domingo, 29 de março de 2020

APÓS JESUS


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APÓS JESUS
E, quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus.
Lucas (23:26).
A multidão que rodeava o Mestre, no dia supremo, era enorme.
Achavam-se ali os gozadores impenitentes do mundo, os campeões da usura, os escarnecedores, os ignorantes, os espíritos fracos que reconheciam a superioridade do Cristo e temiam anunciar as próprias convicções, os amigos vacilantes do Evangelho, as testemunhas acovardadas, os beneficiados pelo Divino Médico, que se ocultavam, medrosos, com receio de sacrifícios...
Mas um estrangeiro, instado pelo povo, aceitou o madeiro, embora constrangido, e seguiu carregando-o, após Jesus.
A lição, entretanto, seria legada aos séculos do futuro...
O mundo ainda é uma Jerusalém enorme, congregando criaturas dos mais variados matizes, mas se te aproximas do Evangelho, com sinceridade e fervor, colocam-te a cruz sobre o coração.
Daí em diante, serás compelido às maiores demonstrações de renúncia, raros te observarão o cansaço e a angústia e, não obstante a tua condição de servidor, com os mesmos problemas dos outros, exigir-te-ão espetáculos de humildade e resistência, heroísmo e lealdade ao bem.
Sofre e trabalha, de olhos voltados para a Divina Luz.
Do Alto descerão para o teu espírito as torrentes invisíveis das fontes celestes, e vencerás com valorosamente.
Por enquanto, a cruz ainda é o sinal dos aprendizes fiéis.
Se não tens contigo as marcas do testemunho pela responsabilidade, pelo trabalho, pelo sacrifício ou pelo aprimoramento íntimo, é possível que ames profundamente o Mestre, mas é quase certo que ainda não te colocaste, junto dele, na jornada redentora.
Abençoemos, pois, a nossa cruz e sigamo-lo destemerosos, buscando a vitória do amor e a ressurreição eterna.
NOSSA REFLEXÃO
A cruz, como pode-se entender, não é tão somente um símbolo de sacrifício, mas de sintonia, cumplicidade e generosidade com o Mestre, nas horas mais extremas de nossa vida. Aqui, ao falarmos Mestre, estamos tratando de seus escolhidos (Mateus, 25:40). O cirineu, um estrangeiro, como o samaritano, foi quem ofereceu a sua solidariedade a “um homem, que [...] caiu em poder de ladrões, que o despojaram, cobriram de ferimentos [...], deixando-o semimorto” (Lucas, 10:30). Isso mostra que aqueles foram iniciados pelo Mestre, como aqueles que Ele assistiu na doença do corpo ou da alma, sumiram. Voltamos à pergunta de Jesus, na Parábola do Bom Samaritano: “Qual desses três te parece ter sido o próximo daquele que caíra em poder dos ladrões?” (Mateus, 10: 36)[1].
Naquele momento agonizante, Pedro, o primeiro apóstolo, junto com seu irmão André, também, mesmo tendo sido alertado por Jesus que ele o ia negá-lo três vezes, não o assistiu[2].
Nesse momento extremo por que passa nosso planeta, com a pandemia da COVID-19, identificamos os cristãos que estão preocupados em assistir a si mesmo e aos desvalidos ou mais frágeis (o Mestre).
“Abençoemos, pois, a nossa cruz e sigamo-lo destemerosos, buscando a vitória do amor e a ressurreição eterna”.
Que Deus, nosso Mestre e seus prepostos nos ajudem.
Domício.

[1] Estas passagens evangélicas são interpretadas por A. Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XV (Fora da Caridade não há Salvação), Item 3.
[2] Veja a mensagem do Espírito Emmanuel e a nossa reflexão sobre essa circunstância em O fracasso de Pedro.

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