domingo, 24 de maio de 2020

O HERDEIRO DO PAI


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O HERDEIRO DO PAI
A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo.
Paulo (Hebreus, 1: 2).
Cede aos poderes humanos respeitáveis o que lhes cabe por direito lógico da vida, mas não te esqueças de dar ao Senhor o que lhe pertence.
Esta fórmula conciliadora do Evangelho permanece, ainda, palpitante de interesse para o bem-estar do mundo.
Não convém concentrar em organizações mutáveis do plano carnal todas as nossas esperanças e aspirações.
O homem interior renova-se diariamente. Por isso, a ciência que lhe atende as reclamações, nos minutos que passam, não é a mesma que o servia, nas horas que se foram, e a do futuro será muito diversa daquela que o auxilia no presente. A política do pretérito deu lugar à política das lutas modernas. Ao triunfo sanguinolento dos mais fortes ao tempo da selvageria sem peias, seguiu-se a autocracia militarista. A força cedeu à autoridade, a autoridade ao direito. No setor das atividades religiosas, o esforço evolutivo não tem sido menor.
Em vista de semelhantes realidades, por que te apaixonas, com tanta veemência, por criaturas falíveis e programas transitórios?
Os homens de hoje, por mais veneráveis, são herdeiros dos homens de ontem, empenhados na luta gigantesca pela redenção de si mesmos. Poderão prometer maravilhosos reinados de abastança e paz, liberdade e harmonia, entretanto, não fugirão ao serviço de corrigenda dos erros que herdaram, não só daqueles que os antecederam, no campo dos compromissos coletivos, mas igualmente de suas próprias experiências passadas, em tenebrosos desvios do sentimento.
A civilização de agora é sucessora das civilizações que faliram.
As nações que se restauram aproveitam as nações que se desfizeram.
As organizações que surgem na atualidade guardam a herança das que desapareceram na voragem da discórdia e da tirania.
Examinando a fisionomia indisfarçável da verdade, como hipertrofiar o sentimento, definindo-te, em absoluto, por instituições terrestres que carecem, acima de tudo, de teu próprio auxílio espiritual?
Como pode a casa sem teto abrigar-te da intempérie? A planta do arranha-céu, inteligentemente traçada no pergaminho, ainda não é a construção mantenedora da legítima segurança.
Não existem, pois, razões que justifiquem os tormentos dos aprendizes do Cristo, angustiados pelas inquietudes políticas da hora que passa. Semelhante estado de alma é simples produto de inadvertência perigosa. porque todos devemos saber que os homens falíveis não podem erguer obras infalíveis e que compete a nós outros, partidários do Mestre, a posição de trabalhadores sinceros, chamados a servir e cooperar na obra paciente e longa, mas definitiva e eterna. daquele a quem o Pai "constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo".
NOSSA REFLEXÃO
Eis uma reflexão que pode ser entendida como um chamado ao cuidado de não servir à coletividade, de modo político, como se nós, próprios, cristãos e espíritas, em particular, não pudéssemos ser políticos. Mas todo ensinamento, inclusive o do Cristo, não deve ser tomado como absoluto[i]. Sim, não devemos confiar absolutamente em homens falíveis, como Emmanuel nos fala. Mas, em nossa imperfeição, podemos agir, coletivamente em favor dos mais necessitados. Devemos contribuir com os processos políticos, mas não de forma idólatra a um Político ou partido político.[ii] No meu entender (assumo como particular e não como orientada espiritualmente) essa é uma das funções que o ser humano pode assumir numa sociedade democrática que chama os cristãos a se posicionarem silenciosamente, através do voto e que, muitas vezes, o fazem por pessoas totalmente indignas de ser confiável.
Não devemos fugir ao calor do debate político se a intenção dele é favorecer os desfavorecidos. Mas isso deve ser feito de forma pacífica. Entendo que isolar-se do debate político, significa, também, fugir do contato com os semelhantes nas lutas em favor de todos. Conforme Um Espírito Protetor,
Nenhuma caridade teria a praticar o homem que vivesse insulado. Unicamente no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais árduas é que ele encontra ensejo de praticá-la. Aquele, pois, que se isola priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de aperfeiçoar-se; não tendo de pensar senão em si, sua vida é a de um egoísta[iii].
Ninguém deve ser julgado por um posicionamento e ativismo político, desde que faça respeitosamente e de modo pacífico. Por que entender que todo Político é desonesto? Falível, mas não desonesto em sua essência. Quem generaliza, se coloca como perfeito. E isso não é cristão.
Como Emmanuel, diz, nesta mensagem, ora refletida,
A política do pretérito deu lugar à política das lutas modernas. Ao triunfo sanguinolento dos mais fortes ao tempo da selvageria sem peias, seguiu-se a autocracia militarista. A força cedeu à autoridade, a autoridade ao direito (grifos nossos).
Portanto, que todos se sintam confortáveis em silenciar-se ou se posicionar em relação ao que está posto ou ao que estão querendo pôr. Mas que o silêncio seja sincero, em estado de oração, sem julgamento de quem faz diferente e nunca compactuando com as injustiças sociais, inclusive votando em um Político totalmente sem condições morais e administrativas de exercer um cargo legislativo e que se sustenta em julgamentos penais parciais, mentiras, violências, preconceitos, etc., para vencer um pleito eleitoral.
Que sejamos cristãos, de todo modo.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[i] “7. Esta sentença: “Dai a César o que é de César”, não deve, entretanto, ser entendida de modo restritivo e absoluto. Como em todos os ensinos de Jesus, há nela um princípio geral, resumido sob forma prática e usual e deduzido de uma circunstância particular. (Allan Kardec in O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI, Item 7).
[ii] Entenda-se “Político”, com inicial maiúscula, como aquele que é filiado a um partido e exerce uma função na legislatura.
[iii] In: O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XII (Sede Perfeitos), Item 10.

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