domingo, 5 de agosto de 2018

ESMOLA


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ESMOLA
Dai antes esmola do que tiverdes.
Jesus (LUCAS, 11:41).
A palavra do Senhor está sempre estruturada em luminosa beleza que não podemos perder de vista.
No capítulo da esmola, a recomendação do Mestre, dentro da narrativa de Lucas, merece apontamentos especiais.
"Dai antes esmola do que tiverdes."
Dar o que temos é diferente de dar o que detemos.
A caridade é sublime em todos os aspectos sob os quais se nos revele e em circunstância alguma devemos esquecer a abnegação admirável daqueles que distribuem pão e agasalho, remédio e socorro para o corpo, aprendendo a solidariedade e ensinando-a.
É justo, porém, salientar que a fortuna ou a autoridade são bens que detemos provisoriamente na marcha comum e que, nos fundamentos substanciais da vida, não nos pertencem.
O Dono de todo o poder e de toda a riqueza no Universo é Deus, nosso Criador e Pai, que empresta recursos aos homens, segundo os méritos ou as necessidades de cada um.
Não olvidemos, assim, as doações de nossa esfera íntima e perguntemos a nós mesmos:
Que temos de nós próprios para dar?
Que espécie de emoção estamos comunicando aos outros?
Que reações provocamos no próximo?
Que distribuímos com os nossos companheiros de luta diária?
Qual é o estoque de nossos sentimentos?
Que tipo de vibrações espalhamos?
Para difundir a bondade, ninguém precisa cultivar riso estridente ou sorrisos baratos, mas, para não darmos pedras de indiferença aos corações famintos de pão da fraternidade, é indispensável amealhar em nosso espírito as reservas da boa compreensão, emitindo o tesouro de amizade e entendimento que o Mestre nos confiou em serviço ao bem de quantos nos rodeiam, perto ou longe.
É sempre reduzida a caridade que alimenta o estômago, mas que não esquece a ofensa, que não se dispõe a servir diretamente ou que não acende luz para a ignorância.
O aviso do Instrutor Divino nas anotações de Lucas significa: dai esmola de vossa vida íntima, ajudai por vós mesmos, espalhai alegria e bom ânimo, oportunidade de crescimento e elevação com os vossos semelhantes, sede irmãos dedicados ao  próximo, porque, em verdade, o amor que se irradia em bênçãos de felicidade e trabalho, paz e confiança, é sempre a dádiva maior de todas.
NOSSA REFLEXÃO
Neste mundo de provas e expiações, sempre estamos sendo convidado a nos desprender de bens materiais em favor dos que nos rodeiam e nos procuram para mitigar a fome, o frio, entre outras necessidades. Já nos sensibilizamos, no atual estágio espiritual, às necessidades materiais de nossos irmãos carentes. Isto já é um salto. Todavia, Jesus nos chama a atenção para o que de fato temos de nosso. E Emmanuel nos esclarece, mais detidamente sobre as nossas reais propriedades. Sobre isso, o Espirito Isabel de França nos esclarece, também:
A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo[1].
O Espírito Cáritas corrobora com Isabel de França quando nos chama a atenção para o significado da palavra/ação “esmola”:
Várias maneiras há de fazer-se a caridade, que muitos dentre vós confundem com a esmola. Diferença grande vai, no entanto, de uma para outra. A esmola, meus amigos, é algumas vezes útil, porque dá alívio aos pobres; mas é quase sempre humilhante, tanto para o que a dá, como para o que a recebe. A caridade, ao contrário, liga o benfeitor ao beneficiado e se disfarça de tantos modos! Pode-se ser caridoso, mesmo com os parentes e com os amigos, sendo uns indulgentes para com os outros, perdoando-se mutuamente as fraquezas, cuidando não ferir o amor-próprio de ninguém[2].
Conforme Emmanuel, concordando com os Espíritos aqui citados, a melhor esmola é a que damos do que espiritualmente temos, que verdadeiramente nos pertence. Ele, nesta mensagem, nos faz refletir quando nos diz que “dar o que temos é diferente de dar o que detemos”.
Não significa que devemos desprezar a esmola material, mas que devemos evoluir nos exercitando a dar esmola moral do que já adquirimos. Sobre isso, a Irmã Rosália diferencia bem para nós:
(...) Desejo compreendais bem o que seja a caridade moral, que todos podem praticar, que nada custa, materialmente falando, porém, que é a mais difícil de exercer-se. A caridade moral consiste em se suportarem umas às outras as criaturas e é o que menos fazeis nesse mundo inferior, onde vos achais, por agora, encarnados. Grande mérito há, crede-me, em um homem saber calar-se, deixando fale outro mais tolo do que ele. É um gênero de caridade isso. Saber ser surdo quando uma palavra zombeteira se escapa de uma boca habituada a escarnecer; não ver o sorriso de desdém com que vos recebem pessoas que, muitas vezes erradamente, se supõem acima de vós, quando na vida espírita, a única real, estão, não raro, muito abaixo, constitui merecimento, não do ponto de vista da humildade, mas do da caridade, porquanto não dar atenção ao mau proceder de outrem é caridade moral. Essa caridade, no entanto, não deve obstar à outra (...)[3].
Que possamos ser caridosos do modo mais amplo possível.
Que Deus nos ajude.
Domício.


[1] Vide na íntegra a mensagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo (Trad. Guillon Ribeiro, FEB, 2013), Cap. XI, Item 14.
[2] Vide na íntegra a mensagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XII, Item 14.
[3] Vide na íntegra a mensagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII, Item 9.

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