domingo, 9 de junho de 2019

A CORTINA DO "EU"


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A CORTINA DO "EU"
Porque todos buscam o que é seu e não o que é do Cristo Jesus.
Paulo (Filipenses, 2 :21).
Em verdade, estudamos com o Cristo a ciência divina de ligação com o Pai, mas ainda nos achamos muito distantes da genuína comunhão com os interesses divinos.
Por trás da cortina do "eu", conservamos lamentável cegueira diante da vida.
Examinemos imparcialmente as atitudes que nos são peculiares nos próprios serviços do bem, de que somos cooperadores iniciantes, e observaremos que, mesmo aí, em assuntos da virtude, a nossa percentagem de capricho individual é invariavelmente enorme.
A antiga lenda de Narciso permanece viva, em nossos mínimos gestos, em maior ou menor porção.
Em tudo e em toda parte, apaixonamo-nos pela nossa própria imagem.
Nos seres mais queridos, habitualmente amamos a nós mesmos, porque, se demonstram pontos de vista diferentes dos nossos, ainda mesmo quando superiores aos princípios que esposamos, instintivamente enfraquecemos a afeição que lhes consagrávamos.
Nas obras do bem a que nos devotamos, estimamos, acima de tudo, os métodos e processos que se exteriorizam do nosso modo de ser e de entender, porquanto, se o serviço evolui ou se aperfeiçoa, refletindo o pensamento de outras personalidades acima da nossa, operamos, quase sem perceber, a diminuição do nosso interesse para com os trabalhos iniciados.
Aceitamos a colaboração alheia, mas sentimos dificuldade para oferecer o concurso que nos compete.
Se nos achamos em posição superior, doamos com alegria uma fortuna ao irmão necessitado que segue conosco em condição de subalternidade, a fim de contemplarmos com volúpia as nossas qualidades nobres no reconhecimento de longo curso a que se sente constrangido, mas raramente concedemos um sorriso de boa vontade ao companheiro mais abastado ou mais forte, posto pelos Desígnios divinos à nossa frente.
Em todos os passos da luta humana, encontramos a virtude rodeada de vícios e o conhecimento dignificante quase sufocado pelos espinhos da ignorância, porque, infelizmente, cada um de nós, de modo geral, vive à procura do "eu mesmo".
Entretanto, graças à Bondade de Deus, o sofrimento e a morte nos surpreendem, na experiência do corpo e além dela, arrebatando-nos aos vastos continentes da meditação e da humildade, onde aprenderemos, pouco a pouco, a buscar o que pertence a Jesus Cristo, em favor da nossa verdadeira felicidade, dentro da glória de viver.
NOSSA REFLEXÃO
A boa vontade e os préstimos, pelo simples prazer de servir, são o que nos diferencia dentre todos que se candidatam à seara do Cristo. Toda oportunidade de trabalho nos possibilita aprender com o companheiro alistado na mesma hoste. Todavia, como Emmanuel nos alerta, nessa mensagem, ora em reflexão, também é oportunidade de aprender com Jesus, pois se revela o encontro conosco mesmo, onde, de maneira geral, tendemos a nos realçar diante dos demais.
No trabalho cristão ou profissional, ou mesmo voltado para o lazer, sejamos tal aquele que tão somente quer ajudar ao dispor sua experiência para que tudo dê certo. Pode ser que nossa ideia não seja a melhor e o trabalho, ou diversão, seja tão bom se norteado por outras ideias.
Na Casa espírita, nosso compromisso com o Mestre é maior ainda. Não devemos entrar em contendas calorosas por causa de direcionamentos do trabalho que não é nosso. Lembremos que não estamos a sós e o que o Mestre se encontra entre nós, como também o Mentor da Casa e seus colaboradores.
Em verdade, quando o nosso Eu se revelar fortemente, basta lembrarmos, como espíritas, de O Espírito de Verdade em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, Item 5:
Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos e unamos os nossos esforços, a fim de que o Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubestes impor silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí não viesse dano para a obra!”

Que Deus nos ajude.
Domício.

Um comentário:

  1. NOSSO “EU” (Meimei)

    Nosso “eu” é uma concha de trevas que não nos deixa perceber senão a nós mesmos.
    Espelho mentiroso, que a vaidade forja na esfera acanhada de nosso individualismo, reflete exclusivamente os nossos caprichos e nossos desejos, impedindo a penetração da luz.
    Aí dentro, nossas dores, nossas conveniências e nossos interesses, surgem sempre exagerados, induzindo-nos à cegueira e ao isolamento.
    Mas o Senhor, que compadece de nossas necessidades, concede-nos, com a cruz de nossas obrigações diárias, o instrumento da libertação. Suportando-a com fé e valor, entre os dons da confiança e as bênçãos do trabalho, crucificamos, cada dia, uma parcela de nossa personalidade inferior, a fim de que nosso espírito – gema preciosa e eterna dos tesouros de Deus – possa ser lapidado para a imortalidade gloriosa.

    Extraída de “Relicários de luz” (Espíritos diversos – psicografia de Chico Xavier – FEB)

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