanças se retraem apáticas.
Instala-se a sombra, dentro de nós, como se espessa noite nos envolvesse.
E qual acontece à natureza, sob o manto noturno, embora guardemos fontes de entendimento e flores de boa-vontade, na vasta extensão do nosso país interior, tudo permanece velado pelo nevoeiro de nossas inquietações.
O Todo-Misericordioso, contudo, ainda aí, não nos deixa completamente relegados à treva de nossas indecisões e desapontamentos. Assim como faz brilhar as estrelas fulgurantes no alto, desvelando os caminhos constelados do firmamento ao viajor perdido no mundo, acende, no céu de nossos ideais, convicções novas e aspirações mais elevadas, a fim de que nosso espírito não se perca na viagem para a vida superior.
"Nunca te deixarei, nem te desampararei" - promete a divina Bondade.
Nem solidão, nem abandono.
A Providência celestial prossegue velando...
Mantenhamos, pois, a confortadora certeza de que toda tempestade é seguida pela atmosfera tranquila e de que não existe noite sem alvorecer.
NOSSA REFLEXÃO
Essa mensagem nos reporta aos quadros lancinantes que muitos passam nessa vida. Esquecemos das situações mais agonizantes, por que passam tantos irmãos nossos nesse planeta, quando nos detemos em reclamações das situações adversas por que passamos.
Essa mensagem nos lembra a bem-aventurança “bem-aventurados os aflitos[1]” anotada para nós por Jesus. A esperança em dias melhores nos fortalece diante dos revezes da vida. A paciência e a resignação ativa nos elevam diante das dores do mundo exemplificando a fé e a esperança num mundo melhor, que não necessariamente este, mas se pudermos ficar nele, quando se efetivar como mundo de regeneração[2], melhor.
O ditado “depois da tempestade vem a bonança” é considerado com outras palavras por Emmanuel. A renovação pode vir depois da desolação; a construção, em geral, requer uma destruição. A manutenção da vida pede a extinção de alguns elementos, em proporções providenciais. Quantas células são mortas num banho para ficarmos limpos e cheirosos....
Desde que tenha um fim útil, o revés nos traz muitas lições, nos colocando no prumo da vida, nos fazendo pensar num “novo fim a partir de um novo recomeço”.
As decepções, desilusões, perdas de oportunidades e insucessos nos trazem tristezas, nos abatem como se estivéssemos diante de um vendaval pronto a nos sucumbir. Tenhamos força e fé, pois qualquer temporal passa; deixa destroços, mas passa. O recomeço, de modo colaborativo, pois sempre nos chega o auxilio nessas horas, é intimamente renovador. Só o fato de estarmos vivos, e sempre estaremos, chova pedra ou canivetes, já é um grande consolo.
Creiamos numa vida futura[3] melhor, seja ainda encarnado ou após a morte do corpo, quando temos a vida verdadeira, que Jesus nos prometeu, na certeza de que nunca estaremos sozinhos, mesmo nas situações que aparentemente pareçam de solidão; a companhia não nos faltará.
Creiamos na bondade e providência do Senhor.
Domício.



[2] Vide itens 13 a 18 do Cap. III de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
[3] Vide item itens 3, 12 e 17 do Cap. V de O Evangelho Segundo o Espiritismo

domingo, 18 de março de 2018

ANTE O OBJETIVO


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ANTE O OBJETIVO
Para ver se de algum modo posso chegar à ressurreição.
Paulo (FILIPENSES, 3 :11.)
Alcançaremos o alvo que mantemos em mira:
O avarento sonha com tesouros amoedados e chega ao cofre-forte.
O malfeitor comumente ocupa largo tempo, planificando a ação perturbadora, e comete o delito.
O político hábil anseia por autoridade e atinge alto posto no domínio terrestre.
A mulher desprevenida, que concentra as ideias no desperdício das emoções, penetra o campo das aventuras inquietantes.
E cada meta a que nos propomos tem o preço respectivo.
O usurário, para amealhar o dinheiro, quase sempre perde a paz.
O delinquente, para efetuar a falta que delineia, avilta o nome.
O oportunista, para conseguir o lugar de mando, muitas vezes desfigura o caráter.
A mulher desajuizada, para alcançar fantasiosos prazeres, abdica, habitualmente, o direito de ser feliz.
Se impostos tão pesados são exigidos na Terra aos que perseguem resultados puramente inferiores, que tributos pagará o espírito que se candidata à glória na vida eterna?
O Mestre na cruz é a resposta para todos os que procuram a sublimidade da ressurreição.
Contemplando esse alvo, soube Paulo buscá-lo, em meio a incompreensões, açoites, aflições e pedradas, servindo constantemente, em nome do Senhor.
Se desejas, por tua vez, chegar ao mesmo destino, centraliza as aspirações no objetivo santificante e segue, com valoroso esforço, na conquista do eterno prêmio.
NOSSA REFLEXÃO
A Porta é estreita[1], mas o vislumbre depois dela é esplendoroso. Sim, se desejamos ser feliz, não na Terra, nesse período que ainda transita de provas e expiações para o de regeneração[2], temos que estar abertos aos açoites e pedradas pela tomada de atitude de seguir o Mestre. Os inimigos e os incompreensíveis ainda são de grande número, sejam do plano dos desencarnados, como do nosso próprio. Paulo, seu Apóstolo que ressurgiu dos escombros de sua intolerância, levou ao pé da letra, não com inconsciência, os ditames de Jesus reunidos por Allan Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXIII (Moral Estranha) para destacar o que significava seguir a Jesus na sua mais pura compreensão e submissão, pensando na felicidade futura que, como já dissemos acima, não encontraremos aqui, por enquanto[3]. Jesus já disse na oportunidade de sua estada entre nós que o Seu Reino não é deste mundo (João, 18:33, 36 -37).[4].
Então, devemos ter em mente que não é fácil sermos seguidores da doutrina cristã na sua mais sublime e original versão. Contudo, é possível. Exemplos não faltam. Sigamos!!
Que Deus nos ajude.
Domício.

Ps. Deixo um poema de L. Angel

L. ANGEL. 04/09/2016
Quando a luta se exacerba,
E a porta se estreita,
É bom pensar que, nessa gleba,
Somos deuses – essa ideia não se rejeita.
Bem-aventurados os aflitos,
Disse o Mestre Jesus.
Não podemos esquecer esse dito,
Pois até ele, resignado, carregou sua cruz.
A felicidade não é desse mundo,
Dizem as Escrituras.
Elevemos nossa fé, se nos sentirmos moribundos.
A dor e o revés têm uma razão de ser.
Então, acreditemos na vida futura,
Valorizando, eternamente, nosso viver.



[1] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVIII, itens 3-5.
[3] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.V, item 19.
[4] Vide interpretação em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap II.

domingo, 11 de março de 2018

FÉ INOPERANTE


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FÉ INOPERANTE
Assim também a fé., se não tiver as obras, é morta em si mesma.
(TIAGO, 2:17.)
A fé inoperante é problema credor da melhor atenção, em todos os tempos, a fim de que os discípulos do Evangelho compreendam, com clareza, que o ideal mais nobre, sem trabalho que o materialize, a benefício de todos, será sempre uma soberba paisagem improdutiva.
Que diremos de um motor precioso do qual ninguém se utiliza? De uma fonte que não se movimente para fertilizar o campo? De uma luz que não se irradie?
Confiaremos com segurança em determinada semente, todavia, se não a plantamos, em que redundará nossa expectativa, senão em simples inutilidade? Sustentaremos absoluta esperança nas obras que a tora de madeira nos fornecerá, mas se não nos dispomos a usar o serrote e a plaina, certo a matéria-prima repousará, indefinidamente, a caminho da desintegração.
A crença religiosa é o meio.
O apostolado é o fim.
A celeste confiança ilumina a inteligência para que a ação benéfica se estenda, improvisando, por toda parte, bênçãos de paz e alegria, engrandecimento e sublimação.
Quem puder receber uma gota de revelação espiritual, no imo do ser, demonstrando o amadurecimento preciso para a vida superior, procure, de imediato, o posto de serviço que lhe compete, em favor do progresso comum.
A fé, na essência, é aquele embrião de mostarda do ensinamento de Jesus que, em pleno crescimento, através da elevação pelo trabalho incessante, se converte no Reino Divino, onde a alma do crente passa a viver.
Guardar, pois, o êxtase religioso no coração sem qualquer atividade nas obras de desenvolvimento da sabedoria e do amor, consubstanciados no serviço da caridade e da educação, será conservar na terra viva do sentimento um ídolo morto, sepultado entre as flores inúteis das promessas brilhantes.
NOSSA REFLEXÃO
Todos temos fé. Uns mais, outros menos. Alguém, quando deseja fortemente realizar algo, conta com suas forças físicas, saúde e uma consciência da realização futura. Se baseia em metas e segue passo a passo, confiando que está no caminho certo. Todavia, o fervoroso, de que vai ser bem-sucedido, depara com muitos obstáculos que ativam sua inteligência e as suas virtudes de homem de bem, no sentido evangélico[1]. Então, é necessário ter uma fé robusta, pois ela
(...) dá a perseverança, a energia e os recursos que fazem se vençam os obstáculos, assim nas pequenas coisas, que nas grandes. Da fé vacilante resultam a incerteza e a hesitação de que se aproveitam os adversários que se têm de combater; essa fé não procura os meios de vencer, porque não acredita que possa vencer. Allan Kardec (In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, Item 2).
Emmanuel nos faz lembrar a Parábola da Figueira (Marcos, 11:12 a 14 e 20 a 23; O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, itens 8—10). Se somos cristãos (valendo para todas as religiões que tem por base a Doutrina de Jesus Cristo) temos que ser operante em nossa fé. Que, nós espíritas, consigamos, unificados em Allan Kardec, seguir em nosso movimento, seja individual ou coletivo, produzindo obras da fé espírita[2] (raciocinada com base nos princípios espíritas).
Que Deus nos ajude.
Domício.

PS. Sobre a fé robusta e operosa, deixo aqui um poema de L. Angel.

ANDAR COM FÉ
L. ANGEL    30/08/2010
“Andar com fé eu vou”,
Eis a disposição do poeta
Que artisticamente musicou
Uma ideia, uma meta.

A fé pode ser
Divina ou humana.
A humana estar para o conhecer,
Como a Divina está para o ser que ama.

Quem acredita em seu potencial,
Sempre cresce e realiza prodígios.
Para quem acredita no amor celestial,
A desesperança, em sua vida, não tem vestígios.

Feliz é o Espírito fervoroso,
Pois é sempre otimista e paciente.
Nada para ele é oneroso
E tudo conquista de modo consciente.

Andar com fé,
Esperançoso em dias melhores,
Eis a atitude daquele que quer
E não acredita em dias piores.


[1] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVII, itens 3 e 4.
[2] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, itens 6 e 7.

domingo, 4 de março de 2018

SE SOUBÉSSEMOS


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SE SOUBÉSSEMOS
Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem - Jesus.
LUCAS (23 :34.)
Se o homicida conhecesse, de antemão, o tributo de dor que a vida lhe cobrará, no reajuste do seu destino, preferiria não ter braços para desferir qualquer golpe.
Se o caluniador pudesse eliminar a crosta de sombra que lhe enlouquece a visão, observando o sofrimento que o espera no acerto de contas com a verdade, paralisaria as cordas vocais ou imobilizaria a pena, a fim de não se confiar à acusação descabida.
Se o desertor do bem conseguisse enxergar as perigosas ciladas com que as trevas lhe furtarão o contentamento de viver, deter-se-ia feliz, sob as algemas santificantes dos mais pesados deveres.
Se o ingrato percebesse o fel de amargura que lhe invadirá, mais tarde, o coração, não perpetraria o delito da indiferença.
Se o egoísta contemplasse a solidão infernal que o aguarda, nunca se apartaria da prática infatigável da fraternidade e da cooperação.
Se o glutão enxergasse os desequilíbrios para os quais encaminha o próprio corpo, apressando a marcha para a morte, renderia culto invariável à frugalidade e à harmonia.
Se soubéssemos quão terrível é o resultado de nosso desrespeito às Leis Divinas, jamais nos afastaríamos do caminho reto.
Perdoa, pois, a quem te fere e calunia.
Em verdade, quantos se rendem às sugestões perturbadoras do mal, não sabem o que fazem.

NOSSA REFLEXÃO
Somos Espíritos milenares, e, muito de nós, quem sabe, estivemos com Jesus e o renegamos, sorrimos de seu padecimento e lhe desejamos a morte. Enquanto estivermos na Terra, nesse período que se finaliza, de provas e expiações[1], estaremos em contato com a possibilidade de trair os mais queridos, quando não sermos traídos pelos que mais queremos bem.
Durante esse tempo, estaremos convidados a perdoar setenta vezes sete vezes[2] (Mateus, 18:15, 21 e 22; Mateus, 5:7; Mateus, 6:14 e 15.) como Jesus nos ensinou. Não só a quem nos fere, mas a todo aquele que observamos no erro. Oremos por ele como Jesus orou pelos seus algozes nos últimos estertores de sua vida de Luz aqui na Terra.
Por que devemos agir assim? Porque todos os filhos da criação estão fadados ao progresso intelectual e moral[3]. Cada Espírito que convive conosco, amigos ou estranhos, queridos ou desafetos, compreenderá que deve mudar no seu momento particular. Não adianta sermos intolerantes com sua resistência em não mudar, por que não mudará por causa de nossa intolerância com sua maneira de ser. Devemos sim, sermos intolerantes com o nosso modo de ser[4], que também incomoda muito às pessoas.
Conforme Emmanuel, nessa mensagem, “em verdade, quantos se rendem às sugestões perturbadoras do mal, não sabem o que fazem”. Isto não se refere somente aos criminosos, mas também, a nós cristãos, e, em particular, espíritas, quando caímos em tentação, mesmo sabendo o que nos espera, por ter estudado muito, num momento de puro automatismo espiritual de um Espírito ainda em evolução. Isto se deve porque conhecimento não significa saber.....
Que saibamos lembrar o que já sabemos para não cairmos em tentação, evitando assim a contingência do ranger de dentes[5].
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Vide O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. III, item 13.
[2] Vide interpretação Kardequiana em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. X, itens 1, 2,3 e 4.
[3] Vide O Livro dos Espíritos, Parte 4, cap. VII, questões 779 a 793.
[4] Vide o Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. X, itens 9 e 10.
[5] Vide o Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVIII, itens 3, 4 e 5.